Filósofo, Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Brasil e Presidente da Agência de Informação Frei Tito para a América Latina – ADITAL.
Tudo parece conduzir à afirmação básica de que não há alternativas para nosso mundo. Se isto é, de fato, uma tendência que marca efetivamente o contexto atual de nossas sociedades, felizmente não é a única. As próprias conseqüências negativas do processo atual de globalização provocaram resistências que se multiplicaram pelo mundo afora, nos meios mais diversos e em diferentes níveis, à busca de alternativas. Um elemento importante neste contexto é que é cada vez menor a crença de que seja possível produzir uma mudança radical num curto espaço de tempo. O próprio fracasso do socialismo real ajudou à tomada de consciência de que uma mudança realmente profunda na vida humana é um processo longo, que exige muito empenho e continuidade.
Porto Alegre se transformou, desde o ano passado, no lugar de confluência desses esforços, onde as pessoas fazem a experiência da possibilidade efetiva da transformação de nossa realidade, através da análise crítica das inúmeras experiências já em curso em todo o mundo e da discussão teórica das alternativas. Não está em jogo aqui, como muitas vezes se diz, uma atitude puramente negativa frente à globalização irreversível, mas se trata da criação de um imenso laboratório, teórico e prático, para se convencer de que um outro mundo é efetivamente possível e para analisar criticamente as propostas alternativas que têm surgido.
Já na reunião do ano passado, o sociólogo belga François Houtart insistia em que é ainda muito cedo para fazer uma síntese das propostas alternativas, embora seja muito importante saber em que direção elas caminham. Para ele, elas devem ser consideradas em dois níveis básicos. O primeiro é o nível das utopias entendidas como projeto mobilizador. Aqui emerge a idéia de uma nova lógica para reger a produção, o que deve levar a novas regras para o jogo econômico: “a substituição da noção de lucro por aquela de necessidade; a consideração da maneira social de produzir no processo de produção e no desenvolvimento das tecnologias; o controle democrático não somente do campo político, mas também das atividades econômicas; o consumo como meio e não como objetivo; o Estado como órgão técnico e não como instrumento de opressão, etc.”
O nível das utopias, no entanto, deve traduzir-se em programas, o que constitui o segundo nível. No plano econômico já emergem algumas alternativas importantes em médio prazo:
- Uma outra modulação das trocas globalizadas, o que implica que se excluam da lógica mercantil alguns setores das atividades inter-humanas sob pena de elas perderem seu sentido. A circulação livre não pode significar apenas respeito ao capital, mas também às pessoas;
- Em contraposição à gigantesca concentração que marca a atual globalização, é importante acentuar que os grupos regionais constituem uma outra maneira de se situar no processo globalizante;
- Eliminação dos obstáculos ao desenvolvimento das economias dependentes;
- Redução do comércio de armas e seu estrito controle internacional;
- Estabelecimento de limites à lógica mercantil, o que implica a construção de uma economia social que abra espaço para muitas soluções, inclusive para a propriedade dos meios de produção pelo conjunto dos produtores;
- Reorganização do processo de produção e de distribuição. Somos todos convidados a pensar o novo.