Extraído de Azevedo, Cláudio; A Caminho no Ser: Uma Visão Transpessoal
da Psicologia no Yoga S?tra de Pat?ñjal?, Editora Órion, Fortaleza, 2.007
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Tudo é irreal, pois é fruto de uma ilusão. Quando Puru?a se manifestou e olhou para a sua M?y?, maravilhou-se e evoluiu querendo conhecê-La, mergulhando em seus mais densos e multiformes aspectos de realidade, para no fim descobrir que era só uma mágica…
Tentar explicar o inexplicável. Todos os pensadores em todas as épocas compreenderam a necessidade de se admitir a existência de uma Realidade substancial, que permaneceria imutável e incondicional, oculta debaixo de todas as manifestações exteriores. Um Princípio Onipresente, Uno, Sem Limites, Não-Criado, Eterno, Imperecível e Imutável sobre o qual nada se pode especular, o Supremo e não-Supremo. ‘Imanente’, está acima do Ser (Sat) e do não-Ser (Asat) BG 13:13: o Tao que não pode ser pronunciado.
Para o Ved?nta dar?ana, esse Princípio Uno tem dois aspectos: Para?brahma? BG 10:12 e M?laprak?ti 2:78. O San?tana Dharma denomina aquele de ‘Espaço Abstrato Absoluto’ e essa de ‘Movimento Abstrato Absoluto’ (a ‘Substância-Raiz Pré-Cósmica’ 2:82), “uma espécie de véu lançado sobre ele”, substrato a todos os planos objetivos da natureza. Conceitos inconcebíveis, inefáveis e indefiníveis: “um Caos para os sentidos, um Cosmos para a razão”.
Mas, ‘Emanente’ no Ser e não-Ser, o ‘Supremo Oceano Abstrato e Imanifesto do Vazio’ (??ny?vasth?) é o princípio Absoluto da Realidade. Esse Supremo Oceano Abstrato, longe de ser algo estático e inerte, é um poderoso devir dinâmico.
“A Essência divina é, para a alma, o maior dos bens: apreender a Deus é saber que é inapreensível, vê-lo é saber que é invisível”.
Fílon de Alexandria (20 a.C. – 40 d.C.) 3:83
A palavra grega para esse grande Vazio Original, Indeterminado e Incompreensível, é Kaos (que pode denotar grande vazio ou grande plenitude). A filosofia taoísta chama de Wu-chi (Sem Cume, o Incriado) a esse Vazio Primordial: um estado primordial de efervescência e potencialidade, destituído de matéria, energia, espaço ou tempo. A Cabala judaica descreve a Divindade Suprema como Existência Negativa, o Nada. O mesmo Ginnungagap escandinavo, Dharmakaya budista, Fohat tibetano, Senhor e única Fonte do Universo.
A essa noção de Vazio, que ao mesmo tempo é Vida e Infinita Energia Criadora do Universo, os hindus chamam de Brahma?. Como já dito anteriormente, Brahma? deriva do radical sânscrito b?h, que significa ser grande e capaz de criar, expandir, crescer: o puro ATO que contém todas as Potências em Si. Conseqüentemente, Brahma? é o Criador (literalmente ‘grande expansão’), o Absoluto, a Realidade não-dual (Puru?a) sem forma (Nir?k?ra), sem ação (Akarta), sem características (Nirvi?e?a) e sem qualidades (Nirgu?a).
Brahma? é a Raiz Suprema, a Causa Primeira precursora do Manifestado: “o Círculo Cósmico é um círculo cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte alguma”. Brahma? é a Consciência Absoluta (Cetan? ou Cait?nya), a verdadeira Existência Una (Para??rthika) “porque Aquilo não pode ser sujeito de cognição”. Puru?a do S??khya dar?ana, é o Um sem segundo: que não pode conhecer,
“Ele é Pura Consciência Unitária, onde a percepção do mundo e da multiplicidade é completamente eliminada… Ele é o Um sem segundo.”
