Fundamentado nas teorias do inconsciente freudiana e junguiana, a Psicoterapia através de Expansão da Consciência foi desenvolvida a partir de diversas técnicas da Psicologia Clássica, da Psicologia Junguiana e da Psicologia Transpessoal.
O cerne desse trabalho é explicado, neste texto, pela psicoterapeuta Isis Dias Vieira: buscar a conexão da consciência do presente com as memórias conscientes e inconscientes do passado, referentes a etapas fundamentais da existência da pessoa – infância, nascimento e vida fetal.
Através de um enfoque holístico, essa conexão é feita utilizando-se técnicas de expansão de consciência, tais como relaxamento profundo, imaginação ativa, regressão e técnicas respiratórias.
Morremos e renascemos a cada instante, pois a vida na Terra nada mais é que renovação constante. No universo tudo é vibração, é ritmo, é pulsação, é transformação, é criação permanente, num eterno movimento de abrir e fechar, de vai e vem, de expansão e contração, de inspiração e expiração, enfim, de respiração que renova a vida a todo momento.
Como microcosmo, como a gota que reflete todo o oceano cósmico, o homem participa, conscientemente ou não, dessa dinâmica da vida. E tudo começa com o "sopro", com a primeira respiração, com o nascimento.
Sopro é "espíritus" em latim, "rouach" em hebreu e "pneuma" em grego, significando ao mesmo tempo sopro de ar, sopro vital e espírito. Sendo um fenômeno essencial da vida, é através dele que o homem começa sua caminhada individual na Terra. A vida no útero materno, bem como o nascimento, constituem os primeiros instantes de um Ser na Terra. Por isso, tudo tem um sentido profundo nesse mundo que é o ventre materno e esse ponto de partida vai condicionar toda a vida do ser que vai nascer.
Tudo tem um sentido profundo nesse mundo que é o ventre materno
As pesquisas sobre o nascimento e a vida fetal realizadas no mundo inteiro há mais de três décadas, sobretudo as de Leboyer, Tomatis e S. Grof, comprovam que o feto, desde o ventre materno, tem uma consciência. Vivendo em osmose com a mãe, ele se emociona e chora, percebe e capta os sons exteriores, sendo capaz de identificá-los depois do nascimento. Isto significa que, se choques físicos, emocionais ou psicológicos perturbam a mãe durante a gravidez, o bebê vai senti-los e isto pode inscrever nele um desequilíbrio capaz de gerar, durante a infância ou mais tarde, distúrbios que perturbem seu funcionamento no mundo exterior. Por isso, sabe-se que a vida fetal é uma energia espaço-temporal que contém em germe, em potencial tudo o que a pessoa é e como ela reage diante da vida.
Também, tenho observado ao longo desses 10 anos de experiência clínica em Psicoterapia, utilizando técnicas de Expansão de Consciência, que o modo como se nasce (prematuro, cesariana, peridural, fórceps, sentado, cordão umbilical enrolado no pescoço ou no pé...) corresponde a maneiras bem particulares de se chegar a esse mundo e isto, contrariamente ao que se pensa, tem suas conseqüências em como a pessoa funciona em sua vida cotidiana, quanto à maneira de viver seu corpo, suas emoções, seu psiquismo e seu espírito, no trabalho, nas relações afetivas, etc.
Padrões de Comportamento
Nossas pesquisas, ainda não conclusivas, têm confirmado as conclusões de Grof, demonstrando que pessoas nascidas por cesariana revelam, em geral, certa dificuldade de decisão e execução, isto é, muitas vezes são capazes de decisão interna, mas para executá-la necessitam ser freqüentemente estimuladas. Ficam esperando acontecer, isto é, que alguém as retire do "útero", sobretudo quando se trata de documentos, papéis ou coisas ligadas à organização da vida cotidiana, ou de decisões que signifiquem mudanças relacionadas à sua própria vida, como profissão, trabalho, relacionamentos, etc..
Os prematuros, ao contrário, são apressados e reclamam de agitação e inquietação interna. É-lhes difícil aceitar o tempo linear e as limitações do mundo material. Por isso, em geral tentam queimar etapas. Em geral, são impacientes e revelam dificuldade de permanência em relacionamentos afetivos. É-lhes difícil permanecer no "útero".
