O Islamismo

DIVISÕES DO ISLAMISMO

SUNITAS E XIITAS

Os muçulmanos estão divididos em dois grandes grupos, os sunitas e os xiitas. Essas tendências surgiram da disputa pelo direito de sucessão a Maomé. A divergência principal diz respeito à natureza da chefia: para os xiitas, o líder da comunidade (Imã) é herdeiro e continuador da missão espiritual do Profeta enquanto para os sunitas é apenas um chefe civil e político, sem autoridade espiritual, a qual pertence exclusivamente à comunidade como um todo (umma).

Os sunitas são os partidários dos Califas abássidas, descendentes de all-Abbas, tio do Profeta. Em 749, eles assumem o controle do Islã e transferem a capital para Bagdá. Justificam sua legitimidade apoiados nos juristas (alim, plural ulemás) que sustentam que o califado pertenceria aos que fossem considerados dignos pelo consenso da comunidade. A maior parte dos adeptos do islamismo é sunita (cerca de 85%). No Iraque a maioria da população é xiita, mas o governo é sunita.

Os xiitas são partidários de Ali ibn Abi Talib, primo de Maomé casado com Fátima, sua filha, e não aceitam a direção dos sunitas. Argumentam que só os descendentes do Profeta são os verdadeiros Imãs, guias infalíveis em sua interpretação do Corão e do Suna, graças ao conhecimento secreto que lhes fora dado por Deus. São predominantes no Irã e no Iêmen.

A rivalidade histórica entre sunitas e xiitas se acentua com a revolução iraniana de 1.979 que, sob a liderança do Aiatolá Khomeini (xiita), depõe o Xá Reza Pahlevi e instaura a República Islâmica do Irã.

Sunitas e xiitas fazem juntos os mesmos ritos e seguem as mesmas leis (com diferenças irrelevantes), mas o conflito político é profundo. Além dos sunitas e xiitas, existem outras divisões do islamismo, entre eles os zeiitas, hanafitas, malequitas, chafeitas, bahais, sufis, drusos e hambaditas. Algumas destas linhas surgem no início do Islã e outras são mais recentes. Todos esses grupos aceitam Alá como Deus único, reconhecem Maomé como fundador do Islamismo e aceitam o Corão como livro sagrado. As diferenças estão na aceitação ou não da Suna como texto sagrado e no grau de observância das regras do Corão.

DRUSOS

Segundo artigo publicado no jornal libanês O Dia, de 31 de março de 1.967, intitulado “os drusos: sua história e seus textos sagrados”, os drusos formam uma seita à parte, sendo também conhecidos como Filhos da Luz ou Discípulos de Ismael, ismaelitas (Ismael, filho de al-Sadry, que viveu no século VIII). Dividem-se em corporais, também chamados profanos ou iniciáveis, os discípulos (muta-darassin), os adeptos (refik), os mestres (day) e os iniciados (akkal).

Ensinam a existência de cinco seres, emanações direta da divindade suprema, que “levam o trono de Nosso Senhor”, sendo o primeiro deles Iman, ou Gabriel. Iman, ministro superior o qual Deus dotou de onipotência e transmitiu uma parte de Sua essência divina, já teria aparecido à humanidade por sete vezes para anunciar o evangelho, definindo as verdades e mantendo a humanidade no sentido de seu verdadeiro destino. Elas foram: na época de Adão como Chatniel, na de Noé como Pythagore, na de Moisés como Shwaib, na de Jesus como Eleazar, na de Maomé como Salman El-Farzi, na de El-Hakem como Hamza e na de Said como Saleh. Acreditam na volta de Iman, o Messias (Mahdi), como próxima.

Acreditam também que Deus periodicamente toma a aparência humana, na forma de um enviado divino, um Messias, e já o fez 10 vezes (Al-Ali, El-Bar, Alia, El Haala, El Kaiem, El-Maas, El-Aziz, Abazakaria, El-Mansour e El-Hakem), semelhantemente aos Avatares hindus. Hakem teria vindo por volta do ano 997, como califa do Egito e da Síria, tendo desaparecido misteriosamente, por volta do ano 1.037.

Com forte influência do zoroastrismo, crêem em dois princípios o Rival, o Espírito do Mal, oposto à mais Alta Razão, o Espírito de Deus, e que o homem após sucessivas reencarnações, e com a alma purificada, se unirá com a divindade, em graus diversos, de acordo com o saldo de seus bons atos. No centro, na vizinhança imediata de Deus, ficarão os perfeitos, vizinho a eles ficarão os muito puros, depois os puros e além desses reinará o deserto de sofrimentos, onde os maus errarão para sempre.

