Impactos da Passagem do Milênio (Parte 1)

O QUE É UM SER HUMANO?

Nós não sabemos o que é um ser humano pleno, nós começamos normóticos! Nós desenvolvemos certas ideologias, certas abordagens e mesmo antropologias, estudando normóticos! E aí, eu gosto de lembrar que está passando uma peça, do homem da desobediência civil, esse livro que foi o livro de cabeceira de Mahatma Gandhi, esse homem que dizia NÃO, esse homem que não se perdeu. Mesmo quando toda a normóse do Estados Unidos que declarou guerra, ele achava injusto e dizia: Eu não pago imposto porque eu não acho justa essa guerra! Ele foi preso. Quem quer fugir do destino de ser máquina, de ser normótico, tem que correr risco! E num momento feliz, Henrique dizia: 'Um justo, no meio de seus muitos vizinhos já é a maioria de um!' Portanto, o que é um ser humano?

Não sei se vocês já conheceram um ser humano pleno, inteiro, verdadeiro. Eu receio ter que dizer que o ser humano nesse momento é uma grande utopia, não no sentido do irrealizável, no sentido do irrealizado ou ainda não realizado, aquilo para o qual não há espaço.

Disse o Mestre: 'Aos 15 anos orientei meu coração para aprender, aos 30 eu plantei meus pés firmemente no chão, aos 40 não mais sofria de perplexidade, aos 50 eu sabia quais eram os preceitos do céu, aos 60 eu os ouvia com ouvidos dóceis, aos 70 eu podia seguir as indicações do meu próprio coração, porque o que eu desejava não mais excedia as fronteiras da justiça'. Palavras de Confúcio, há 2600 anos. Ele sabia o que era um ser humano. O mesmo que diziam os antigos Terapeutas de Alexandria, que nos inspiraram a criar, na UNIPAZ, o Colégio Internacional dos Terapeutas, cujo mentor é o Jean-Yves Leloup: 'Você troca de roupa em dois minutos; leva-se uma existência inteira para trocar de coração'.

O que é um ser humano? O ser humano é uma promessa. Os antigos diziam que o ser humano ainda não nasceu, que nós somos uma possibilidade. O ser humano é um potencial de florescimento. Se nós investirmos na dimensão do coração, na dimensão da alma, poderemos nos tornar seres humanos plenos. Porém, temos feito isso? Quando é que eu inclinei meu coração para aprender, aprender realmente quem sou… e comprar uma briga, nadar contra a correnteza muitas vezes. Porém, quando você se coloca no seu caminho, que é o caminho da sua promessa, o caminho com coração, então o mistério conspira por você e você evolui de uma existência perdida, alienada, para uma existência escolhida, ofertada. Portanto, essa é uma grande pergunta : 'O que é o ser humano'? E antes de falar sobre a questão específica da liderança, eu gostaria de fazer uns traços a título de indicação e, inspirando-me nesse grande irmão, Jean-Yves Leloup, para falar de algumas visões do ser humano. Não é possível saber o que é liderança, nem o que é educação, nem o que é saúde, se nós não esclarecermos nossos pressupostos antropológicos, ou seja, a visão que postulamos do ser humano porque é a partir dessa visão que diremos o que é saúde, o que é patologia, o que é uma liderança efetiva, o que é excelência humana e o que é miséria humana.

Até onde eu posso enxergar, existem 3 tipos de seres humanos:

  • Aqueles que nascem e morrem piores do que nasceram – são os degenerados;
  • Aqueles que nascem e morrem como nasceram – são os que mantiveram a saúde ; e
  • Aqueles que nascem e se tornam quem eles são, assim como uma flor se torna uma flor, uma mangueira se torna uma mangueira – são os que aceitaram o desafio da evolução.

Quando perguntaram para Krishnamurti – que foi um ser humano pleno! – 'Por que você ensina?', ele respondeu: 'Por que um pássaro canta?'. Eu gosto muito da provocação e sempre lembro de Abraham Maslow, um dos pais da psicologia humanística, que dizia : 'Num certo sentido, apenas os santos são a humanidade'. O resto não deu certo. Quer saber o que é um ser humano? Estude os santos, não apenas os da tradição católica; também os da tradição hindu, taoísta, xamanística, da tradição sufi, todas as tradições; e os agnósticos também (os santos sem tradição). É preciso estudar seres humanos que deram certo. E aí, lembro-me sempre dessas palavras de Teresa de Calcutá : 'Santidade não é um privilégio de poucos, é uma necessidade de cada um de nós'. E digo mais; nesse momento é uma obrigação de cada um de nós! Acontece que projetamos o nosso potencial em algumas pessoas especiais, o que os antigos e o próprio Maslow chamavam de complexo de Jonas, que o Jean-Yves Leloup interpreta tão bem no seu livro 'Caminhos da realização'. Jonas, em hebraico, é Iona, que significa a pomba das asas cortadas. Jonas é esse ser que nos habita e que tem medo de ser quem ele é, que tem medo de atender ao chamado. Os antigos estudavam os personagens das escrituras não apenas na sua dimensão histórica, mas também como grandes imagens, imagens estruturantes da nossa psique, da nossa existência, arquétipos diria Jung. Parece-me que Jonas é o arquétipo que precisamos estudar quando queremos falar sobre liderança, porque ele nos indica sobre o nosso desejo inconsciente da normose: como nós gostamos de uma normose e como resistimos a investir no nosso potencial máximo.

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