Os Milagres e a Magia

Enquanto a palavra “milagre” faz pensar em um fator divino a palavra “magia” nos reporta a forças místicas ou transcendentais. A magia seria a capacidade de influenciar pessoas ou acontecimentos, aliciando os seres espirituais ou ativando forças naturais ocultas. Dessa forma os milagres têm um sentido conotativo benévolo e a magia um sentido conotativo malévolo. Mas na verdade pode-se inferir o sentido benévolo da magia como incluído na esfera dos milagres, conhecido habitualmente como magia branca, em contraposição à magia negra, direcionada para o mal.

Enquanto a magia homeopática (semelhante atrai semelhante) é usada por sacerdotes tribais para alterar os fenômenos naturais, a de contágio (conexão entre as partes e o todo) constitui o aspecto central da magia na religião Vodu haitiana. Praticada indiscriminadamente na Antigüidade (ver em Gn 41:8, Ex 7:11s e Dn 2:1ss), a magia, a comunicação com “seres imateriais” e a invocação dos mortos (adivinhação), a interpretação de sonhos e a astrologia, foram proibidas pela primeira vez por Iaweh, o Deus dos hebreus, através de Moisés (Lv 20:27, Dt 18:10ss, Lv 19:31, 20:6, 20:27) e dos profetas (Is 47:12-15 e I Sm 28:9). Apesar disso, o costume continuou, atribuindo o ato a Deus (Gn 40:8, 40:18, 41:15s, Ex 7-8, Dn 2:27s e I Sm 28:7-20). Segundo o Corão (2:102), a magia foi ensinada aos homens pelos demônios, como forma de tentá-los.

A magia cerimonial como aspecto central da religião ainda é vista nas religiões indígenas e nas africanas e suas derivadas afro-americanas, como a Macumba e o Candomblé brasileiros, o Iucumi (santería) cubano e o Vodu haitiano. A Macumba, termo genérico que designa as práticas mágicas do Umbanda  e do Quimbanda, conota o sentido maléfico desta. O Candomblé prega a existência de uma comunicação constante dos seres humanos com seus genitores divinos (os Orixás ou Arashas – veja no volume 3). Já a Umbanda é um movimento surgido no final do século XIX, no Rio de Janeiro, como sincretismo religioso de tradições ameríndias, africanas, européias, asiáticas, espiritismo e Candomblé, numa forma não sectária nem dogmática. Tem três entidades espirituais principais: o Preto Velho (relacionado com a doutrina tântrica que conduz à sabedoria e revela a universalidade das coisas), o Caboclo (relacionado com a doutrina yântrica que consiste na percepção dos ritmos do universo) e a Criança (relacionada com a doutrina mântrica que busca purificar os sentimentos e alcançar o amor por meio de sons).

Alguns conceitos são universais em todos os seus segmentos: culto aos Orixás, louvação dos ancestrais nas suas três formas (Crianças, representando a pureza e o amor, Caboclos, representando a fortaleza e a ação com simplicidade, e Pretos Velhos, representando a sabedoria, a experiência e a humildade), a doutrina da reencarnação e a ligação sacra do homem com a Natureza e seus espíritos.

Outra forma ancestral de comunicação com aqueles “seres imateriais”, bons ou maus, como forma de ajuda no plano físico, é conhecida como Xamanismo (técnicas arcaicas de êxtase), surgida há pelo menos 10 mil anos, no período Neolítico. Presente ainda nos dias de hoje, e difundida em tribos primais de todo o mundo (tão distantes como a Groelândia, Sibéria, América do Norte, Austrália e Amazônia), centra sua prática na figura do Xamã, homem com poderes mágicos, que em estado de êxtase (estar além do físico), alcançado pela batida do tambor ou pelo uso de ervas psicoativas, “voa a outros mundos”, com o fito de resgatar pedaços de alma (energias perdidas no inconsciente) dos doentes, a causa de suas enfermidades (Cf. em “MENTE CONSCIENTE AMPLIADA“). O Xamã reúne em si atributos de sacerdote, curandeiro, cientista pesquisador (conhecedor de ervas medicinais), músico, poeta e guardião dos mitos do povo. Enquanto sacerdote curandeiro, o Xamã se vale da proteção de “espíritos aliados”, quando se projetam nos sonhos do paciente para curá-lo, os quais podem ser espíritos de ancestrais, de bichos (os animais de poder, que vivem nos mundos inferiores) ou de seres evoluídos (mundos superiores).

Uma forma evoluída de comunicação com esses mesmos seres e produção de fenômenos inexplicados surgiu na França, no século XIX, tendo ficado conhecido com o nome genérico de espiritismo. A paranormalidade e as manifestações extra-sensoriais estão intimamente ligadas ao espiritismo. Suas doutrinas do carma, da reencarnação, da imortalidade do espírito e da pluralidade dos mundos mostram uma clara semelhança com a religiosidade dita oriental.

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