Um camponês tinha um boi e um jumento muito velhos e já imprestáveis para o trabalho no campo. Afeiçoara-se a eles. Gostaria que morresssem de morte natural. Mas iam definhando dia a dia. Resolveu sacrificá-los no matadouro. Quando decidiu, sentiu-se mal não conseguindo dormir à noite.
O boi e o jumento perceberam que havia algo de estranho no ar. Moviam mal suas carcaças sem poder dormitar. A vida lhes fora dura. Passaram por vários donos. De todos apanharam muito. Era sua condição de animais de carga.
Lá pela meia-noite, repentinamente, sentiram que uma mão invisível os conduzia por estreito caminho rumo a uma estrebaria. Diziam entre si: “Que nos obrigarão fazer nesta noite fria? Não temos mais força para nada”.
Foram conduzidos a uma gruta, onde havia uma luzinha trêmula e uma manjedoura. Pensavam que iam comer algum feno. Ficaram maravilhados quando viram que lá dentro, sobre palhinhas, tiritante, estava um lindo recém-nascido. Um velho inclinado, José, procurava aquecer o menino com seu sopro. O boi e o burrinho logo entenderam. Deviam aquecer o menino. Também com seu sopro. Aproximaram seus focinhos. Quando perceberam a beleza e a irradiação do menino, suas carcaças estremeceram de emoção. E sentiram forte vigor interno. Com os focinhos bem pertinho do menino, começaram, lentamente, a respirar sobre ele que assim ficou aquecido.
De repente, o menino abriu os olhos. “Agora ele vai chorar” disse o burrinho ao boi, “pois nossos focinhos feios o assustaram”. O menino, ao contrário, os fitou amorosamente e estendeu a mãozinha para acariciar seus focinhos. E continuava a sorrir, como se fora uma cascata de água.
“O menino ri” disse José a Maria. “Ele não pára de rir”. “Deve ser porque o focinho do boi e do burrinho são engraçados”. Maria sorriu e ficou calada. Acostumada a guardar todas as coisas em seu coração, sabia que era um milagre de seu divino menino.
O fato é que os próprios animais ficaram alegres. Ninguém lhes havia reconhecido algum mérito na vida. E eis que aqui estavam acalentando o Senhor do universo na forma de uma criança.
Ao voltar para casa, perceberam que outros burros e bois os olhavam com ar de admiração. Estavam tão felizes que ao avistar a casa arriscaram até um galope. Ai perceberam que estavam realmente cheios de vitalidade.
Voltaram para a estrebaria. De manhãzinha veio o patrão para levá-los ao matadouro. Eles ficaram assustados, como se dissessem:”deixa-nos viver um pouco mais!”. O padrão olhou espantado e disse:”mas estes não são os meus velhos animais? Como assim que estão revigorados, com a pele lisa e luzidia e as pernas firmes e fortes”?
Ele os deixou estar. Durante anos e anos serviram ao patrão fielmente. Mas ele sempre se perguntava: ” Meu Deus, quem transformou de repente em jovens e vigorosos, o burrinho e o boi tão velhinhos”? Mas as crianças que sabem do menino Jesus, têm condições de lhe dar uma resposta.
Com o Menino, o boi e o jumento desejo: “Feliz Natal a todos os leitores e leitoras”.