M????khya Upani?ad 4:68
Em Si próprio, Brahma? é a Existência Absoluta Não-manifestada. É o ?iva do ?aivismo da Cachemira, ou, segundo Svami Prabhup?da, o Mahat-tattva do S??khya dar?ana. Em Brahma? reside a totalidade da substância material 5:870, em cuja Matriz (M?y?) se dá início à atividade (Karma) 6:76 e a toda a criação. M?y? (a Ilusão Cósmica) é a manifestação da Consciência Divina (Brahma?-v?tti), o nível supremo e indiferenciado de apresentação dos princípios fundamentais da matéria (ali?ga gu?as) YS II:19. Do Absoluto brota o Relativo, da Realidade a Ilusão, dO sem qualidades (Nirgu?a Brahma?) apenas uma ínfima parcela se manifesta como Ilusão (Sagu?a Brahma?):
“Sem limite é a plenitude do meu Ser, imensa a minha grandeza. [Tudo] que te disse não passa de pequenina parcela”. BG 10:40
A Existência Absoluta associada com o poder de Sua M?y? é conhecida na Ka?ha Upani?ad 4:42 como Hira?yagarbha , a dualidade PAI-MÃE (Deus e o Espírito de Deus Gn 1:1), o ‘Espírito do Universo’, o ‘Que-Nasceu-Primeiro’. Esse estado integrado ‘dual dentro da unidade’ é o Supremo Espírito-Energia (Puru?a-Prak?ti), a Fonte Última em Potência, de onde se originam os aspectos complementares da Consciência (?iva) e do Poder (?akt?), e de toda a vida dual. É o ??vara do Yoga dar?ana 4:68, incólume aos efeitos de suas ações YS I:24-27.
“Ó Brahma? Supremo! Vós não possuís forma, contudo… 4:147 unindo-Vos com M?y?, elaborastes o Universo… 4:149 O Universo é a Vossa M?y?… 4:147 Vós sois o Senhor e o Mestre de M?y?… 4:149 a Vossa Consorte Divina… 4:147 Ao Vosso comando, M?y?, Vosso poder divino, projeta este Universo visível, projeta o nome e a forma… 4:151”
Do Centro de Puru?a (Mah?bindu), sob a ação de Prak?ti, emerge N?da (ou o ‘Som Fundamental’), a manifestação do Poder de ?akt? emergindo da Consciência de ?iva, metaforicamente uma ondulação nascida de Seu próprio Centro. Esse aspecto manifestado do Absoluto (Brahma?) é conhecido como ?abda Brahma? (o Som de Brahma? do Ved?nta dar?ana): uma espécie misteriosa de Som, que é a manifestação da Suprema Força Criativa (Prak?ti) de Brahma?.
N?da, a energia fundamental que a ciência atual denomina Campo Abstrato das Supercordas, é uma formidável e inimaginável fonte de Energia que, embora seja considerada intensa (udyama) e temível (bhairava), sua verdadeira natureza é paz (??nta). Esse tremendo fluir de Energia (ou Poder), resultado da Divina Vontade de Brahma?, é a base do Universo manifestado e surge de uma alteração na harmonia entre as qualidades essenciais (gu?as) que constituem Prak?ti.
N?da é a ‘Ideação Cósmica’ (Mahat, o Mundo das Idéias), a base inteligente da Suprema Força Criativa (Prak?ti), Seu pensamento, a ‘Alma do Universo’: o Verbo Criador – Viraj para os hindus ou Buddhi para o S??khya dar?ana. Esse Verbo Criador, o Cristo Jo 1:1-18, é a verdadeira Luz, a Vontade pura do PAI-MÃE, a Divindade Manifestada. N?da é o O? nas Upani?ads, o AUM dos Vedas que se tornou a palavra sagrada HUM dos tibetanos, AMIN dos muçulmanos e AMÉM (‘seguro ou fiel’ em hebraico) dos egípcios, judeus, gregos, romanos e cristãos: “a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus” Ap 3:14.
“Essa sílaba [o O?] é impronunciável e está além da mente [humana]. Nela, o Universo multidimensional desaparece. Ela é Bem Supremo – Um sem segundo”.
