Capítulo 2 – A SEPARAÇÃO E A EXPIAÇÃO
VII. Causa e efeito
1. Podes ainda reclamar do medo, mas apesar disso persistes em amedrontar a ti mesmo. Eu já indiquei que não podes pedir a mim que te libere do medo. Eu sei que o medo não existe, mas tu não sabes. Se eu interviesse entre os teus pensamentos e os seus resultados, estaria adulterando uma lei básica de causa e efeito, a lei mais fundamental que existe. Dificilmente eu poderia te ajudar se depreciasse o poder do teu próprio pensamento. Isso estaria em oposição direta ao propósito deste curso. E muito mais útil lembrar-te de que não vigias os teus pensamentos com suficiente cuidado. Podes sentir que, nesse ponto, seria necessário um milagre para capacitar-te a fazer isso, o que é perfeitamente verdadeiro. Não estás habituado ao pensamento da mente disposta ao milagre, mas podes ser treinado para pensares deste modo. Todos os trabalhadores de milagres necessitam deste tipo de treinamento.
2. Eu não posso permitir que deixes a tua mente sem vigilância, ou não serás capaz de ajudar-me. Trabalhar em milagres implica na realização plena do poder do pensamento de forma a evitar criações equivocadas. De outro modo, será necessário um milagre para endireitar a própria mente, um processo circular que não promoveria o colapso do tempo para o qual o milagre foi intencionado. O trabalhador de milagres tem que ter respeito genuíno pela verdadeira lei de causa e efeito, como uma condição necessária para que o milagre ocorra.
3. Tanto os milagres quanto o medo vêm dos pensamentos. Se não estás livre para escolher um deles, também não estarias livre para escolher o outro. Escolhendo o milagre, rejeitaste o medo, mesmo que apenas temporariamente. Tens estado amedrontado com todas as pessoas e todas as coisas. Tens medo de Deus, de mim e de ti mesmo. Tu nos percebeste mal ou nos criaste equivocadamente e acreditas no que fizeste. Não terias feito isso se não tivesses medo dos teus próprios pensamentos. Os que têm medo não podem deixar de criar de forma equivocada, porque percebem equivocadamente a criação. Quando crias de forma equivocada, estás em dor. O princípio de causa e efeito agora vem a ser um real expedidor, embora apenas temporariamente. De fato, “Causa” é um termo que propriamente pertence a Deus e Seu “Efeito” é o Filho de Deus. Isso acarreta um conjunto de relações de Causa e Efeito totalmente diferentes daquelas que introduzes na criação equivocada. O conflito fundamental nesse mundo, portanto, se dá entre criação e criação equivocada. Todo medo está implícito na segunda e todo amor na primeira. O conflito é, portanto, um conflito entre amor e medo.
4. Já foi dito que acreditas que não podes controlar o medo porque tu mesmo o fizeste e a tua crença nele parece deixá-lo fora do teu controle. No entanto, qualquer tentativa de resolver o erro tentando dominar o medo através da maestria é inútil. De fato, ela afirma o poder do medo pela própria suposição de que o medo tem que ser domado. A verdadeira solução baseia-se inteiramente na maestria através do amor. Nesse ínterim, contudo, o senso de conflito é inevitável, já que te colocaste em uma posição na qual acreditas no poder do que não existe.
5. Nada e tudo não podem coexistir. Acreditar em um é negar o outro. O medo na realidade é nada e o amor é tudo. Sempre que a luz penetra na escuridão, a escuridão é abolida. O que acreditas é verdadeiro para ti. Nesse sentido, a separação ocorreu e negá-la é meramente usar a negação de maneira imprópria. Porém, concentrar-te no erro é apenas mais um erro. O procedimento corretivo inicial é reconhecer temporariamente que existe um problema, mas só como uma indicação de que é necessário uma correção imediata. Isso estabelece um estado na mente no qual a Expiação pode ser aceita sem adiamento. Contudo, deve-se enfatizar que, em última instância, nenhuma transigência é possível entre tudo e nada. O tempo é essencialmente um instrumento através do qual pode-se desistir de toda transigência a esse respeito. Ele apenas parece ser abolido por etapas, porque o tempo em si mesmo envolve intervalos que não existem. A criação equivocada fez com que isso fosse necessário como medida corretiva. A declaração “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” só precisa de uma leve correção para ser significativa nesse contexto: “Ele o deu ao Seu Filho unigênito”.
6. Deve-se notar especialmente que Deus só tem um Filho. Se todas as Suas criações são Seus Filhos, cada um tem que ser uma parte integral de toda a Filiação. A Filiação, em sua unicidade, transcende a soma de suas partes. Todavia, isso fica obscuro enquanto qualquer uma de suas partes está faltando. É por isso que, em última instância, o conflito não pode ser resolvido até que todas as partes da Filiação tenham retornado. Só então pode o significado da integridade em seu verdadeiro sentido ser compreendido. Qualquer parte da Filiação pode acreditar no erro ou no incompleto, se assim escolher. Todavia, se o faz, está acreditando na existência do nada. A correção desse erro é a Expiação.
7. Já falei brevemente sobre a prontidão, mas alguns pontos adicionais podem ser úteis aqui. A prontidão é apenas o pré-requisito para a realização. As duas não devem ser confundidas. Assim que ocorre um estado de prontidão, usualmente existe algum desejo de realização, mas isso não significa necessariamente que ele não seja dividido. Esse estado não implica em nada mais do que um potencial para a mudança da mente. A confiança não pode se desenvolver plenamente enquanto a maestria não tiver sido conseguida. Nós já tentamos corrigir o erro fundamental de que o medo pode ser domado e enfatizamos que a única maestria real é através do amor. A prontidão é só o começo da confiança. Podes pensar que isso implique na necessidade de uma enorme quantidade de tempo entre a prontidão e a maestria, mas permita-me lembrar-te que o tempo e o espaço estão sob o meu controle.