Principais Escolas Budistas

BUDISMO TIBETANO

No Tibete havia uma religião primitiva, o Bom-Po (Bonismo), uma forma de xamanismo anímico caracterizada por sacrifícios aos deuses e rituais mágicos. O Bonismo original acreditava que no início da criação havia dois ovos, um branco e outro preto. Os dois ovos quebraram. Do ovo branco saíram os deuses, humanos, etc., e do preto saíram os parasitas, os demônios, etc.. Posteriormente adotou a suástica à direita como símbolo e sistematizou suas doutrinas que incluíam o caminho para rezar por boa fortuna, medicina, vitória nas guerras, como arranjar um ritual apropriado para um funeral, e ainda métodos de mágica para discernir o verdadeiro do falso, e o culpado do inocente.

No século VII o budismo foi introduzido no Tibete pelo seu 32o rei, Songsten Gampo (617-650), que se casara com duas princesas budistas, uma nepalense e outra chinesa. Foram convidados inúmeros sábios budistas, como Santarakshita e Padmasambhava, para ensinar a filosofia e traduzir o Triptaka. Padmasambhava, proclamou as deidades Bonistas como as deidades menores do Budismo, adotou as crenças e rituais Bonistas e permitiu que se comesse carne. A velha luta entre o Budismo e a religião Bom-Po resultou que cada uma absorveu os pontos fortes da outra fazendo com que o Budismo emergisse e entrasse em um estágio de rápido desenvolvimento. Foi então redigido o Mahasiddhi (Grande Realização), em dezoito volumes incluindo o Triptaka e literatura tântrica (esotérica) relativa à prática da meditação em língua tibetana. Dessa forma o budismo tibetano inclui as escolas Vajrayana (tântrica), Mahayana e Theravada.

No começo do século XI o budismo tibetano entrou em declínio, com práticas degeneradas e ensinamentos falsos florescendo por toda a parte, até que o santo erudito indiano Atisha (982-1.054), a pedido do rei Jangchub Ö, chegou ao Tibete (1.042) e escreveu um pequeno texto de três páginas intitulado “Uma Luz para o Caminho da Iluminação”, esclarecendo os sutras (ensinamentos) e os tantras (ritos) do Buda, restabelecendo o Dharma puro no Tibete. Desde então a série de ensinamentos, denominados Lam-rim, em tibetano, e contendo todos os ensinamentos do Buda, foram compilados de uma forma coerente, clara e lógica.

Com a perda da unidade política e poderio militar, o Tibete se fragmentou em numerosos territórios independentes, favorecendo o crescimento do poder religioso. Foi durante esse período que o budismo tibetano se diversificou em diversas seitas, como: Nyingma, Gatang, Sakya, Kagyiu, Zhigyed, Gyoyul, Gyonang, Kodrag e Xalhu. As últimas cinco eram realmente muito fracas, lhes faltando um suporte político. Elas foram forçadas a juntar forças ou acabaram sendo anexadas por outras seitas. Os ensinamentos das seitas Nyingma (“os Antigos”) e Kagyiu dão ênfase nos campos da filosofia da mente e da ciência da meditação. No século XV um grande professor, conhecido como Lama Tsong Khapa (1.357-1.419), fundou uma nova tradição, a Gelugpa, escola predominante atualmente no Tibete. A seita Gatang se dissolveu e seus monges e mosteiros se uniram à seita Gelugpa.

O sobrinho de Tsong Khapa, seu discípulo Gendum Drub (1.391-1.474), é considerado o primeiro dos 14 Dalai Lamas que surgiram, os quais são reconhecidos como encarnações de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão, fato explicado pela doutrina do Tulku (vide no volume 2). O atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, é o responsável pela grande difusão do budismo na atualidade. Teve reconhecimento mundial com o Nobel da Paz em 1.989.

 

“O caminho da moderação [Hinayana] é praticado externamente;

O espírito de Bodhisattva [Mahayana] é praticado internamente;

Os métodos esotéricos do mantra [Vajrayana] são praticados secretamente”.

Lama Tsong Khapa (1.357-1.419)

 

A essência do budismo tibetano, o coração do Vajrayana, está nos ensinamentos do Lam-rim. Ensina que a mente humana foi poluída pela ignorância, aversão e fixação, e que os pensamentos negativos criam um karma negativo cujo resultado é o sofrimento. Logo a transformação da mente pela prática dos ensinamentos do Lam-rim (o Dharma), é a chave da libertação de todos os sofrimentos, meio de purificar as criações negativas dessa vida e de vidas passadas, do contrário o destino será o renascer em um dos domínios inferiores (o inferno, o domínio dos fantasmas famintos, o dos animais, o dos demônios belicosos, o dos homens e o dos devas), com um sofrimento contínuo.