M????khya Upani?ad 4:69
N?da, que possui um caráter único e oniabrangente que se estende por todos os estágios dos gu?as (indiferenciado, diferenciado, universal e particular) YS II:19, é a base última de toda a manifestação, tanto objetiva (movimentos e vibrações) quanto subjetiva (pensamentos e idéias), inclusive do espaço-tempo, com todas as suas próprias dimensões individuais. Incorpora em si todas as infinitas e extremamente complexas vibrações energéticas (o campo quântico) e fenômenos mentais. É por isso que a mente (citta) influencia no colapso de onda nos experimentos quânticos, pois todo fenômeno mental tem uma base quântica SS II:1 e todo fenômeno quântico tem uma base mental cujos aspectos guardam entre si uma relação matemática precisa e harmoniosa, a qual a ciência atual apenas está começando a desvendar, através da Teoria-M.
“No estado imanifesto, todas as vibrações [físicas e mentais] existem em forma integrada e é somente quando um mundo manifestado vem à existência que elas aparecem sob formas diferenciadas, combinando-se de inumeráveis maneiras para produzir objetos no mundo da manifestação… 7:34 Essas combinações de sons, que formam a base dos estados mentais… são chamadas m?trik? [mães]: as formas diferenciadas [de N?da], por meio das quais a Vontade Divina é consumada no mundo da manifestação 7:33”
Igbal Kishen Taimni (1.898-1.978)
Cada manifestação é um tipo de freqüência sonora específica: é um SOM! A partir do mesmo Campo Único (N?da) surge a manifestação objetiva, nasce a Mente Universal: o Primogênito manifestado Jo 8:58, Jo 17:5, Cl 1:15-20. Brahm? é o Primogênito manifestado que cria o espaço-tempo multidimensional no Universo, mas existem inúmeros Brahm?s brotando de N?da como bolhas (o Multiverso da ciência atual), cada bolha sendo um Universo particular:
“No Oceano Causal, há inúmeros Brahm? surgindo e desaparecendo, como bolhas no Atlântico. Brahm? e Sua criação são todos partes do Universo material e, por isso, eles estão em fluxo constante. No Universo material, nem mesmo Brahm? está livre do processo de nascimento, velhice, doença e morte… Brahm? vive 311 trilhões e 40 bilhões de anos terrestres”.
Svami Prabhup?da 5:434
Nesses cerca de 311 trilhões de anos terrestres, cada Brahm?, enquanto Universo multidimensional, apresenta 72.000 ciclos de repouso e atividade oscilando entre o Manifesto (dia de Brahm?) e o Não-manifesto (reabsorvido em N?da 4:69: a noite de Brahm?), entre o não-existir e o existir. Em seu repouso não há o tempo, só um ‘eterno presente’, somente as trevas enchem todo o espaço ilimitado Gn 1:1s. Nada mais existe. Em sua atividade surge o Universo. Do Nada emana Tudo, que é mantido por Vi??u e re-assimilado por Rudra, até que Tudo volta ao Nada. Tradicionalmente, a Trindade hindu é designada como composta por Brahm?, Vi??u e ?iva, mas como esse livro faz referências constantes ao ?iva S?tra, que considera ?iva como análogo a Brahman, substituímos aqui ?iva por Rudra.
“Brahma? (neutro) é a… Essência Absoluta. Brahm? é o Deus-criador, a Existência Relativa. Como Brahma?, é Deus Transcendente e Incognoscível pelo cognoscente finito. Como Brahm?, é Deus imanente em qualquer criatura e, portanto, cognoscível pelo cognoscente finito…. Somente como Brahm?… é que o conhecedor finito pode ter consciência da Divindade, embora sempre imperfeita, uma vez que ‘o conhecido está no cognoscente segundo o modo do cognoscente’”.
Humberto Rohden (1.893-1.981) 6:40
Na realidade tudo é eterno. Todo o presente, que sempre existiu no futuro enquanto possibilidade, continuará sempre existindo enquanto passado. Assim, passado e futuro, como dimensões temporais não manifestadas (s?k?m??), têm existência tão real quanto o presente manifestado (vyakta) YS IV:13. Aliás, a ciência moderna postula que até o passado é uma possibilidade que depende do presente e que eventos que existem no futuro também podem influenciar o presente, da mesma forma como o passado o faz. São três dimensões temporais de manifestação do Universo que existem separadamente em sua própria forma YS IV:12, mas totalmente inter-relacionados como causa e efeito um dos outros.