Negam a predestinação, pois cada homem é livre para escolher entre o Bem e o Mal, para isso prescrevem sete preceitos de obrigação e quatro de convite. Não mentir (portanto não roubar, não matar e não ser adúltero), amar seus irmãos na fé, não acreditar em outras religiões, não desvendar os mistérios, renunciar ao Rival, ser submisso à vontade divina e ser forte e resignado tanto diante da felicidade como diante da adversidade, são os preceitos de obrigação. Ser humilde, caridoso, não se embriagar e evitar a luxúria são os preceitos de convite.

SUFIS

“Embora freqüentemente confundidos com uma seita muçulmana, os sufis sentem-se à vontade em todas as religiões”.

Robert Graves (1.895-1.985) – poeta, mitologista e estudioso das religiões

 

Surgidos como uma reação à racionalização externa do Islã, como o luxo na corte do califa de Bagdá, sendo adotada, sobretudo, durante os séculos VIII e XIII, sofreu influência do cristianismo (Jesus como ideal ascético), do pitagorismo, do neoplatonismo, do zoroastrismo, do taoísmo e do hinduísmo. Com adeptos entre os xiitas e sunitas, o século XIII viu o florescimento da poesia mística e foi a idade de ouro do sufismo, quando começaram a surgir as ordens sufis (tariqahs), com seus mestres espirituais (shaikhs) e discípulos (faqirs em árabe ou darvish em persa), desde a Índia até o norte da África. (428-348 a.C.), Plotino (205-270) e Jâmblico (250-328) são considerados shaikhs. Segundo Robert Graves, Platão (1.895-1.985), muitos cristãos ilustres, entre eles Hugues de Payns (1.070-1.136, foi o fundador da Ordem dos Cavaleiros Templários em 1.119), São Francisco de Assis (1.181-1.226) e o filósofo franciscano Roger Bacon (1.220-1.292), foram influenciados pelo Sufismo.

Nascido do ascetismo, o sufismo incentivava o jejum, a oração e a meditação, é considerado hoje um movimento místico (atitude espiritual que tem por objetivo realizar a união da alma com a divindade, por diversos meios, como o ascetismo, a devoção, o amor e a contemplação). Considera o espírito humano como uma emanação do divino, ao qual se esforça por se reintegrar. Essa reintegração é buscada por três meios: pelo amor, pelo êxtase e pela intuição.

A poesia mística sufi trata Alá como o Bem-amado que ama suas criaturas muito mais do que elas O amam. Usa o amor e a dor aguda gerada pela aparente separação de nossa alma de Alá, como uma forma de aproximação. É o caminho do amor dos poetas árabes persas.

A doutrina sufi distingue entre o que denomina “etapa” (os esforços para avançar no “caminho”) e “estado” (os dons outorgados por Alá). As principais etapas são o arrependimento, a abstinência, a renúncia, a pobreza, a paciência, a confiança em Alá e a satisfação. Os estados são, segundo Muhammed Iqbal (1.877-1.938), a crença Naquele que não se vê, a busca Daquele que não se vê, o conhecimento Daquele que não se vê e a real percepção Daquele que não se vê 28:xvi.

Para seguir esse caminho, é necessária a orientação de um shaikh, a quem se deve obedecer em tudo. A meditação nas escrituras, a purificação do coração e o desenvolvimento da percepção levam ao objetivo último do faqir, que é a contemplação de Alá, alcançada após a experiência do êxtase (estado de arrebatamento da pessoa que, alheia ao mundo sensível, parece estar em comunicação com, ou diante de um ser espiritual), na qual se descobre que Alá mora dentro do homem (Halladj).

Usa exercícios especiais, como a recitação de orações repetitivas, acompanhados de movimentos respiratórios, como forma de se entrar em transe: o Zikhr (veja em MEDITAÇÃO). Um dos mais conhecidos rituais dos dervixes (seguidores do sufismo) é a dança do Sema, onde alguns giram durante horas, imersos em profundo êxtase, com os braços estendidos, a palma da mão direita elevada e voltada ao alto e a palma da mão esquerda mais baixa e voltada ao chão. O propósito, segundo dizem, é permitir que a energia divina de Alá atravesse o corpo, entrando pela palma da mão direita e saindo pela palma da mão esquerda, para espalhar-se por toda a Terra. Também têm, como prática espiritual, as reflexões, as orações, o jejum e os retiros.

Enquanto o primeiro meio de reintegração com o divino leva ao contato com Alá através do sentir (amor) e o segundo meio através do êxtase contemplativo (Yoga muçulmano), a terceira forma usa a intuição que traz o “conhecimento mental” de Alá, usando símbolos, objetos visíveis para se falar do invisível, e a lembrança (dhikr) contínua de Alá, pela repetição de Seu nome. Visa à extinção (fana) da noção de separatividade do eu e a intuição de que Alá está presente em tudo.

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