O fato é que começaram os pedidos de votos. Acirra-se a campanha das duas chapas que disputam a eleição da Unimed. Cada dia encontro alguém que me aborda nos corredores dos hospitais, nos centro cirúrgicos, nas direções, nos estacionamentos, nas cooperativas, nos conselhos. São médicos interessados em que uma das duas chapas vença. Os da chamada situação enfatizam os pontos positivos da administração que ora encerra-se. Os da oposição acusam.
Até aí nenhuma surpresa. Toda disputa eleitoral é repleta de trocas indecorosas. Os tapinhas nas costas são símbolos de uma hipocrisia insuspeita. Em rodinhas e panelinhas escracha-se o que virou as costas. Fatos ou não, fala-se o que quer. As palavras têm poder. Diz o Robert Kiyosaki que as palavras podem criar dinheiro. E mais: podem construir e derribar. Mas… e os fatos? Onde estão os fatos? Ora, os fatos são a verdade absoluta da vida. As palavras são a verdade absoluta do coração. Há quem queira negar, mas sempre falamos o que vai no coração. E, o pior: impossível é recolher a palavra emitida. E o que tem-se visto, ou melhor, ouvido sair das bocas é uma inflação de palavras. Somos os inflacionários da palavra. Abusamos de seu uso, de seu mau uso, a bem dizer. Banalizamos a palavra. A idéia reinante é que é possível fazer retornar a palavra à boca, ao coração, de onde ela partiu. Ledo engano. A tolerância com as faltas alheias é princípio cristão, posto que não temos moral para repreender ninguém neste mundo. Mas a tolerância com a abundância de palavras é, sem dúvida, danosa ao convívio social. Entretanto, falar não é crime. Ou é? Depende.
Corre à boca miúda, conseqüente à súcia boquirrota, que um certo doutor chefe do departamento financeiro da Unimed também deixou escapar intempéries do discurso. Teria ele dito que a atual administração da Unimed Fortaleza, da qual ele faz parte, manteria um caixa dois para arrecadar fundos para a campanha eleitoral e, quem sabe?, outras finalidades. É sabido de todos os nativos dessa terra onde abundam as malandragens e os ladravazes que caixa dois significa dinheiro obtido à margem da legalidade. Ou seja: o atual diretor do departamento financeiro da Unimed acusa seus companheiros de administração de roubo. Segundo consta ainda da avalanche de palavras, o diretor não faz uma denúncia formal ou criminal por não reunir provas daquilo que diz ser um fato. Se o roubo fosse atestado ser fato, então seria uma verdade absoluta, incontestável. Diz ainda o Kiyosaki que se você não pode determinar se algo é um fato então é uma opinião. Ora, uma opinião não é necessariamente uma verdade absoluta. Ele admitiu não poder provar, não poder com documentos ou testemunhas atestar a veracidade de suas graves acusações. Seria mais um exemplo de mau uso da palavra por parte de um cidadão que teria a obrigação e a sabedoria de saber evitá-lo? Até que prove o contrario me parece que sim.
Também o ouvir há que se aprender. Quem ouve deve calar para que o coração se enleve ou se ire com razão. Se ouvimos, entendemos. Pode-se perguntar quando em dúvida, ou responder se bem compreendido. E podemos também calar. Quem cala consente, diz o adágio popular. Nenhuma resposta oficial foi disseminada por parte da direção da Unimed acusada da tal irregularidade furtiva. Silêncio sepulcral. Nada se ouviu. Pelo menos eu não ouvi. Uma resposta a essa acusação teria de ser ouvida de norte a sul, de leste a oeste. A resposta é imperiosa sob pena de se plantar no coração das pessoas a semente da desconfiança e perda da credibilidade. O ônus da prova se impõe ao acusador e deve ser exigido. Se persistir em não provar há que responder criminalmente por difamação e calúnia. Ou os causídicos lá acham os artigos incorridos pelo insensato em sua verborréia acusadora. Se todos calam após discurso tão contundente está feito o mal. Ambas as partes se merecem e nós a eles.Estaremos cada vez mais distantes da verdade absoluta deste fato.
Agora deverás entender, Casoba, porque digo que viceja a mesmice no meio médico desta cidade. Todos se nivelam na mesmice de acusar e não provar, de ouvir e não se indignar, de ganhar mal e se desonrar, de reclamar e calar. Espasmos de perdedores inconformados. “Médico, cura-te a ti mesmo” (São Lucas).