Concêntricos com o Centro de Brahma? (Mah?bindu) são os Centros de cada Brahm? (Universo). Desse Centro (Brahm?bindu) emana toda a manifestação (Big-Bang) de um Universo e é esse Centro o ponto de interligação de toda a manifestação emanada a partir do Big-Bang. Assim, toda a infinidade de galáxias de um Universo está interligada pelo Centro do Universo. Por sua vez, cada Galáxia também tem um Centro Individual Imutável (dhruve) YS III:29, conhecido como ‘estrela polar’, que interliga todo o conteúdo da mesma e é concêntrico com o Centro do Universo.
Na nossa Via-láctea, cujo tamanho gira em torno dos cem mil anos-luz, com suas cerca de 200 bilhões de estrelas, tem em seu centro (dhruva) uma grande concentração de estrelas antigas; milhões delas a pouca distância umas das outras. É como o Sol de nosso Sistema Solar. Assim, o Centro de nossa Terra (p?thivi?), o Centro de nosso Sistema Solar (s?rya) YS III:27, o Centro de nossa Galáxia (dhruva) YS III:29 e o Centro do nosso Universo (Brahm?bindu) YS III:27, são concêntricos com o Centro de Brahma? (Mah?bindu).
O conceito de Brahma?, como o Vazio Original de onde emanam Multiversos (múltiplos Brahm?s) que a Ele retornam como numa expiração-inspiração, está ligado ao de ?tman, que deriva da raiz sânscrita ‘a?’ (de onde vem ‘ar’ – respirar), que com o tempo passou a significar o Eu interno do ser humano (seu Espírito). Foi a partir da emanação, provinda do Centro da Realidade Última (Mah?bindu), através de infinitos Centros Individuais de Consciência e Poder (manobindus), que todos os infinitos ?tman individuais se manifestaram como expressões daquela Realidade, a qual é completa, indivisível e integrada através desses mesmos diferentes Centros Individualizados de Consciência.
Assim, cada ?tman individual e eterno, também chamado de Mônada, é um manobindu (Centro Individual) proveniente holograficamente daquela Realidade Última, que traz oculto em Si-mesmo a Consciência e o Poder Absolutos. É por isso que se diz que, visto de ‘cima para baixo’, ?tman e Brahma? são a mesma coisa, e de ‘baixo para cima’ ?tman é Para??tman: Para??tman e Brahma? são idênticos. E todos os manobindus individuais também são concêntricos com o Mah?bindu, o Grande Centro de onde a Realidade Última provém, a partir do Absoluto Imanifesto.
Cada ?tman individual, quando se projeta para o exterior a partir de seu manobindu, se manifestando em outros planos de existência, dá origem a modificações energéticas (sons) em N?da, conhecidas tecnicamente como citta (mente), cuja função é captar toda a manifestação espacial e temporal: ser o instrumento de percepção de um ?tman individual. É por isso que, embora cada manifestação seja um evento único, cada percepção sempre será um ponto de vista diferente, pois existem diferentes cittas manifestados YS IV:15.
N?da incorpora em Si ambas as dimensões de Puru?a (Consciência) e Prak?ti (Energia), de tal forma interligadas matematicamente que, na realidade, são consideradas uma única dimensão manifestada. Dessa forma, citta (mente) SS II:1, em seu aspecto objetivo, é energia vibratória e todos os objetos são sons (mantras) provenientes de uma mente (citta) originada da Consciência Absoluta (Cetan? ou Caitanya).
Para aqueles iogues altamente avançados no caminho, e já qualificados para entrar em contato com o Poder que emana da Consciência Cósmica, em sua nova encarnação, um método específico é ensinado, secretamente, sempre por um Mestre Auto-Realizado. Esse método é o segredo final do poder do Verbo (Som), que retira o discípulo do mundo manifestado e o leva para o Mundo da Realidade SS II:7-10. Para isso esse discípulo já deve ter passado por todas as provas que advém no caminho do Yoga SS III:19 e já adquirido a capacidade de entrar em contato direto e pessoal com os Grandes Mestres Auto-realizados da humanidade, versados na Ciência Sagrada YS III:33.
