A Realidade

2. A CLARA LUZ

No progredir do sono, a mente (o corpo causal) separa-se da psique (corpo astral) e pode viver o sono sem sonhos, atravessando o vazio e entrando no mundo causal de luz, necessário para que o nosso “Eu superior” se nutra energeticamente de “Luz”. Os tibetanos chamam esse estado de “clara luz”, pois as pessoas que se lembram desse mundo se lembram apenas de ter visto uma luz.

Hoje já há evidências científicas suficientes da importância crucial do sono sem sonhos em nossa vida física. A privação total do sono, com raríssimas exceções, leva à morte após vários meses, enquanto, ao contrário, sete horas de sono por noite correspondem a um tempo maior de vida. É no sono não-REM, livre de sonhos, em que o baixo índice do metabolismo proporciona com que enzimas, antes ocupadas com a manutenção das membranas celulares, agora se encarreguem do reparo das lesões das membranas celulares causadas por radicais livres que foram gerados em momentos de grande metabolismo (vigília).

A negação cética da existência dessas outras realidades, tão reais quanto a vigília, se deve ao fato dessa experiência ser pessoal, ao acaso, mas que pode ser plenamente controlável através de algumas técnicas. Por exemplo, se praticarmos técnicas de relaxamento, até entrarmos num estado de relaxamento profundo, hipnose ou técnicas de regressão, entraremos no mundo astral plenamente conscientes. Experimentaremos “sonhar” plenamente acordados.

Viver consciente nessas três realidades, passando de uma a outra à vontade, nos traz a libertação descrita pelos budistas. Isso significa trazer à consciência física, a existência de três corpos presentes no homem, cada um responsável pelo “viver” em três mundos diferentes e reais dentro da ilusão da Criação: o mundo físico das sensações (Nirmanakaya budista), o mundo astral das emoções e pensamentos (Sambhogakaya budista) e o mundo causal de luz (Dharmakaya budista).

Para os tibetanos, tanto as experiências vividas no mundo vigil quanto as vividas no onírico são ilusórias. Mas a manifestação do Absoluto, o sonho de Vishnu com seus inúmeros mundos, é a realidade relativa em que vivemos. Não são realidades diferentes, mas diferentes formas da mesma realidade num continuum inseparável e, por isso mesmo, interdependentes. O valor de cada realidade é ditado por nossa mente. A mente humana individual é a responsável por atribuir valores a coisas que não tem valor individualmente, mas que só têm valor se consideradas em seu conjunto. A doença humana (física, psíquica e espiritual) vem à existência quando a mente humana começa a separar as realidades e apegar-se, querer viver e valorizar a apenas uma delas.

“A vida é uma sala de projeções mental, macroscópica, onde se passam os sonhos – ilusões de Maya – que se dissolvem no estado vigil da sabedoria suprema… Assim como um sonho desaparece quando a pessoa é acordada, assim, também, este sonho cósmico se dissolve quando o devoto une sua consciência com a perpétua vigília de Deus”  102:139.

Paramahansa Yogananda (1.893-1.952)

Desde que ainda precisemos de comida, sono e meios de obtê-los (trabalhar e lutar), temos de nos empenhar em fazer o melhor. Viver essa realidade. Rotular a vida física como um sonho vazio, sem que se tenha qualquer real percepção da verdade, é o mais crasso erro que se pode cometer. “Se sonhar for necessário, então faça do drama da vida um belo sonho”  102:139 (Paramahansa Yogananda).

É lógico que a realidade última, o Absoluto, não está manifestada. Mas há, por detrás da dimensão hárica do corpo causal, a dimensão mais profunda da manifestação, o nosso âmago. Em verdade é o nosso âmago quem tem o propósito de vida, quem tem a intenção. Não é a personalidade, nem nenhum nível da aura e muito menos a dimensão da intencionalidade quem tem a intenção. Ela provém de nosso Eu mais profundo e fica registrada no nível hárico de onde vem a causa da manifestação áurica e física. A dimensão do conhecedor: Aquele que é o que é, o que foi e o que sempre será, a fonte interna do divino 10:483.

“Embora eu compreenda que… o âmago está em toda a parte, a concentração… no centro do corpo… parece emitir uma luz brilhante [como uma estrela], que é constituída de várias cores… [e] é ao mesmo tempo o Deus individuado dentro de nós e o Deus Universal… A essência do âmago se expressa… nos lugares da sua intenção, nos campos de energia da sua vida, no seu corpo físico e na sua vida; ela se expressa mais plenamente nos lugares em que você está saudável e feliz”  10:484.

Barbara Ann Brennan

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