Até a unificação dos povos do vale do rio Nilo e o surgimento das dinastias dos faraós (3.000 a.C.), existiam no Egito vários grupos autônomos, com seus próprios deuses e cultos. As lendas afirmam que existiram 20 dinastias, durante 2 mil anos (desde cerca de 5.000 a.C.), em que reinaram os “filhos de Deus”, sucessores das Dinastias Divinas, iniciadas há 210 mil anos atrás (vide adiante na Parte II).
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Durante o período dinástico (até 332 a.C.) os egípcios são “politeístas”. Os faraós eram considerados personificações dos deuses e os sacerdotes constituíam uma casta culta e de grande poder político. Quando os Hicsos, invasores asiáticos às vezes conhecidos como Reis pastores (Hic: rei e Sos : pastor), dominaram o norte do Egito (1.674-1.580 a.C.) e estabeleceram a XV dinastia, que durou mais de um século, o sacerdócio egípcio se retirou aos seus santuários. Nessa época os sacerdotes difundiram os vários mitos e lendas, escondendo ao povo sua verdadeira teogonia nos Mistérios egípcios. Nos templos das escolas de Mistérios, que só os iniciados e neófitos (candidatos) tinham acesso, o pouco que se sabe provém de escritos por Plutarco (46-124) e Heródoto (484-420), entre outros.
No Novo Império, apogeu da civilização também na religião, o primeiro Faraó a dirigir uma representação dos mistérios foi Ahmosis I, que reinou de 1.580-1.557 a.C., sucedido por Amenófis I, Thutmosis I e sua filha Hatshepsut. Mas foi Thutmosis III (1.500-1.447 a.C.) quem organizou a Fraternidade secreta nos moldes da atualidade. Em virtude da constante ameaça e ambição das nações vizinhas, e das constantes guerras, permitiu ao povo se entregar a crenças fantasiosas e idólatras, como meio de estímulo e como forma de preservar sua teogonia de uma perda definitiva e irreversível. Uma alteração nos fundamentos da religião, para o povo, não era necessária nem aconselhável naquele momento. Como meio de preservar o desenvolvimento e preservação da Sabedoria, propôs que as reuniões nas câmaras se tornassem fechadas e secretas. Seguiram-no Amenófis II, seu filho com Hatshepsut, Thutmosis IV e Amenófis III, seu neto e bisneto. Amenófis IV, filho de Amenófis III, foi o último Grande Mestre, coroado em 1.367 a.C. com apenas 11 anos de idade. Construiu o templo em Lúxor e aumentou o de Karnak e, plenamente instruído na filosofia secreta, teve a inspiração de abolir a adoração de ídolos e introduzir a adoração ao único Deus supremo, que “existia por toda parte, em todas as coisas, mas que não era coisa alguma da Terra”, cujo espírito estava “nos Céus” e cuja manifestação física era o Sol (símbolo da vida), instituindo o monoteísmo no Egito no culto a Aton. A reforma iniciou-se no quinto ano de seu reinado e sua religião durou como oficial até sua morte em 1.350 a.C.. Mudou o seu nome para Akenaton (devoto ou Glória a Aton), construiu uma nova capital religiosa, Tebas (hoje conhecida como Amarna), e lá ergueu um templo em forma de cruz introduzindo a cruz e a rosa como símbolos religiosos. Junto com sua esposa, Nefertiti, transformou a arte egípcia, introduzindo a “descrição viva e amorosa da natureza e da felicidade doméstica”.
Esse panorama histórico mostrava um Egito de elevadas e puras doutrinas escondido por detrás de seu aparente politeísmo externo. Pode-se ver inscrito em seus templos: Nuk ou Nuk – Sou aquele que Sou. A história cita a existência de um personagem cujo nome designava um homem, uma casta e um Deus. Esse personagem tinha o nome de Hermes, chamado pelos gregos de Hermes Trismegisto, o três vezes grande – Rei, legislador e sacerdote.
Supõe-se que Hermes tenha vivido pelo ano 2.700 a.C., e a tradição afirma que viveu 300 anos. Essa mesma lenda diz que da Índia, Pérsia, Mesopotâmia, China, Japão, Assíria e da antiga Grécia e Roma vieram muitos mestres avançados prostrarem-se aos seus pés, em busca do conhecimento. Já a ordem Rosa-Cruz afirma que Hermes, nascido em 1.399 a.C., sucedeu a Amenófis IV como Mestre vivendo 142 anos. Tão grande a sua sabedoria e tão místicos os seus escritos que se tornou um mito.
Segundo São Clemente de Alexandria (150-215), Hermes seria autor, ou inspirador de 42 livros: 36 conteriam a ciência dos egípcios e os restantes conhecimentos de medicina. Entre as obras atribuídas a Hermes, e copiladas a partir do século III d.C., pode-se citar: a Tábua de Esmeralda, o Corpus hermeticum do século VI d.C., Pistis Sophia, o Poimandres (Pastor de Homens) e o Kratere do século III d.C., o Asclépios, o Koré kosmou (Virgem do mundo) e o Liber Hermetis (Livro de Hermes).