Essa transformação da mente tornando-a firme, estável, livre de emoções negativas (como a raiva, o ódio, a inveja, o orgulho e a ganância extrema) e saturada de sentimentos positivos (como o altruísmo, o afeto, o amor e a compaixão), leva a um estado de tranqüilidade e paz. Essa paz mental, a verdadeira fonte da felicidade, no qual foram erradicadas por completo todas as emoções aflitivas, é o estado de moksha ou nirvana. Ou seja o nirvana é um estado mental.

O primeiro passo nesse caminho é a conduta moral disciplinada (shila), abandonar as dez ações não virtuosas: físicas (matar, roubar, ter má conduta sexual), verbais (mentir, causar discórdia, falar com agressividade e fazer fofoca) e mentais (cobiçar, fazer o mal com intenção e ter visões errôneas – como o niilismo ou a existência independente).

Segundo o Lama Padma Samten (Alfredo Aveline, físico e primeiro Lama brasileiro, pertencente à linhagem Nyingma), aquela transformação da mente não é uma coisa que devemos nos impor, mas transmutar em nós. A meditação na Sabedoria diferenciadora (Dhyani-buddha Amitabha) e em “deidades de meditação”, tem o objetivo de uma identificação com nossos aspectos negativos, como forma de nos livramos deles (princípio homeopático). Se a raiva está muito presente dentro da pessoa, ela deve usar essa raiva como instrumento de força na compaixão para com os seres. Se o apego está muito presente dentro da pessoa, ela deve apegar-se, com todas as suas forças, ao sentimento de compaixão. Todas as nossas negatividades são apenas manifestações cármicas, tendências herdadas de vidas anteriores com as quais temos que manifestar empatia e compreensão.

O foco da prática é o serviço. Praticar a compaixão e nos alegrar quando um outro recebe um benefício. Essa prática pode ser feita de quatro modos:

  1. Compaixão tranqüilizadora: acolher os seres e acalmá-los, confortá-los;
  2. Compaixão incrementadora: ajudar os seres a se levantarem, reparar os seus pedaços;
  3. Compaixão de poder: ajudar aos outros encontrarem o seu próprio ”eixo”, seu caminho a seguir; e
  4. Compaixão “Irada”: ajudar a neutralizar as qualidades negativas dos outros. Combater o orgulho com a humanidade, a inveja com os bons votos, o desejo e apego com a generosidade, o cansaço com a energia, a carência com o equilíbrio, a raiva com a boa vontade e o medo com o equilíbrio e destemor.

O segundo passo pessoal é o compromisso de controlar todas as emoções negativas. Aqui a seriedade, a força de vontade, a coragem, a determinação e, principalmente, a paciência, são indispensáveis. Esse compromisso é feito com a prática das “dez perfeições” (paramitas): a Caridade (Dana), o Dever Ético (Shila), a Renúncia (Nekkhama), a Sabedoria (Panna), o Esforço (Virya), a Paciência (Khanti), a Fidelidade (Sacca), a Determinação (Adhitthana), a Bondade (Metta) e a Equanimidade (Upekka).

O objetivo final é a condição de Buda, que pode levar bilhões de anos para ser alcançada, mas também pode ser alcançada numa só vida, que pode ser esta atual, nem que seja no momento da morte, como descrito no Livro dos Mortos Tibetano. Quando a mente e o poder ou a força da consciência são completamente desenvolvidos e estimulados, chega-se à Iluminação, ou estado mental de Buda. Ou seja, esse estado também é uma qualidade mental.

Aliado a esse trabalho mental, há uma busca constante de ajuda em forças transcendentais, que estão à disposição no Universo. Existe uma identificação do Universo com a dimensão pura da mandala ou yantras (círculos), todos os pensamentos são atividades da mente iluminada, todos os sons são mantras (proteção mental), todos os gestos são mudras (gestos de conexão) e todos os seres são budas. É preciso se ter a base firme dos ensinamentos e da prática das escolas Theravada e Sutrayana. Mas essas práticas, comuns também no hinduísmo, isoladamente não funcionam.

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