Quando citta se projeta mais para o externo, se torna o Observador (o adhy?tma ou dra??? da filosofia Yoga), nosso Ser interior, o Si-mesmo individualizado encarnado, que junto com ?tman compõe o J?v?tman da filosofia Ved?nta. Para o S??khya dar?ana, o Observador é buddhi (o poder de percepção e cognição de citta), que quando percebe o mundo externo cria ondulações (v?ttis) em si próprio (na realidade em citta) e quando percebe a si próprio gera aha?k?ra: o senso de individualidade.
Então, do contato das sensações com ?tman, da sua percepção dos sentimentos e dos objetos, é que surge manas . Manas seria o domicílio da reflexão e da imaginação e ?tman o domicílio da vontade e do desejo. Quem sente é manas através das emoções, quem acha que é ou faz alguma coisa é aha?k?ra e quem percebe é buddhi. Embora seja J?v?tman quem perceba, devido à ação de buddhi em Si-mesmo, e se formem as ondulações mentais na mente (citta-v?tti), Para??tman permanece imutável, Isolado delas e totalmente Realizado. ?tman é Para??tman e J?v?tman ao mesmo tempo.
E citta (o anta?kara?a vedantino) abrange desde buddhi (responsável pelas funções intelectuais de nível mais elevado, às quais requerem intuição, introspecção e reflexão) e aha?k?ra (nosso ego autoconsciente, que relata a experiência para si mesmo) até manas (mente analítica e abstrata que grava as experiências), sendo a ponte, o instrumento pelo qual o ?tman percebe todos os objetos manifestados. Mais que isso, citta além de perceber também mantém a existência da própria manifestação através de avidya, pois se confundindo com o percebido YS II:24, mantém a ilusão da própria percepção física.
O Yoga dar?ana configura-se como um ponto de vista intermediário entre o ponto de vista totalmente idealístico do Ved?nta dar?ana e o ponto de vista totalmente realístico do C?rv?ka dar?ana. Defende a realidade tanto do objeto quanto do Sujeito quando afirma que a saída de uma mente (citta) do mundo não implica no desaparecimento desse último, justamente porque o Universo existe no espaço-tempo, na matéria, nos sentidos e nas mentes. O mundo fenomenal só desaparece para o caminhante que atinge Kaivalya YS II:22, mas continua a existir para os outros caminhantes que não o atingiram YS IV:16.
O que se percebe não são meros eventos, mas as diferentes combinações entre as propriedades inerentes (dharm???m) do tempo e dos objetos, que são, em essência, a harmoniosa e constante transformação dos gu?as. Para haver qualquer forma de conhecimento e cognição deve haver contato entre um objeto (vastu) e uma mente (citta). Se não houver um objeto para ser refletido na mente, não haverá nenhuma percepção YS IV:17, ou seja, existem objetos conhecidos e desconhecidos, dependendo se estão sendo refletidos ou não por uma mente.
Assim, o Universo existe objetivamente e subjetivamente. Cada vez mais, os cientistas quânticos encaram o mundo como composto de idéias, conceitos, qualidades, informações e não somente de partículas materiais que podem ser medidas ou pesadas. Matéria, energia e informação são três formas de apresentação da mesma coisa. A estrutura do Universo contém uma quantidade ilimitada de informação e o ser humano é uma manifestação dessa energia. Todo objeto manifestado é um espelho que, turvo pelos ‘pré-conceitos’ de auto-identificação (asmit?) de aha?k?ra, não reflete a verdadeira luz de ?tman. Buddhi, na realidade, é a mais pura e harmoniosa (‘sáttvica’) emanação de Prak?ti, receptáculo do reflexo da luz da Consciência de Puru?a.
Enquanto o Buddha dar?ana (budismo) não especula sobre a existência de ?tman, mas apenas sobre buddhi como o mais alto nível de citta, admitindo que buddhi pode se autoperceber, Pat?ñjal? é taxativo quando nega a percepção do Observador por si mesmo YS IV:18-21, afirmando a existência de um nível de consciência imutável (apratisa?kra?) YS IV:22 que, em última instância, é quem percebe o Observador (buddhi) gerando autocognição. Então buddhi se torna o observado (d??ya) e ?tman se torna o Observador (Dra???) Supremo. Na realidade:
Ôò&†ZyaeprKt< icÄ< svaRwRm!.23.
dra???-d??yoparaktam cittam sarv?rtha?