Seus ensinamentos eram passados secretamente dos Hierofantes (termo derivado do grego hierofani, que significa “algo sagrado está sendo revelado”), Adeptos e Mestres a seus discípulos. Foi deificado pelos egípcios sob o nome de Thoth, o mensageiro dos deuses.
Ensinou sete princípios conhecidos como Princípios Herméticos (Cf. Caibalion):
Apesar da pureza desses ensinamentos, às massas foram criados, ao longo das dinastias, 45 deuses ou divindades, sendo o principal o deus-sol (Rá). Com vários nomes, era representado por diferentes símbolos: Aton, o disco solar; Hórus, o Sol nascente. Os outros deuses permaneciam, mas em segundo plano, e as diferentes cidades mantinham suas divindades protetoras (à semelhança dos santos padroeiros cristãos). Não tinham permissão de freqüentar os templos, exclusivo aos sacerdotes, nem tinham conhecimento da teologia, restringindo o seu culto à veneração de imagens de antepassados, ou de alguma divindade menor, e diversas superstições incluindo o uso de amuletos. Vários historiadores têm o ponto de vista de que o povo considerava as divindades como manifestações ou aspectos de uma divindade primordial. A famosa procissão da estátua de Amón-Rá, a divindade do céu que morava no santuário interno do templo de Karnak, onde participavam o faraó e os sacerdotes de Amon, até o templo de Lúxor, três quilômetros adiante, onde era submetida a ritos secretos, presididos pelo próprio faraó, como meio de renovar o seu corpo etéreo, era uma das mais importantes à época de Ramsés II.
Nas últimas dinastias difunde-se o culto a Ísis, deusa da fecundidade da natureza, e a Osíris, deus da agricultura, que ensina as leis aos homens. Os mitos mais difundidos eram:
O Livro dos Mortos era uma coleção de feitiços, hinos e orações que pretendiam afiançar a passagem segura e curta do falecido ao outro mundo. O pergaminho de Nevolen relata o transporte da alma até o Tribunal de Osíris, o deus dos mortos. O papiro de Nes-min mostra o que acontece com a alma após entrar no Tribunal, o qual determina o mérito do morto para entrar na próxima vida, avaliando suas ações no plano terrestre.
Consideravam o homem um ser setenário composto de um corpo material (Chat), a força vital (Anch), o duplo etérico ou corpo astral (Ka), uma alma animal (Hati), uma alma racional (Bah), uma alma espiritual (Cheibi) e um espírito divino (Ku), sendo que o homem só tinha consciência até a sua alma racional (Bah). Quando um homem morria as suas várias almas libertavam-se e assumiam a forma de um pássaro com cabeça humana. Quanto aos eleitos (Faraós, Hierofantes, nobres, etc.), o povo acreditava que as suas almas viravam as estrelas do céu. Segundo o rei Merikara: “O importante é que o homem sobrevive depois da morte e seus feitos o acompanham até o final. A existência ali embaixo é para toda a eternidade”.
Consideravam também que, assim como o coração é o Altar, o corpo é o Templo de Bah. Portanto, devia ser preservado até a entrada do “morto” pelo terceiro portal do Amenti, até a entrada em Amduat (“Reino dos Mortos” ou plano Astral – ver no volume 2). Acreditavam nas palavras, tanto faladas quanto escritas, como dotadas de uma força mágica.
Era incumbência da “Casa da Morte”, o embalsamamento e mumificação do corpo, num processo iniciático complexo que incluía banhos com ungüentos e essências aromáticas, unções alquimicamente preparadas (o Egito foi o berço da Alquimia) e entoação de mantras (orações ou sílabas sagradas) para cada parte do corpo. Este processo durava cerca de setenta dias que, segundo a filosofia e religião egípcia, era o tempo médio necessário para que o indivíduo “despertasse” e se conscientizasse de sua nova condição no “Reino dos Mortos”. Isto mantinha o corpo etérico (Ka) ainda “preso” para que a consciência tivesse uma espécie de “referência” em relação ao plano físico sem ser molestado pelos umbrais inferiores.
Os sarcófagos também eram preparados uma vez que funcionavam como verdadeiras caixas orgânicas, dificultando, de uma certa forma, a rápida “volatilização” do corpo etérico (em muitos sarcófagos, conseguiu-se mensurar padrões de freqüência vibratória elevados em escala radiônica, semelhante às linhas geomagnéticas de Hartmman e de Curry, que traduzem os canais de força telúrica que “vascularizam” energeticamente a Terra).
Nas “Casas da Vida” (Templos Iniciáticos, “Universidades” e etc., cujo objetivo final era o Deus único, o Criador), eram ministrados os princípios da Vida, invocação e manipulação das forças da Natureza (elementais), além de princípios sagrados dentro de sua medicina, alquimia (aspecto transmutador tanto físico quanto mental), arquitetura, engenharia, geografia, astronomia/astrologia (que eram uma só ciência), geometria, matemática, etc.. Tanto a “Casa da Vida” quanto a “Casa da Morte”, serviam à “Casa do Faraó”.