OM…
Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.
Com nossos olhos, contemplamos vossa integridade.
Tranqüilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos, encontrar descanso.
OM… Paz – paz – paz.
- DO INFINITO OCEANO da existência surgiu Brahman, primogênito e o primeiro entre os deuses. Dele jorrou o Universo, e ele se tornou seu protetor. O conhecimento de Brahman, alicerce de todo conhecimento, ele revelou a seu filho primogênito, Atharva.
- Atharva, por sua vez, ensinou esse mesmo conhecimento de Brahman a Angi. Angi ensinou-o a Satyabaha, que revelou a Angiras.
- Certa vez, Sounaka, o famoso chefe de família, dirigiu-se a Angiras e perguntou-lhe respeitosamente:
- “Sagrado senhor, o que é aquilo através do qual todo o resto é conhecido?”
- “Aqueles que conhecem Brahman“, replicou Angiras, “Dizem que existem dois tipos de conhecimento, o superior e o inferior.
- “O inferior é o conhecimento dos Vedas (O Rig, O Sama, O Yajur e o Atharva), e também o conhecimento da fonética, dos cerimoniais, da gramática, da etimologia, da métrica e da astronomia.
- “O mais elevado é o conhecimento daquilo através do qual se conhece a realidade imutável. Através disso, é totalmente revelado aos sábios aquilo que transcende os sentidos, que não tem causa, que é indefinível, que não tem olhos nem ouvidos, nem mãos nem pés, que tudo permeia, que é mais sutil do que o mais sutil – o que dura eternamente, a origem de tudo.
- “Como a teia vem da aranha, como as plantas crescem do solo e o cabelo do corpo do homem, assim jorra o Universo do eterno Brahman.
- “Brahman quis que fosse assim, e extraiu de si mesmo a causa material do Universo; disso veio a energia primordial; e da energia primordial a mente; da mente os elementos sutis; dos elementos sutis os diversos mundos; e das ações realizadas por seres nos diversos mundos a cadeia de causa e efeito – a recompensa e punição das ações.
- “Brahman tudo vê, tudo sabe; ele é o próprio conhecimento. Dele nascem a inteligência cósmica, o nome, a forma, e a causa material de todos os seres criados e das coisas.”
- Finitos e transitórios são os frutos dos rituais de sacrifício. Os iludidos, que os encaram como os mais elevados bens, permanecem sujeitos ao nascimento e à morte.
- Vivendo ao abismo da ignorância, porém sábios em seu próprio conceito, os iludidos dão voltas e voltas, como cegos levados por cegos.
- Vivendo no abismo da ignorância, embora sábios em seu próprio conceito, os iludidos se crêem abençoados. Apegados a palavras, não conhecem Deus. As ações levam-nos apenas ao céu, onde, para sua tristeza, suas recompensas rapidamente se esgotam, e são lançados de volta à terra.
- Ao considerarem a religião como sendo a execução de rituais e a prática de ações de caridade, os iludidos permanecem ignorantes do bem mais elevado. Após aproveitar no céu a recompensa das suas boas ações, eles penetram novamente no mundo dos mortais.
- Porém as Almas sábias e tranqüilas e que possuem autocontrole – que estão satisfeitas em espírito, e que praticam a austeridade e a meditação na solidão e no silêncio – são libertadas de toda impureza, e atingem, através do caminho da libertação para o imortal, o que verdadeiramente existe, o imutável Eu.
- Que o homem dedicado à vida espiritual examine cuidadosamente a natureza efêmera de tal prazer, seja aqui ou no além, como pode ser obtido através de boas ações, e perceba assim que não é pelas ações que se ganha o Eterno.
- Que não dê atenção às coisas transitórias, e sim que, absorto na meditação, renuncie ao mundo. Para conhecer o Eterno, que se aproxime humildemente de um guru dedicado a Brahman e que conheça bem as escrituras.
- A um discípulo que se aproxima reverentemente, que é tranqüilo e possui autocontrole, o mestre sábio, sinceramente e sem restrição, fornece esse conhecimento através do qual e conhecido o que verdadeiramente existe, o Eu imutável.
- O imperecível é o Real. Assim como inúmeras fagulhas sobem de um fogo flamejante, das profundezas do imperecível surgem todas as coisas. Para as profundezas do imperecível elas tornam a descer.
- Dotado de luz própria é esse Ser, e não possui forma. Ele habita dentro de tudo e fora de tudo. Ele nunca nasceu, é puro, maior do que o maior, não possui alento, não possui mente.
- Dele nascem o sopro vital, a mente, os órgãos dos sentidos, o éter, o ar, o fogo, a água e a terra, e ele mantém tudo isso unido.
