Bruno Rodrigues Parahyba
5º Semestre de Medicina na Universidade Federal do Ceará
Professora Eliane,
A Medicina já não é mais a mesma, os valores morais das ciências médicas têm sido sobrepujados pelo tecnicismo e pela aquisição da superficialidade nas relações humanas, incluindo-se aí a relação médico-paciente, que cada vez mais tem-se deteriorado com o tempo. A Medicina como arte de curar e confortar tem tido sua imagem deturpada pelo excesso de egoísmo e austeridade de muitos profissionais de saúde no trato de seus pacientes, o que é exemplificado quase que diariamente nos corredores de muitos hospitais públicos de nosso país.
Os Médicos têm perdido muito de sua essência individual, e muitas vezes suas crenças e seus valores pessoais, que progressivamente vem sendo substituídos por modelos comportamentais baseados na educação estritamente técnica e qualificada do mundo contemporâneo, aonde qualquer forma de interação sentimental entre médicos e pacientes muitas vezes têm sido vetadas e rechaçadas do ambiente clínico e hospitalar. É como se o corpo humano agora fosse uma máquina, que ao apresentar defeito, necessita de reparo, e caso contrário, é rejeitada para não atrapalhar a linha de produção e os lucros futuros. Essa organização hierarquizada e sistematizada de trabalho nos remete a uma idéia: será que estamos diante de uma reedição do clássico modelo Taylorista do século 20 aplicado ao campo da Saúde?
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Dizem os fundamentalistas... Ah! Você não sabe quem são eles. Vou explicar. Fundamentalistas são pessoas muito religiosas (se católicas, protestantes, muçulmanas ou judias pouco importa, pois todas pensam do mesmo jeito). Elas pensam que Deus é dono de um jornal. Não só dono como também redator-chefe, repórter e linotipista. Nesse jornal, que se chama O Correio Divino, tudo sai diretamente da pena de Deus, os editoriais, as reportagens, os artigos, os obituários, com a devida autenticação dos carimbos do cartório dos anjos. Por essa razão, tudo o que é ali publicado tem de ser acreditado tintim por tintim, nos seus mínimos detalhes: Deus não espalha boatos falsos, só para aumentar a venda. O Correio Divino publica só o que aconteceu de verdade, não importa quão fantástico possa parecer; para Deus tudo é possível, como o portento de Josué, que fez parar o Sol no meio do céu, e o do profeta Jonas, engolido e vomitado por um peixe, depois de gozar de sua hospitalidade visceral por três dias.
Pois eles, baseados no tal jornal, afirmam que Deus plantou um jardim maravilhoso há muito tempo, quase seis mil anos, muito longe, lá pelas bandas do Iraque. Por um desentendimento entre Deus, o casal de jardineiros e uma cobra, Deus expulsou os dois de lá e fechou a porta do Paraíso, que nunca mais foi achado. Por lá, hoje, só se acha areia, guerra e petróleo, e dizem os entendidos que foi isso que restou do jardim de Deus, transformado em óleo preto por artes do Demo.
Acho um desperdício. Se o que Deus queria era só plantar um paraisinho, por que gastar tempo e energia fazendo um mundo tão grande, tão bonito, o Rio Amazonas, o Himalaia, o mar, as praias com coqueiros, os riachinhos nas montanhas, o Pantanal e o Lago de Como, que é onde estou agora? Teria sido muito mais lógico fazer um mundo do tamanho do jardim, seria mais fácil tomar conta, e assim tudo caberia num asteróide, como aquele onde morava o Pequeno Príncipe.