(IV-23) [Somente quando] a mente (cittam) é colorida (uparakta) [ou afetada tanto pelo] Observador (dra???) como pelo observado (d??ya) [é que se poderá perceber] qualquer (sarva) objeto (artha?).
A verdadeira função da mente é estar à disposição do Observador Supremo, o Sujeito ou Si-mesmo Essencial, embora continue a ser modificada pela força dos v?san?s YS IV-24, nos intervalos em que não está em sam?dhi. No caminho de retorno ao Si-mesmo, ?tman vai se tornando apto a perceber e trafegar livremente por todas as dimensões espaciais e temporais, até que, quando percebe a diferença entre Si-mesmo, enquanto Observador Supremo, e tudo o que pode ser observado, atinge a emancipação (Kaivalya) do reino manifestado de Prak?ti YS II:24-25.
Esse caminho é um processo que, inúmeras vezes, não se finaliza em uma única encarnação. Desfazer todos os hábitos e condicionamentos, treinar a mente, interiorizar-se e atingir a Realidade, emancipando-se finalmente do reino da matéria, não é um caminho que possa ser trilhado em menos de 100 anos. Os grandes Mestres afirmam que precisamos de várias encarnações para isso, mas não podemos nos sustentar nessa afirmação para afirmar, de uma forma auto-indulgente, que se tem muito tempo e agora não é a hora. AGORA é a hora!!
Para o Ved?nta, Yoga é o retorno de J?v?tman para Para??tman. Não temos a mínima consciência do quanto já caminhamos, e pode ser que reste muito pouco da caminhada e, com esse pensamento pequeno, percamos mais uma encarnação por preguiça e displicência:
“Nosso progresso no caminho da santidade depende de Deus e de nós mesmos – da graça de Deus e de nossa vontade de sermos santos. Nós devemos ter uma real determinação na vida para alcançarmos a santidade. Não devemos tentar controlar as ações de Deus. Não devemos contar os estágios na jornada que ele nos tenha feito passar. Não devemos desejar uma percepção clara a respeito de nosso avanço no caminho e tampouco querer saber precisamente onde nos encontramos no caminho da santidade”.
Madre Teresa de Calcutá (1.910-1.997)
Calcutá, Madre Teresa de; Tudo Começa com a Prece; Editora Teosófica, Brasília, 1.999, página 134.
BIBLIOGRAFIA
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As referências bibliográficas acham-se assim indicadas: xx:yy, onde ‘xx’ é o número da referência contido na BIBLIOGRAFIA (no final do livro) e ‘yy’ é a página onde se encontra.
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Quando precedendo ‘xx’ estiver escrito YS, a obra referenciada é o Yoga S?tra de Pat?ñjal?, BG quando for Bhagavad G?t?, VC quando for o Viveka Ch?d?mani, TB quando for o Tattvabodha? e SS quando a obra referenciada for o ?iva S?tra (obra de referência no ?ivaísmo de Cachemira). Nesses casos ‘xx’ é o capítulo e ‘yy’ é o s?tra.
- Azevedo, Cláudio; Yoga e as Tradições Sapienciais, Editora Órion, 2ª Edição, Fortaleza, 2.006;
- Blavatsky, Helena Petrovna; A Doutrina Secreta; vol. 1; 9a Edição, Editora Pensamento, São Paulo, 1.979;
- Leloup, Jean-Yves; Cuidar do Ser: Fílon e os Terapeutas de Alexandria; Editora Vozes, 5ª Edição, Petrópolis, 2.000;
- Os Upanishads; 9a Edição, Editora Pensamento, São Paulo, 1.999;
- Prabhup?da, Swami; Bhagavad G?t?: Como Ele É; The Bhaktivedanta Book Trust, 4ª Edição, Brasília, 2.006.
- Rohden, Humberto; Bhagavad Gita: a Sublime Canção; Editora Martin Claret, São Paulo, 2.000;
- Taimni, I. K.; Shiva-sutra: Realidade e Realização Supremas; Grupo Annie Besant, Rio de Janeiro, 1.982;