- O céu é a sua cabeça, o sol e a lua os seus olhos, as quatro fases os seus ouvidos, as escrituras reveladas a sua voz, o ar o seu fôlego, o Universo o seu coração. Dos seus pés veio a terra. Ele é o mais profundo Eu de todos.
- Dele surge o céu iluminado pelo sol, do céu a chuva, da chuva o alimento, e do alimento a semente que o homem dá à mulher.
- Assim, todas as criaturas descem dele.
- Dele saem os hinos, os cantos devocionais, as escrituras, os rituais, os sacrifícios, as oblações, as divisões do tempo, o que age e a ação, e todos os mundos iluminados pelo Sol e purificados pela Lua.
- Dele nascem deuses de diversas descendências. Dele nascem anjos, homens, feras, pássaros; dele nascem a vitalidade e o alimento para sustentá-la; dele vêm a austeridade e a meditação, a fé, a verdade, a continência e a lei.
- Dele jorram os órgãos dos sentidos, suas atividades, e seus objetos, junto com a consciência desses objetos. Todas essas coisas, partes da natureza do homem, saem dele.
- Nele os mares e as montanhas têm sua origem; dele jorram os rios, e dele nascem as ervas e outros elementos que sustentam a vida, com a ajuda dos quais o corpo sutil do homem subsiste no corpo físico.
-
Assim, Brahman é tudo em tudo. Ele é ação, conhecimento, bondade suprema. Conhecê-lo, oculto no lótus do coração, é desatar o nó da ignorância.
- Dotado de luz própria é Brahman, sempre presente nos corações de todos. Ele é o refúgio de todos, é a meta suprema. Nele existe tudo o que se move e respira. Nele existe tudo que é. Ele é ao mesmo tempo aquilo que é grosseiro e tudo aquilo que é sutil. Ele é adorável. Ele está além do alcance dos sentidos. Ele é supremo. Atingi-o!
- Ele, o dotado de luz própria, mais sutil do que o mais sutil, em quem existem todos os mundos e todos os que neles habitam – esse é o imperecível Brahman. Ele é o princípio da vida. Ele é a palavra, ele é a mente. Ele é real. Ele é imortal. Atingi-o, Ó meu amigo, a única meta a ser atingida!
- Juntai-vos ao ?pani?ad, o arco incomparável, a flecha afiada do culto devocional; então, com a mente absorta e o coração fundido no amor, arremessai a flecha e acertai o alvo – o imperecível Brahman.
- OM é o arco, a flecha é o ser individual, e Brahman é o alvo. Mirai com o coração tranqüilo. Perdei-vos dentro dele, do mesmo modo como a flecha se perde no alvo.
- Nele estão reunidos o céu e a terra, junto com a mente e todos os sentidos. Conhecei-o, apenas o Eu. Desisti de conversas fúteis. Ele é a ponte da imortalidade.
- Dentro do lótus do coração ele habita, onde, como os raios de uma roda, os nervos se encontram. Meditai nele como OM. Facilmente podereis atravessar o mar da escuridão.
- Esse Eu, que tudo compreende, que tudo sabe, e cuja glória está manifestada no Universo, mora dentro do lótus do coração, o trono brilhante de Brahman.
- Ele é conhecido pelos puros de coração. O Eu existe no homem, dentro do lótus do coração, e é o mestre da sua vida e do seu corpo. Com a mente iluminada pelo poder da meditação, os sábios o conhecem, o abençoado, o imortal.
- O nó do coração, que é a ignorância, se afrouxa, todas as dúvidas se dissolvem, todos os efeitos malignos das ações são destruídos, quando ele, que é ao mesmo tempo pessoal e impessoal, é percebido.
- No fulgurante lótus do coração habita Brahman, que não possui paixões e é indivisível. Ele é puro, ele é a luz das luzes. Ele é alcançado pelos conhecedores do Eu.
- O Sol não o ilumina, nem a Lua, nem as estrelas, nem o relâmpago – nem, na verdade, fogos acesos sobre a terra. Ele é a luz que dá luz a tudo. Quando ele brilha, tudo brilha.
- Esse Brahman imortal está na frente, esse Brahman imortal está atrás, esse Brahman imortal se estende para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. Verdadeiramente, tudo é Brahman e Brahman é supremo.
- Como dois pássaros de plumagem dourada, inseparáveis companheiros, assim o Eu individual e o Eu imortal se empoleiram nos galhos da mesma árvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas da árvore; o último, nada experimentando, observa calmamente.
