Calcula-se que existam hoje no Brasil mais de 5 milhões de iogues. Só nos dois primeiros meses do ano, a procura por aulas aumentou 20% no país em relação ao mesmo período do ano passado.
Matéria veiculada na revista Veja
Uma combinação de fatores populariza a ioga. “Estudos mostram que ela ajuda a diminuir o ritmo cardíaco, a regular o sistema respiratório e a reduzir a pressão sanguínea”, diz o cardiologista Raul Dias dos Santos, do Instituto do Coração, em São Paulo. Por isso, ela entrou para o receituário médico como forma de prevenir doenças, por seus efeitos contra o stress, a depressão e a ansiedade. A procura também cresce à medida que aumenta a oferta de modalidades. Algumas estão bem longe do propósito original de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo, como dizia aquele hino hippie dos anos 70.
Há até aula de ioga embalada por música pop. Dos cerca de quarenta tipos de ioga praticados no país, pelo menos 25 são exercícios mais vigorosos. E é justamente isso o que está atraindo mais jovens e os homens às aulas de ioga. Entre o público masculino, a adesão à prática cresceu 50% nos últimos quatro anos. Com a ajuda de especialistas, VEJA traçou o perfil das seis modalidades mais difundidas no Brasil e aponta as circunstâncias em que cada uma delas é indicada.
Ashtanga
O que é: a modalidade preferida de Madonna e Sting é uma das mais desafiadoras – trabalha muito força e flexibilidade. A aula é composta de uma série frenética de cerca de 25 posições, praticamente sem descanso entre elas, que inclui inversões e torções abdominais. Uma técnica específica de respiração faz com que o corpo produza calor. A ideia é aumentar a transpiração para queimar toxinas. As posturas costumam exigir a contração dos músculos da região pélvica, o que requer maior esforço físico Grau de dificuldade: alto. Até as classes para iniciantes são difíceis de acompanhar.
Para quem é mais indicada: para pessoas que já fazem algum tipo de exercício físico vigoroso, esportistas e dançarinos. Por aumentar muito a frequência cardíaca, os médicos não a recomendam a quem é hipertenso ou diabético Comentário: prepare-se para suar em bicas. O ideal é começar a aula no mínimo três horas depois de uma refeição leve. As contrações musculares e a respiração podem causar enjoo durante o processo de digestão. Pelo mesmo motivo, os especialistas desaconselham a ingestão de líquidos em excesso antes da prática. Como a sequência de exercícios dificilmente se altera, a aula pode se tornar um tanto repetitiva
Hatha
O que é: trata-se da linha tradicional, da qual derivou a maior parte das outras modalidades de ioga. É uma aula lenta, que dá ênfase aos exercícios simples de respiração, ao relaxamento e à meditação. A sequência de posturas equilibra força e flexibilidade, de acordo com as necessidades dos alunos Grau de dificuldade: baixo. As classes podem ter níveis mais avançados, mas, ainda assim, a aula não exige muito esforço do praticante
Para quem é mais indicada: para quem está começando a praticar ioga ou para quem quer se dedicar mais à meditação Comentário: se você é do tipo que busca o ritmo frenético de academia em uma aula de ioga, esqueça. Essa é uma atividade leve, para não dizer levíssima. Pode ser lenta demais para quem almeja exercícios atléticos ou vigorosos
Iyengar
O que é: uma espécie de ioga de sustentação. A ideia é manter pelo maior tempo possível as posturas em perfeito alinhamento. Utilizam-se nas aulas materiais de apoio como argolas, almofadas, blocos, cintos e mantas para ajudar o aluno a manter-se corretamente nas posições. A aula é intensa, mas exige bem menos que a de ashtanga. Originalmente, não inclui meditação nem relaxamento
Grau de dificuldade: médio. Mesmo com os materiais de apoio, a aula requer força nos membros
Para quem é mais indicada: para quem está em busca de uma atividade que melhore o alinhamento da coluna e dos ombros. Por funcionar como um tipo de fisioterapia, a iyengar é indicada ainda para quem se recupera de lesões ósseas e musculares. Ela é útil também para pessoas mais velhas com doenças crônicas como artrite
Comentário: o tempo de permanência nas posturas pode chegar a até cinco minutos – dez vezes o tempo-padrão –, o que requer fôlego e resistência física
Power Yoga
O que é: uma das modalidades mais atléticas, esse tipo de ioga é uma mescla de estilos como ashtanga e vinyasa. Mais comum nas academias de ginástica, a prática foca, sobretudo, na força muscular e na flexibilidade. Inclui sempre técnicas de meditação e relaxamento
Grau de dificuldade: de médio para alto Para quem é mais indicada: para quem busca um treino de força, quer perder peso ou ganhar músculos sem abrir mão da meditação. É pouco recomendada a quem é hipertenso ou diabético
Comentário: por mesclar movimentos de várias modalidades, a aula de power yoga trabalha o corpo de maneira bastante completa. Há, no entanto, um risco maior de lesões musculares se ela é mal conduzida. O ideal é certificar-se da formação do professor, especialmente em academias de ginástica
Kundalini
O que é: conhecida como a ioga da consciência, seu foco é o desenvolvimento espiritual. Seus seguidores acreditam na liberação de um tipo de energia, a kundalini, que ficaria concentrada na base da coluna. Os mantras e exercícios de respiração podem tomar cerca de 10% da aula, que também tem sequência fixa de posturas. Elas procuram beneficiar a coluna e a circulação no sistema nervoso central
Grau de dificuldade: baixo. A aula inclui movimentos mais lentos, sem impacto, e bastante meditação
Para quem é mais indicada: para quem está procurando exercícios de atenção e foco. Os especialistas recomendam esse tipo de aula a quem sofre de alergias e outros distúrbios do sistema respiratório
Comentário: apesar de a prática ser mais suave, os diferentes padrões de respiração profunda, que devem ser mantidos durante as posturas, exigem esforço do iniciante
Vinyasa ou yoga Flow
O que é: seu estilo é similar ao da ashtanga, mas não existe uma sequência fixa de posições a ser repetida em todas as aulas. O aluno permanece por cerca de trinta segundos em cada postura, e elas vão se alternando rapidamente, sem descanso
Grau de dificuldade: médio. Apesar de a vinyasa ser menos exigente que a ashtanga, a passagem de uma postura a outra requer agilidade e, em alguns casos, força
Para quem é mais indicada: para pessoas que procuram uma aula mais complexa, mas consideram monótona a repetição de posturas. Pode ser adaptada a qualquer nível de exercício físico
Comentário: é a mais ocidentalizada das iogas. É comum os professores usarem música pop ou lounge para embalar as aulas. Os movimentos rápidos tornam a modalidade menos indicada para quem tem lesões na coluna ou nos joelhos. Os especialistas recomendam fazer sempre uma aula experimental, para medir a resposta do corpo
Especialistas consultados: Raul Dias dos Santos (cardiologista), Rene Abdalla (ortopedista), Analu Matsubara, Anderson Allegro, Charlie Barnett, Eliane Calado, Guilherme Nascimento, Márcia de Luca, Marilda Velloso e Sotanter Kaur (professores de ioga), e Teresa Camarão e Valéria Mauriz (instrutoras de pilates)