Nossos medos são obstáculos à nossa paz mental, que são fruto de nossos apegos e aversões, que, por sua vez, são fruto de nossa auto-identificação com aquilo que achamos que somos. Achamos que somos o que na realidade não somos, e isso é fruto de nossa ignorância quanto à nossa verdadeira identidade.
Tudo isso é teoria, conhecida como teoria dos kle?as, no Yoga-sutra. Mas teoria é uma coisa e a prática é uma outra coisa. Na prática sempre nos defrontaremos com questionamentos como esse da Betânia: ‘e aí, o que eu faço com esse medo que estou percebendo em mim?’ A solução prática da Mary, com a qual a Socorro se identificou, são soluções pessoais que, ou são frutos de uma real percepção da própria coragem, ou são frutos de um processo de auto-afirmação da própria coragem (muito usado na psiconeurolinguística, ou na prática das afirmações ou decretos que fazemos para nós mesmos, sankalpa no Yoga): repito tantas vezes para mim mesmo alguma coisa que isso passa a ser uma verdade para meu cérebro e para a minha mente (psique). Isso é fácil para aqueles que tem uma personalidade voltada para a ação (karma-iogues).
Outra forma prática seria a total entrega de nossos medos a algo ou alguém que consideramos muito superior a nós mesmos (‘entrego a Deus todos os meus medos’), muito fácil para aqueles que tem uma personalidade devocional (bhakti-iogues).
Mas para aqueles com uma personalidade investigativa forte (jñana-iogues), que gostam de entender e achar explicações para tudo, isso pode não ser tão fácil ou satisfatório. Eles necessitam entender porque estão sentindo medo. Para esses o Yoga sutra recomenda:
1. Perceba e reconheça que você tem medos.
2. Procure as causas de seu medo. Com certeza você encontrará alguma forma de apego ou alguma forma de aversão.
3. Procure os mecanismos que construíram esse apego, ou os mecanismos que construíram essa aversão.. Com certeza você encontrará alguma forma de auto-identificação com coisas ilusórias.
4. Quando se percebe as ilusões, cessa o medo, porque cessa a auto-identificação e, por conseguinte, o apego (ou aversão).
Outra forma de encarar nossos medos é observar que eles sempre nos remetem a coisas passadas ou futuras, portanto fora da realidade presente, a única que existe, e, portanto, ilusórias. Temos medo, geralmente, de que se repitam coisas que, no passado, nos foram desagradáveis, de perder coisas a que estamos apegados (mas que ainda não perdemos) ou medo de entrar em contato com coisas que não queremos (mas que ainda não entramos em contato): medo do futuro. Ou ainda, medo de coisas que não entendemos ou não conhecemos: medo de não ter ou perder o controle.