Pensamento Sistêmico

A ciência nos trouxe inúmeros benefícios em termos de bem estar social e progresso econômico. Podemos viajar a qualquer lugar do mundo com relativa segurança em algumas horas, a expectativa de vida aumentou consideravelmente e a qualidade de vida é incomparável se utilizarmos períodos anteriores como referência.

Este avanço começou de forma mais acentuada com a Revolução Científica do século XVII, através do equacionamento das leis da física por Isaac Newton e do pensamento filosófico de Renée Descartes. Esta nova concepção de pensamento fundou-se em três premissas básicas: o pensamento analítico, a estabilidade e a objetividade.

O pensamento analítico presume que para entender o todo devemos entender o funcionamento das partes. O “dividir para conquistar”. A separação do mundo complexo em partes facilitaria o entendimento do todo. Isto funciona para diversas áreas da ciência, onde podemos utilizar como grande exemplo deste pensamento a estrutura do átomo (que significa indivisibilidade), na tentativa de chegar a parte mínima da matéria. No entanto, no próprio átomo provou-se a existência das partículas que o constituem (elétron, próton, nêutron), e a estas partículas também se encontrou sub-partículas, e a estas também, numa cadeia interminável de separações subjacentes. Com os estudos da física quântica, chegou-se ao paradoxo de que o elétron não seria apenas partícula, mas também onda, não se chegando a um componente único fundamental.

A premissa da estabilidade baseia-se que o mundo é estável e determinístico, onde através do conhecimento de todas as variáveis existentes poderíamos ter previsibilidade através de uma concepção de causalidade linear.

A objetividade baseia-se na crença em que é possível conhecer o mundo objetivamente tal como ele é na realidade, independente do observador. Utiliza-se a objetividade como critério de cientificidade, sendo a ciência feita como o máximo de impessoalidade em seu desenvolvimento e disseminação.

Graças ao grande avanço social e tecnológico que emergiu com a utilização dessas premissas para a construção da ciência, ocorreu um condicionamento na forma de pensar, utilizando essas premissas como única forma válida de pensamento, através de uma generalização. Assim, o progresso científico cobrou seu preço, limitando diferentes formas de visão.

O pensamento sistêmico não nega a racionalidade científica, mas acredita que apenas ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano, e por isso deve ser desenvolvida em conjunto com outras visões de mundo. A própria ciência chegou ao seu limite na forma de pensar. O Princípio da Incerteza de Heisenberg diz que não é possível saber ao mesmo tempo, a posição e a velocidade de um elétron. O determinismo aqui foi substituído por indeterminação e probabilidades.

O pensamento sistêmico utiliza o método científico, mas não se restringe a ele. Os pressupostos utilizados são a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade.

A complexidade reconhece que a simplificação através da análise obscurece as inter-relações das partes, perdendo-se de vista o contexto ao qual elas estão inseridas.

A instabilidade reconhece que o Universo é indeterminado, imprevisível, irreversível e que os fenômenos não podem ser controlados. Em uma abordagem orgânica, este pressuposto reconhece que o mundo está em um constante processo de vir a ser, de tornar-se.

A intersubjetividade reconhece que não existe uma realidade objetiva, independente do observador, indicando que o conhecimento científico é uma construção social feita por diversos indivíduos, permitindo múltiplas visões da realidade.

Em muitos meios ainda se segue a linha de pensamento mecanicista-reducionista, que acabam limitando a visão de mundo. O pensamento sistêmico é uma forma de abordagem emergente, mais ampla, onde cada vez mais conteúdo é publicado e novas descobertas são feitas. Segue alguns livros que tratam do assunto de forma muito pertinente:

– A Teia da Vida (Fritjof Capra)

– O Ponto de Mutação (Fritjof Capra)

– A Quinta Disciplina (Peter Senge)

– Wholeness and The Implicate Order (David Bohm)

– Os livros do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (discípulo de Freud) tratam do assunto intersubjetividade com maestria

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