(La Revue Théosophique, Paris, Vol. I, Nos. 3, 4, 5, 6; maio, junho, julho e agosto de 1889)
-I-
Está escrito num antigo livro de estudos ocultistas:
“A Gupta-Vidya (Ciência Secreta) é um mar atraente, mas tempestuoso e cheio de rochas. O navegante que aí se arriscar, se não for esperto e com certa experiência, será engolido, e se arrebentará em cima de um dos milhares recifes submersos. Grandes ondas, cor de safira, rubi e esmeralda, ondas cheias de beleza e mistério, o carregarão, prontas sempre a desviarem os viajantes em direção a inúmeros outros faróis de luz que ardem em todas as direções. Mas essas são luzes falsas, fogos fátuos, acesos pelos filhos de Kalya para a destruição daqueles que se apegam à vida. Felizes são aqueles que permanecem cegos a essas luzes enganosas, felizes ainda mais, aqueles que nunca desviaram o olhar do único e verdadeiro farol de luz, cuja chama eterna arde em solidão, nas profundezas das águas da Ciência Sagrada. Numerosos são os peregrinos que desejam entrar nessas águas; e poucos são os fortes nadadores que alcançam o farol. Aquele que ali chegar, deverá deixar de ser um número apenas, e se tornará “todos” os números. Deverá ter esquecido a ilusão da separatividade, e ter aceitado apenas a verdade da individualidade coletiva.h Deverá ver com os ouvidos, escutar com os olhos,· compreender a linguagem do arco-íris, e ter concentrado seus seis sentidos no sétimo.”D
O “farol-luz” da Verdade é a natureza, sem o véu ilusório dos sentidos. Pode ser alcançado apenas, quando o adepto se tornou mestre absoluto de seu eu pessoal, capaz de controlar todos seus sentidos físicos e psíquicos pela ajuda de seu “sétimo sentido”, através do qual ele é também agraciado com a verdadeira sabedoria dos deuses – Theos-sophia.
Não é necessário dizer, que o profano – o não-iniciado, de fora do templo ou pro-fanes – juiz dos “faróis” e do “Farol” acima mencionado, julga num sentido oposto. Para eles o Farol-luz da verdade Oculta é que é o ignus fatuus, o grande fogo fátuo da ilusão e tolice humana; vêem todos os outros, como marcos de beneficentes bancos de areia, que bloqueiam a tempo àqueles que navegam excitadamente no mar da tolice e superstição.
“Não basta”, perguntam nossos gentis críticos, “que o mundo pela força dos ‘ismos’ tenha chegado ao teosofismo, que nada mais é que charlatanismo transcendental [fumisterie], sem contar este, outros nos oferecendo mais ainda, um réchauffé§ de mágica medieval, com seu grande Sabbath e histerias crônicas?”
Parem, parem, cavalheiros! Sabem vocês, quando falam assim, o que a verdadeira mágica, ou Ciência Oculta é? Vocês permitiram suas escolas de os encherem de uma visão de “feitiçaria diabólica” em relação a Simão o Mágico, e seu discípulo Menander, de acordo com o bom Padre Irenaeus, e o mui zeloso Theodoret e o desconhecido autor de Philosophumena. Vocês se permitiram ser influenciados e a dizer que por um lado esta mágica vinha do demônio e que por outro, era o resultado de fraude e mentira. Muito bem. Mas o que vocês sabem da verdadeira natureza do sistema seguido por Apollonius de Tyana, Iamblicus (Jâmblico) e outros magi (magos)? E quais as suas opiniões sobre a identidade da teurgia de Jâmblico com a “mágica” dos Simões e Menanders? Seu verdadeiro caráter é apenas parcialmente revelado pelo Autor de: De misteriis.·teoria esotérica tornaram-se seus mais fervorosos seguidores. A razão é extremamente simples. Mágica Verdadeira, a teurgia de Jâmblico, por um lado idêntica com a gnose de Pitágoras, a ciência das coisas que são, e por outro, com o êxtase divino dos Philaletheians, “os amantes da verdade”. Mas, deve-se julgar a árvore apenas pelos seus frutos. Quem são aqueles que testemunharam o caráter divino e a realidade daquele êxtase que é chamado Samadhi na Índia? e Uma longa série de homens, que, se tivessem sido Cristãos, teriam sido canonizados – não pela decisão da Igreja, que tem suas parcialidades e predileções, mas pela maioria das pessoas, e pela vox populi, que raramente está errada em seu julgamento. Existe, por exemplo, Ammonius Saccas, denominado de theodidaktos, o “instrutor divino”; o grande mestre cuja vida foi tão casta e pura, que Plotino, seu aluno, não tinha a mínima esperança de alguma vez encontrar algum mortal comparável a ele. Então existe também o mesmo Plotino que foi para Ammonius o que Platão foi para Sócrates – um discípulo merecedor das virtudes de seu ilustre mestre. Existe ainda Porfírio, aluno de Plotino, º o autor da biografia de Pitágoras. Sob a sombra dessa gnose divina, cuja influência benéfica estendeu-se aos nossos dias, todos os celebrados místicos dos últimos séculos têm se desenvolvido, tais como Jacob Böheme, Emmanuel Swedenborg, e muitos outros. Madame Guyon é a contraparte feminina de Jâmblico. Os Quietistas Cristãos, os Sufis Muçulmanos os Rosacrucianos de todos os países, saciam sua sede nas águas desta fonte inesgotável – a Teosofia dos Neo Platônicos dos primeiros séculos da era Cristã. A gnose guiava aquela era, pois era a continuação direta da Gupta Vidya (“conhecimento secreto” ou “conhecimento de Brahman”) da antiga Índia, transmitida através do Egito; assim como a teurgia dos Philaletheius era a continuação dos mistérios Egípcios. De qualquer modo, o ponto de onde esta diabólica mágica inicia, é a Divindade Suprema; seu final e meta suprema, a união da centelha divina que anima o homem com o flama-pai que é o Todo Divino. Entretanto, suas explanações serviram para converter Porfírio, Plotino, e outros, que de inimigos da
Esta finalização é o ultima Thule daqueles Teosofistas que se devotaram inteiramente ao serviço da humanidade. Fora estes, outros, que ainda não estão prontos para sacrificarem tudo, podem se ocupar com as ciências transcendentais, tais como Mesmerismo, e os fenômenos modernos sob todas as formas. Tem o direito de assim o fazerem de acordo com a cláusula que especifica, sendo esta, um dos objetivos da Sociedade Teosófica, “a investigação das leis inexplicáveis da natureza e os poderes psíquicos latentes no homem.”
Os primeiros não são numerosos – sendo o completo altruísmo uma avis rara mesmo entre os Teosofistas modernos. Os outros membros estão livres para se ocuparem com aquilo que desejam. Fora disto, e a despeito do fato que o nosso comportamento é franco e sem mistério, somos constantemente chamados para nos explicarmos, e para prestarmos satisfação ao público de que não celebramos os Sabbaths das bruxas, ou manufaturas de vassouras para uso dos Teosofistas. Este tipo de coisa algumas vezes bordeja o grotesco. Quando não é o caso de se ter inventado um novo ‘ismo’ – uma religião, extraída das profundezas de um cérebro desordenado – ou qualquer falsidade de que somos acusados, é o de termos exercido as artes de Circe sobre homens e bestas. Sátiras e galhofas caem sobre a Sociedade Teosófica afiadas como punhais. Apesar de tudo tem-se permanecido inquebrantável, todos estes quatorze anos durante os quais este tipo de coisa tem acontecido; é de fato um verdadeiro “cliente resistente”.