O Menino Sean e sua Nova Vida

Goiânia – GO

 

Até mesmo a lógica formal poderia ter ajudado no caso do menino Sean: 

A mãe e o pai têm o direito da guarda dos filhos; se a mãe morre, o direito é do pai; ora, a mãe de Sean morreu; logo, o pai de Sean tem o direito de sua guarda!

Também o bom senso teria resolvido isso há muitos anos em favor do pai da criança. Mas como o bom senso passou bem longe dos juízes brasileiros, a criança virou peteca e jogaram com ela até esfrangalhá-la!

O mais grave é que isso só acontecer em todos os recantos dessa terra de Santa Cruz impregnada da razão tupiniquim. As pessoas se separam e os filhos viram objetos de seus caprichos, joguetes de suas intrigas, moedas de troca de seus negócios, instrumentos de seus pés-de-meia. 

Em certos lugares são chamados de “coisinhas”, noutros lugares de “trenzinhos”, noutros de “bichinhos”, noutros de “piazinhos” etc. E são tratados, sob olhares medúsicos de progenitores, como coisinhas lindas, trenzinhos bonitinhos, bichinhos engraçadinhos, piazinhos fofinhos, guris espertos ou moleques levados. 

Os pequenos, coisificados, crescem fazendo tudo o que querem até perceberem que a sociedade não permite isso e alguns, os mesmos que atormentam os professores, voltam para matarem os progenitores, os avós ou outros que acharam estar cuidando deles sem lhes porem os necessários limites.

Sean vai viver num país bem diferente, em uma cidade de Nova Jersey situada próximo à cidade em que crescem três de meus sobrinhos-netos, o mais velho deles com a mesma idade desse menino, vítima de sequestro.

Lá ele não poderá sequer sair à rua sozinho para andar de bicicleta. Se isso acontecer, o seu pai irá à Corte do Condado, e será julgado pelo crime da negligência.

Lá, ele poderá sair com o pai para comprar melancia, nas chácaras em volta da cidade, e verá como os donos das melancias confiam no pai dele: ele encontrará o monte de melancias, à beira da estrada, com uma placa indicando do preço e uma mesa ao lado com uma caixa de dinheiro na qual ele poderá depositar o valor da melancia e até fazer o troco, sem precisar de ninguém para atendê-los. 

Lá, ele vai achar muito estranho a falta de muros e vai aprender que não se deve pôr os pés no jardim do lado de lá das pequenas marcas que dividem as propriedades dos vizinhos.

Lá, se o pneu do carro estourar, ele verá o seu pai chamando o borracheiro para fazer o serviço. Quem sabe, ele perguntará: “Pai, por que o senhor mesmo não o faz?” e ouvirá do pai: “Meu filho, este é o serviço do borracheiro, e é ele que paga imposto por isso; portanto, se eu o fizer, serei multado”.

Lá, ele poderá frequentar uma escola pública, e a escola o buscará e o trará de volta todo dia no mesmo horário; além disso, enviará à sua casa, diariamente, uma psicóloga para ficar duas horas com ele, ajudando-o a superar os traumas das rupturas que lhe foram impostas.

Lá, ele vai questionar o pai quando este avançar o sinal vermelho, e o pai vai ter que explicar que não havendo ninguém cruzando a rua ele poderá passar, mesmo que o sinal esteja vermelho. Assim, Sean já começará a aprender uma regra básica de que naquela nação não se deve perder tempo e que é muito bem explicada numa antiga máxima:  ” Time is money ! “.

Difícil para ele será passar o atual inverno com vários graus abaixo de zero e entender porque as chaminés da Philadelphia, na Pensilvânia, situada ali por perto, soltam no ar, ainda, em pleno século XXI, espessas e poluidoras colunas de fumaça. 

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