No caso de cordão umbilical enrolado no pescoço, além dos efeitos de cesariana citados acima, a pessoa terá que enfrentar o medo da morte a cada passagem, a cada mudança em sua vida, a cada decisão a ser tomada. É como se seu inconsciente lhe dissesse: "Se você se mexer, você morre". É como se ela estivesse permanentemente com uma "corda no pescoço". Quando o cordão vem enrolado no pé, a pessoa, nas situações citadas anteriormente, sempre se sente presa, amarrada, tendo dificuldade em avançar de alguma maneira.
No caso de parto peridural, a criança deverá nascer sozinha, com seus próprios esforços, sem a participação da mãe. Os adultos a aguardam como se ela fosse um pacote e não uma consciência. E o sentimento de abandono é a conseqüência mais freqüentemente encontrada. A pessoa vive sua vida como se não pudesse contar com ninguém.
Em todos os casos, o papel dos pais no relacionamento afetivo com o filho é muito importante, sobretudo o da mãe, pois ela deverá compensar, o que a criança não pôde viver na vida fetal e no nascimento. A cada passagem importante da vida do filho, a mãe deverá "pari-lo", isto é, ajudá-lo a nascer.
Através da Regressão à Vida Fetal, é possível fazer vir à tona essas memórias inscritas no inconsciente, ajudando a pessoa a reviver seu nascimento tal como ele aconteceu, bem como viver as etapas que lhe faltaram - no caso do prematuro, os meses que faltaram e, no caso de cesariana, passagem pelo parto normal, ou desfazer-se do "cordão vibratório" que a prende, da "pressa em sair do útero", do abandono, através de seu próprio esforço e de maneira consciente.
Tal revivência ajuda a pessoa a compreender de maneira profunda o significado disso em sua vida, seus esquemas repetitivos, podendo libertar-se das cargas negativas que a prendem ao passado, impedindo-a de ser feliz. Isso envolve um intenso trabalho de ajuda emocional, psicológica e espiritual, bem como de um grande esforço pessoal determinado pelo desejo de libertação.
Através da compreensão dessas memórias, as cargas emocionais que se formaram desde o começo da vida e que foram sentidas como negativas porque foram dolorosas, podem ser compreendidas, restabelecendo-se um equilíbrio para o presente e o futuro.
Vivendo sua evolução terrestre através de uma visão fragmentada, dominada pelo peso de seus desejos e de seus medos, o homem percebe a vida como uma seqüência de acontecimentos ao acaso que o conduzirá à morte. Entretanto, o ser humano evolui desde o útero materno até o fim da vida, seguindo uma lógica necessária à sua evolução e à sua própria liberação. Por isso, através da compreensão das etapas que marcam nossa evolução: Adolescência - Infância – Nascimento – Vida fetal, podemos reencontrar o fio que nos conduzirá à nossa luz interior, que brilha muito além do ciclo ilusório de nossa consciência material.
Toda a metodologia de Regressão à Vida Fetal, ao Nascimento, à Infância e à Adolescência é desenvolvida em 3 etapas. Dentro de um enfoque global e, considerando-se a perspectiva linear do tempo, a pessoa é ajudada a retomar sua auto-consciência a partir do momento atual, regressivamente, até o momento da sua concepção. Na duas primeiras etapas são trabalhadas as energias parentais relacionadas à adolescência, à infância e ao nascimento. Nessas etapas, a metodologia objetiva o despertar das memórias cinestésicas e emocionais da pessoa. Na primeira etapa, técnicas especiais possibilitam a revivência de situações de relacionamento com os pais a partir da idade adulta até à adolescência e na segunda etapa, a revivência de acontecimentos que marcaram a infância e o nascimento. Na terceira etapa são trabalhadas as energias da vida uterina e da concepção, bem como os reflexos desse período em toda a vida da pessoa.
Nas duas últimas etapas, onde são trabalhadas especificamente as memórias do nascimento e da vida fetal, são recriadas as situações e as condições do parto e do útero materno, através de técnicas especialmente concebidas para esse fim. Diferentes técnicas originais que facilitam a expressão e a compreensão da linguagem do corpo, são utilizadas para liberar energias e emoções relacionadas aos pais e ao nascimento, para reviver através do corpo o desejo ou a recusa do nascimento, bem como a travessia uterina e a "ancoragem" no ventre materno.
A revivência das memórias conscientes e inconscientes e a ajuda psico-espiritual que a pessoa recebe em todas essas etapas, possibilitam alívio físico e emocional graças ao desbloqueio e liberação das cargas negativas, mas sobretudo compreensão das memórias afetivas que constituem a estrutura psicológica do indivíduo. Uma vez livre, a pessoa se abre ao seu potencial interior de amor, intuição e criatividade – elementos básicos de expressão da inteligência da totalidade.