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Na realidade, embora haja um apoio técnico-científico bem fundamentado, na medida em que cada vez mais se encara toda a ‘substância’ que compõe o universo, na realidade os múltiplos universos, como sob a influência da vibração mental, o filme peca por destinar boa parte do mesmo numa louvação às posses pessoais, sejam materiais ou até posse de outros seres (como conseguir a mulher amada). Nesse sentido, não fica mesmo muito diferente dos pacotes baratos de ‘auto-ajuda’ que recebem severas críticas dos céticos e críticos literários e de cinema.
Embora a mente do Observador possa interferir no Universo quântico, e até no universo macroscópico, como demonstrado nas centenas de experiências com máquinas geradoras de números aleatórios, nos fenômenos controlados de telepatia e telecinese (e demais fenômenos paranormais), não é a minha mente ou a de um ser humano normal que conseguirá tal efeito. Tem-se que ter mais algo do que apenas pensar a respeito de algo, ou desejar algo: existe uma suprema importância naquilo que as tradições orientais chamam de FOCO MENTAL.
Nossa mente, normalmente, só consegue focar sobre alguma coisa durante 6 a 10 segundos**, continuamente, e isso é muito pouco em termos de interferência quântica ou macroscópica. John Hagelin (Ph.D em física quântica, autor da teoria da supersimetria, fundamento básico da teoria quântica) afirma:
“… se usamos a mente num nível muito superficial de pensamento ordinário, teremos um poder muito limitado. Poderemos apenas mover um grão de pó através da mesa, sem usar as mãos. Então a consciência será débil. Porém, em um nível mais profundo de consciência, a consciência cria universos” (citado no filme Quem Somos Nós: uma Nova Evolução: confira)
O filme começa a demonstrar a que veio quando começa a demonstrar, mas isso não fica muito bem claro e isso é motivo de crítica, que o trabalho de mentalizar é diário (mostra um executivo, no início do filme, em postura de meditação), feito no silêncio interno e externo, e, de preferência, nos primeiros minutos após acordarmos. Isso nada mais é que uma construção do meu dia, como recomendado por todas as tradições filosófico-religiosas conhecidas, é rezar ou praticar a meditação quando acordamos. E o que é meditação: é um estado mental a que chegamos quando passamos mais de 12 segundos focando nossa mente em um só objeto, coisa extremamente difícil para um principiante, inundado na sua avalanche de pensamentos sobre coisas passadas e coisas futuras.
Isso nada mais é do um método de auto-hipnose e auto-afirmação, princípios muito bem estudados pela Programação Neurolinguística (PNL) e embasados em dados neurocientíficos e em princípios filosóficos que datam da Antigüidade, como nos papiro egípcios de Ebers ou, já no século X, pelo médico filósofo Avicena em seu “O Livro das Curas”:
“a imaginação humana tem poderes e força, e só através dela se pode agir sobre o corpo humano” (extraído do livro Órion: Filosofia, Religião e Ciência – Volume 2 – Sobre o Homem)
Na filosofia Yoga, essa prática é conhecida como samkalpa, e consiste em formular frases de efeito, ou pensamentos inspiradores, sempre com o verbo conjugado no presente, em momentos do dia em que o acesso fácil ao inconsciente, a partir de um estado de consciência modificado semelhante ao sono, mas situado entre ele e a vigília, se torna mais fácil (logo após o acordar, ou instantes antes de adormecer, a ‘twilight zone’). Esse é o trunfo principal dessa técnica, quando realizados juntamente com a meditação diária.
A clareza de propósitos que criará a nossa realidade é dependente de se ter uma mente clara e centrada. Não conseguimos o que queremos porque não conseguimos ter clareza em nossos propósitos, tão inundada com pensamentos que é nossa mente. Não conseguimos formular um propósito nem nos concentrar nele diariamente e ficamos reclamando porque não conseguimos o que desejamos. Não basta apenas desejar em pensamento, mas é fundamental focar o nosso pensamento com uma intensidade tal que faça girar a engrenagem do Universo. Mais ainda, esse foco mental não é uma forma ativa de esforço, mas uma forma totalmente passiva e relaxada, livre de expectativas e esforços, uma total entrega (para saber mais detalhes sobre a energia mental passiva consultar “A Energia Mental” no Capítulo 2 de Órion Volume 2).
