A Impermanência

Nós, seres humanos, não estamos acostumados em perceber a sucessão dos eventos da natureza, o movimento da vida, a dinamicidade do cosmo, a sucessão dos dias, a nossa  própria transformação. E isto nos coloca em uma espécie de torpor, ou mesmo, nos anestesia e coloca uma viseira que nos tira a capacidade de ver as coisas como elas realmente são.

 



 Não quero aqui mostrar o lado negativo ou mesmo positivo mas, serei o mais realista possível diante de minhas explicações.

Se pararmos um pouquinho em nossa vida tão corrida e tentarmos observar cada coisa, seja ela ser vivo ou não, percebemos uma gradativa mudança. Algo a faz mudar, às vezes rápido, em outras lentas, mas sempre mudando. Quando o processo é rápido percebemos com facilidade, e quando é lento temos dificuldade de percebe-las – e essa dificuldade em percebermos a sucessão das coisas é que nos mantêm alienados diante da vida. Achamos que tudo é permanente ou que nunca muda, ou mesmo, ficamos em uma atitude de menosprezo para com a essência. Com isso, deixamos de apreciar a capacidade de perceber a vida como algo único – e ainda, por termos a “certeza” de que o sol vai nascer e se pôr todos os dias naquele mesmo local nos dá idéia de um evento repetitivo, o que nos leva a  uma falsa premissa. Tiramos conclusão da vida sem nem saber o que realmente é a vida. Essa maneira alienada de ver o mundo nos torna “vivos-mortos” passando pela existência sem senti-la em sua plenitude. Daí assumimos posturas errôneas diante desse processo dinâmico. Classificamos os acontecimentos como monótonos – “quando os acontecimentos se repetem” ou maravilhosos quando as coisas acontecem do nosso modo. Nossa visão alienada nos distancia do caminho da plenitude do momento presente e nos coloca em um mar de evento que já passou ou que irá passar( passado e futuro). Essa alienação consome toda nossa energia e nos mantém iludidos em um mundo de sonhos fora dos padrões verdadeiros de existência – posso assim dizer que estamos em uma Matrix, em se fazendo alusão ao filme com este nome. Essa visão distorcida nos corrompe e coloca barreiras na nossa percepção aponto de não percebemos que estamos  passando por este planeta e, mais cedo ou mais tarde, teremos que deixá-lo; não percebemos que nossos pais poderão deixar de existir a qualquer momento; que cada dia é um novo dia; não percebemos que tudo – absolutamente tudo – é impermanente; não percebemos que não há um porto seguro que consigamos nos apoiar pois, tudo que for matéria está sujeito a lei universal do dinamismo da transformação. Deixamos de nos embelezarmos com o raiar de um novo dia; devemos perceber as pessoas, de todo o planeta, como seres únicos em sua essência, jamais existira uma pessoa igual à outra nesse planeta, jamais passaremos uma segunda vez por este corpo, jamais existirá uma experiência igual à outra. Tudo é único e todas as coisas se desfazem, tudo tem seu tempo para existir e deixar de existir. Quando internalizarmos isso seremos livres. Livres do apego, do querer segurar o fluxo do universo, do querer tudo ao nosso modo, das correntes que nos prendem e que impedem de ver as transformações das coisas, livre para perceber que nem tudo é felicidade ou tristeza, mas sim,  manifestação  do cosmo em nossas entranhas. Quando deixarmos de querer seguranças  para nós e para as coisas que nos rodeiam saberemos que estamos em consonância com o momento presente. O presente é tudo que temos, e é nele que devemos nos concentrar, mas não agarrar, pois este também é impermanente.

 

”…Entender os mistérios quase sempre requer um encontro com o medo e o reconhecimento que a realidade última do universo não é assim tão bonita, bem-arrumada e sob controle humano” (Carol S. Peanrson – O despertar do herói interior)

 

“Sem desistir da esperança – de que há um lugar melhor para estar, de que há alguém melhor para ser – nunca relaxaremos onde estamos ou naquilo que somos”(Pema Chödrön – monja budista – livro: Quando Tudo Se Desfaz)

 

“No mundo da esperança e do medo, sempre teremos que mudar de canal, ajustar a temperatura ou procurar outra música, porque algo está se tornando desconfortável, algo está se tornando inquieto, algo está começando a doer, e nós  continuamos a procurar alternativas.(…) Esperança e medo surgem porque sentimos que nos falta algo, de um sentimento de carência. Não conseguimos simplesmente relaxar em nós mesmos. Agarramos a esperança e ela nos rouba o momento presente”

 

“Mas se experimentarmos completamente a desesperança, desistindo de qualquer expectativa de alternativa para o momento presente, poderemos ter uma relação prazerosa com nossa vida, uma relação honesta e direta, que não mais ignora a realidade da impermanência…”(Pema Chödrön).

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