- O Eu individual, iludido pelo esquecimento da sua identidade com o Eu divino, confundido pelo seu ego, sofre e fica triste. Porém, quando reconhece o venerável Senhor como seu verdadeiro Eu e contempla sua glória, não sofre mais.
- Quando o que vê contempla o fulgurante, o Senhor, o Ser Supremo, então, transcendendo tanto o bem como o mal, e libertando-se das impurezas, une-se a ele.
- O senhor é a única vida que brilha em cada criatura. Ao vê-lo presente em tudo, o homem sábio é humilde, não se coloca à frente de nada. Seu deleite está no Eu, sua alegria está no Eu, ele serve ao Senhor em tudo. Como ele, de fato, são os verdadeiros conhecedores de Brahman.
- Esse Eu fulgurante deve ser percebido dentro do lótus do coração através da continência, da firmeza na verdade e na meditação e pela visão superconsciente. Com suas impurezas extintas, os que vêem o percebem.
- Só a verdade tem sucesso, e não a falsidade. O caminho da verdade é aberto através da verdade, o caminho que é seguido pelos sábios, libertos dos desejos, e que os leva à morada eterna da verdade.
- Brahman supremo; ele é autoluminoso, está além de todo pensamento. Ele é mais sutil, do que o mais sutil, mais veloz do que veloz, mais próximo do que o mais próximo. Ele habita o lótus do coração de todos os seres.
- Os olhos não o vêem, a palavra não pode pronunciá-lo, os sentidos não podem alcançá-lo. Ele não é alcançado nem por austeridade nem por rituais de sacrifício. Quando o coração se torna puro através da discriminação, então, na meditação, o Eu impessoal é revelado.
- O Eu sutil dentro do corpo que vive e respira é percebido naquele estado de consciência puro onde não existe dualidade – aquele estado de consciência através do qual o coração bate e os sentidos executam suas funções.
- Seja do céu, ou dos prazeres celestes, seja do desejo, ou dos objetos do desejo, qualquer pensamento que surja no coração do sábio é satisfeito. Assim, que aquele que procura seu próprio bem venere e adore o sábio.
- O sábio conhece Brahman, o alicerce de tudo, o puro ser fulgurante em que está contido o Universo. Os que veneram o sábio, e o fazem sem pensar em si, cruzam a fronteira do nascimento e da morte.
- Aquele que, meditando a respeito de objetos dos sentidos, vem a ansiar por eles, nasce aqui e ali, vezes e vezes sem fim, levado pelo desejo. Porém aquele que percebeu o Eu, e dessa forma satisfez toda fome, alcança a libertação até mesmo nesta vida.
- O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras, nem através das sutilezas do intelecto, nem através de muito aprendizado. Porém é conhecido por aquele que anseia por ele. A esse verdadeiramente, o Eu revela seu verdadeiro ser.
- O Eu não é conhecido pelos fracos, nem pelos descuidados, nem pelos que não meditam corretamente. Mas pelos que meditam corretamente, pelos sérios e pelos fortes, ele é completamente conhecido.
- Após conhecerem o Eu, os sábios se enchem de felicidade. Tornam-se abençoados, tranqüilos na mente e livres de paixões. Percebendo em todos os lugares o Brahman que tudo permeia, profundamente absortos na contemplação do seu ser, penetram nele, o Eu de todos.
- Após terem verificados e percebido completamente a verdade do Vedanta, após terem-se estabelecido na pureza de conduta por seguirem a ioga da renúncia, esses grandes atingem a imortalidade nesta mesma vida; e, quando seus corpos os abandonam na hora da morte, atingem a libertação.
- Quando a morte surpreende o corpo, a energia vital penetra na força cósmica, os sentidos se dissolvem na sua causa e os Karmas e a alma individual se perdem em Brahman, o puro, o imutável, o infinito.
- Do mesmo modo como os rios correm para o mar e, ao fazerem isso, perdem o nome e a forma, assim o homem sábio, liberto do nome e da forma, alcança o Ser Supremo, o autoluminoso, o infinito.
- Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman. Ninguém que ignore Brahman nasce jamais na sua família. Ele passa além de todo sofrimento. Ele supera o mal. Liberto dos grilhões da ignorância, torna-se imortal.
- Que a verdade de Brahman seja ensinada somente àqueles que obedecem à sua lei, que são dedicados a ele, e que são puros de coração. Que ela jamais seja ensinada aos impuros.
- Salve os sábios! Salve as almas iluminadas!
- Essa verdade sobre Brahman foi ensinada em tempos remotos a Shounaka por Angira. Salve os sábios! Salve as almas iluminadas!
OM… Paz – paz – paz.