E mais ainda, de nada adianta foco mental se não desobstruirmos o nosso caminho para a chegada do que desejamos. Como querer ficar rico se habitualmente somos vorazes consumidores, como conseguir o que almejamos se ficamos escondidos em nossas ‘tocas’? Esse passo, fundamental ao meu ver, não é sequer tocado no filme, mas fica implícito no caso da garota que queria um namorado e que saiu para a praia e teve uma oportunidade de jogar voleibol de duplas com mais três pessoas e só então conheceu o seu namorado, que tanto desejava.
Resumindo, não é só pensar e desejar, tem-se que gerar suficiente energia mental passiva, através de exercícios meditativos e limpar os obstáculos físicos que existem entre mim e o meu objeto de desejo, seja ele físico, emocional ou mental. Mas não pense, que a meta final do processo meditativo é apenas conseguir realizar desejos físicos, emocionais ou mentais. A meta final do processo meditativo é realizar o nosso maior desejo, oculto nas profundezas de nosso Ser: o desejo de ser Infinito, de conhecer o Absoluto, mergulhar na consciência Cósmica e fundir-se com Deus, a nossa Meta Última.
NOTAS EXPLICATIVAS
** Essa questão do tempo é um pouco complicada, entre as relatividades de Einstein e o nosso tempo psicológico, etc.. Pesquisas em neurociências e neuropsicologia mostram quem a mente normalmente só mantém o seu foco durante, em média, 6 a 10 segundos. Normalmente nossa mente passeia, quer dizer, sai para um outro foco associativo em menos de 10 segundos: pensamos em algo e por causa disso nos lembramos de alguma outra coisa, que nos remete a uma outra coisa, etc. etc.. Esse seria o normal, mas apenas porque a grande maioria da humanidade se comporta dessa maneira. Nas palavras de Roberto Crema e do Professor Hermógenes, isso não é normal, é NORMÓTICO, e a normose é endêmica. É normal roubar, enganar, mentir, imprimir terror, ou educar pelo medo, etc.. Mas é normal apenas no sentido matemático e estatístico, não no sentido dhármico e ético.
Enfim necessitamos treinar a nossa mente para que ela amplie o seu poder de foco. Em outras palavras, que aprendamos e sejamos capazes de viver o presente e não mais sermos guiados pela nossa mente associativa, que a todo tempo nos leva consigo rumo ao passado de nossas memórias e experiências passadas. Desligar nossa mente associativa é sair das regiões de nosso cérebro responsáveis por essa função e exercitar os nossos lobos frontais, que são responsáveis pelo nosso poder de concentração.
Para ilustrar trago aqui uma citação do Órion vol. 2, que pode ser levada ao pé da letra ou num sentido metafórico:
Para Satyananda, a verdadeira concentração (dharana) ocorre quando há uma contínua percepção de um objeto por doze segundos. Para ele, meditação (dhyana) ocorre quando a percepção permanece por doze vezes doze segundos, o sabija samadhi em doze vezes doze vezes doze segundos e o nirbija samadhi, em doze vezes doze vezes doze vezes doze segundos, ou seja 5h:45m:36s.
Sabija samadhi é o mais baixo nível de superconsciência e o nirbija samadhi é o mais alto, o que nos leva à iluminação final. Toda técnica, dita de meditação, não é uma técnica de meditação, mas uma técnica de concentração (repetição de mantras, visualização criativa, “meditação analítica”, rezar um terço, observar a respiração, etc.). A meditação é um estado mental que “acontece” quando passamos mais de doze segundos concentrados em alguma coisa.
A própria arte marcial é a arte de estar presente, em movimento. Com o tempo conseguimos estar presente em nosso cantinho de silêncio, em nosso exercício contemplativo diário (para quem o exerce), mas estar presente no cotidiano que nos engole é uma outra coisa. A arte marcial nos faz exercitar na pele, na sensação, na emoção e no pensamento esse aspecto: aprender a nos transportar para o “olho do furacão”, o único local silencioso, calmo e presente do caos. Aprender a ver tudo passando ante nossos olhos, na calma silenciosa de nosso centramento e alinhamento, no olho do furacão, dentro de nós mesmos.
Ser atento é saber estar no olho do furacão. 24 horas por dia, 30 dias por mês 12 meses por ano…
Cláudio Roberto Freire de Azevedo
Médico, Escritor, Instrutor de Filosofia Oriental e Yoga, Facilitador da UNIPAZ-CE,
professor convidado nas disciplinas ‘Medicina e Espiritualidade’
(Faculdade de Medicina da UFC) e ‘Psicologia e Religião’
(Faculdade de Psicologia da UNIFOR)