Vivência de Paz

A opção entre construir novos valores ou despedaçar sonhos

            A escola antes tida como um local de total segurança, traz a “novidade”, em especial na década de 1980, de ter sido eleita como centro de descarrego de mágoas e frustrações sociais (Dimenstein, 1999). Em paralelo há uma grande demanda dos moradores das periferias por segurança, e nas escolas a necessidade de uma gestão mais democrática “Buscava-se uma instituição mais aberta em suas práticas e propiciadora de melhores condições de permanência dos alunos mais pobres nos sistema formal de ensino” (Spósito, 2001, p.91).

            As violências no entorno e no interior do espaço escolar são diversificadas e vão tomando formas mais graves na década de 1990. Se desde os anos 1980 já podiam ser identificados pequenos furtos, roubos, incivilidades[5], ameaças de alunos contra professores, depredação dos prédios, destruição do mobiliário escolar, na década seguinte, além desses tipos de violência, torna-se mais visível o tráfico de drogas, as agressões físicas e verbais entre alunos, as invasões do prédio nas férias, as brigas entre gangues nas proximidades e até no interior das instituições escolares.

   Uma das causas a que mais se atribuí o crescimento do número de registros de violência foi o aumento de matrículas a partir do ano de 1997. A democratização da escolarização no Brasil possibilitou o ingresso de elevado número de estudantes que não tinham a vivência da “disciplina escolar”. As escolas não estavam culturalmente preparadas para receber esta parcela da população (Matos, 1999).

            Embora a violência na escola tenha passado a ser muito identificada com os jovens alunos, estigmatizando-os, é interessante verificar a violência da própria instituição, através de práticas autoritárias para com os alunos e a comunidade, traduzida, muitas vezes, pela imposição de um conjunto de valores e saberes, que desvaloriza o saber popular (Matos, 1998a).

            De acordo com Santos (2001, p.107) podemos reconhecer a violência no espaço escolar pelo “enclausuramento do gesto e da palavra”. O autor acrescenta que a mundialização da violência escolar tem sido simbolizada pelo silêncio. Podemos então entender que muitos dos atos de vandalismo, como a dilapidação do patrimônio público, podem estar falando de uma insatisfação e crise de convivência entre alunos e escola. Em virtude disso, se por um lado muitas instituições insistem em procedimentos disciplinares como advertências, suspensões, transferências, expulsões, outras têm buscado novos caminhos para compreender e lidar com a violência na escola.  

            O problema da violência pode ser transposto, por vezes, com soluções bem simples como o diálogo, a tomada de resoluções em conjunto, a abertura da escola para a comunidade em horários alternativos, como foi o caso da Escola Municipal Oliveira Viana, em São Paulo. As quadras dessa escola passaram a ser bastante utilizadas pelos alunos, inclusive nos finais de semana. A diretora acredita que os jovens estando ocupados em atividades como essas ficam longe das drogas e da violência. “Segundo a diretora, há muito tempo não são registrados crimes na escola e nas imediações. Entre outubro de 1998 e agosto do ano passado, o número de mortes no Jardim Ângela diminuiu 53,4% (Viveiros, Folha de São Paulo, 18.02.2000).

            Prado (1999) apresentou também diversas experiências de escolas que optaram pela paz, cada uma a seu modo, achando formas alternativas de não-violência. Serão registradas a seguir. O Centro Integrado de Ensino Público (Ciep) Mestre Cartola, no Rio de Janeiro, apesar de localizar-se entre duas favelas (conhecidas por serem territórios de confrontos entre o Terceiro Comando e o Comando Vermelho) após a “Chacina de Vigário Geral”, que atingiu parentes e amigos de funcionários e alunos[6], iniciou um trabalho de recuperação da auto-estima, em que os professores incentivavam a convivência pacífica. A unidade do grupo docente alcançou um resultado tão positivo que o diretor, Alberto Silvado, solicitou, na época, à Secretaria de Educação do Rio de Janeiro a permanência da equipe na escola. O cuidado com os alunos, a coesão do grupo e a valorização desse trabalho são pistas concretas da construção de valores positivos em meio à adversidade.

            Outro exemplo foi o da Escola Estadual Professor Renato Arruda, de São Paulo, que teve uma aluna assassinada no pátio do colégio. A depredação do local também mostrava que a violência se fazia presente. A diretora buscou os pais para que falassem sobre suas insatisfações e desejos. Fez um acordo com eles, pedindo a sua ajuda. A escola passou a ser aberta à participação comunitária, repensando o uso desse espaço, buscando a atuação com transparência, fazendo da comunidade parceira.  Essa atitude faz com que juntas, escola e comunidade possam “… romper o ”cordão de isolamento” que cerca a escola, como também constituir uma pratica política forte, ultrapassando o vício do autoritarismo ao ensaiar passos rumo à participação[7] (Matos, Maia, 1995, p.106).

  O Ciep Nação Mangueirense (RJ) demonstrou grande flexibilidade quando num primeiro momento proibiu os alunos de ouvirem seus walkmans durante o recreio e depois voltou atrás por perceber que isso não traria mal algum. Além do aprendizado evitaram reações agressivas por parte dos discentes.

            Na Bahia, os alunos da Escola Estadual Padre Palmeira, ao assistirem a peça “Cuida Bem de Mim” (1998) identificaram suas atitudes nas falas e ações dos personagens o que os impulsionou a uma mudança de comportamento imediata. Voltaram para a sua escola e realizaram um mutirão: começaram a ajeitar carteiras, pintar paredes, substituir as pichações por grafitagem.Resolveram deixar a escola limpa, expressando seu carinho pelo local onde estudam.Passaram a perceber a escola como sua acreditando que a revitalização desse espaço repercutiria na qualidade das relações internas e externas à escola. (Matos, 1994)

            O Centro de Apoio Integral à Criança (Caic) Maria Felício Lopes é uma escola pública da rede estadual de Fortaleza que chama a atenção por ter uma orquestra de câmara, formada pelos alunos. Localiza-se no bairro Castelo Encantado, região conhecida pelo número de gangues nos eu entorno. Devido a esse contexto, O Projeto Escola Viva – do qual a escola faz parte, buscou ter os alunos o maior tempo possível na escola, estudando e participando de oficinas Dentre as oficinas destaca-se a orquestra de câmara escolar, patrocinada pela Companhia Elétrica do Ceará. A participação da comunidade na escola, segundo a direção, afasta as atitudes violentas. É aberta para pais e alunos diariamente para atividades como jogos de futebol, ginástica para as mulheres, entre outras..

            Todas essas diversas experiências acima citadas, trazidas por Prado (1999), indicam a opção que tem sido feita para a construção da paz nas escolas. Destacamos, nessa mesma direção, a vivência da Escola Parque 210/211 Norte que passou a trabalhar com o Reiki, substituindo-o pelas punições disciplinares. Estenderam ainda essa pratica de cura aos professores e comunidade. Antes de trazer o detalhamento de como se deu essa opção pela paz na escola, explicaremos o que é o Reiki.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *