A função do trabalhador de milagres

Capítulo 2 – A SEPARAÇÃO E A EXPIAÇÃO

V. A função do trabalhador de milagres

1. Antes que os trabalhadores de milagres estejam prontos para empreender sua função nesse mundo, é essencial que compreendam inteiramente o medo da liberação. De outro modo podem inadvertidamente fomentar a crença em que liberação é aprisionamento, uma crença que já prevalece muito. Essa percepção equivocada surge, por sua vez, da crença em que o dano pode ser limitado ao corpo. Isso acontece em função do medo sub-reptício de que a mente pode ferir a si mesma. Nenhum desses erros é significativo porque as criações equivocadas da mente na realidade não existem. Esse reconhecimento é um instrumento de proteção muito melhor do que qualquer forma de confusão de níveis, porque introduz a correção no nível do erro. É essencial lembrar que só a mente pode criar e que a correção pertence ao nível do pensamento. Ampliando uma declaração anterior, o espírito já é perfeito e, portanto, não requer correção. O corpo não existe, exceto como instrumento de aprendizado para a mente. Esse instrumento de aprendizado não está sujeito a erros próprios porque não pode criar. É óbvio, então, que induzir a mente a desistir de suas criações equivocadas é a única aplicação da capacidade criativa que é verdadeiramente significativa.

2. Mágica é o uso da mente de forma criativa porém equivocada ou não-mental. Os medicamentos físicos são formas de “encantamentos”, mas se tens medo de usar a mente para curar, não deves tentar fazê-lo. O próprio fato de teres medo faz com que tua mente seja vulnerável à criação equivocada. Estás, portanto, propenso a compreender de forma equivocada qualquer cura que possa ocorrer, e como o egocentrismo e o medo usualmente ocorrem juntos, podes ser incapaz de aceitar a Fonte real da cura. Nessas condições é mais seguro para ti apoiar-te temporariamente em instrumentos de cura físicos, porque esses não podes perceber equivocadamente como as tuas próprias criações. Enquanto persistir o teu sentimento de vulnerabilidade, não deves tentar apresentar milagres.

3. Eu já disse que milagres são expressões da mentalidade disposta para o milagre e essa mentalidade milagrosa significa mentalidade certa. Aquele que tem a mentalidade certa não exalta nem deprecia a mente do trabalhador de milagres ou a de quem o recebe. Todavia, como uma correção, o milagre não precisa esperar que a mentalidade daquele que recebe esteja disposta para o que é certo. De fato, seu propósito é restaurá-lo à sua mente certa. É essencial, porém, que o trabalhador de milagres esteja em sua mente certa, mesmo que por um breve período de tempo, ou será incapaz de restabelecer a mentalidade certa em outra pessoa.

4. O curador que confia em sua própria prontidão está colocando em perigo a sua própria compreensão. Tu estás perfeitamente seguro enquanto estás completamente despreocupado com a tua prontidão, mas manténs uma confiança consistente na minha. Se as tuas inclinações para trabalhar em milagres não estão funcionando adequadamente, isso sempre acontece porque o medo introduziu-se na tua mentalidade certa e a virou de cabeça para baixo. Todas as formas da mentalidade disposta para o que não é certo são o resultado da recusa em aceitares a Expiação para ti mesmo. Se tu a aceitas, estás em posição de reconhecer que aqueles que necessitam de cura são simplesmente aqueles que não compreenderam que a mentalidade certa é a cura em si mesma.

5. A única responsabilidade daquele que trabalha em milagres é aceitar a Expiação para si mesmo. Isso significa que reconheces que a mente é o único nível criativo e que os erros que ela comete são curados pela Expiação. Uma vez que aceitas isso, a tua mente só pode curar. Negando à tua mente qualquer potencial destrutivo e reempossando-a dos seus poderes puramente construtivos, tu te colocas em posição de desfazer a confusão de níveis dos outros. A mensagem que então lhes dás é a verdade de que as suas mentes são similarmente construtivas e suas criações equivocadas não podem feri-los. Afirmando isso, liberas a mente da super-valorização do seu próprio instrumento de aprendizado e a restauras à sua verdadeira posição como aprendiz.

6. Deve-se enfatizar mais uma vez que o corpo não aprende nem tampouco cria. Como um instrumento de aprendizado, ele meramente segue o aprendiz; mas se é falsamente dotado de iniciativa própria vem a ser uma séria obstrução ao próprio aprendizado que deveria facilitar. Apenas a mente é capaz de iluminação. O espírito já é iluminado e o corpo em si é por demais denso. A mente, porém, pode trazer sua iluminação ao corpo reconhecendo que ele não é o aprendiz e, portanto, não pode ser levado ao aprendizado. Contudo, o corpo é facilmente levado a se alinhar com a mente que aprendeu a ver além dele em direção à luz.

7. O aprendizado corretivo sempre começa com o despertar do espírito e o afastamento da crença na vista física. Isso freqüentemente acarreta medo, porque tens medo do que a tua vista espiritual vai te mostrar. Eu disse anteriormente que o Espírito Santo não pode ver o erro e só é capaz de olhar para o que está além do erro em defesa da Expiação. Não há dúvida de que isso pode produzir desconforto, no entanto, o desconforto não é o resultado final da percepção. Quando se permite que o Espírito Santo olhe para a profanação do altar, Ele também olha imediatamente em direção à Expiação. Nada do que Ele percebe pode induzir ao medo. Tudo o que resulta da consciência espiritual é meramente canalizado em direção à correção. O desconforto só surge para trazer à consciência a necessidade da correção.

8. Em última instância, o medo da cura surge de uma recusa em aceitar inequivocadamente que a cura é necessária. O que o olho físico vê não é corretivo e nem pode o erro ser corrigido por qualquer instrumento que possa ser visto fisicamente. Enquanto acreditas no que te diz a tua vista física, as tuas tentativas de correção estarão equivocadamente dirigidas. A visão real é obscurecida porque não podes suportar ver o teu próprio altar profanado. Mas, uma vez que o altar foi profanado, o teu estado vem a ser duplamente perigoso, a menos que seja percebido.

9. A cura é uma habilidade que foi desenvolvida após a separação, antes disso era desnecessária. Como todos os aspectos da crença no espaço e no tempo, ela é temporária. Contudo, enquanto o tempo persiste, a cura é necessária como um meio de proteção. Isso é assim porque a cura baseia-se na caridade e a caridade é uma maneira de perceber a perfeição do outro, mesmo quando não podes percebê-la em ti mesmo. A maioria dos mais elevados conceitos que tu és capaz de ter agora dependem do tempo. A caridade é realmente um reflexo mais fraco de uma abrangência do amor muito mais poderosa, que está muito além de qualquer forma de caridade que possas conceber por enquanto. A caridade é essencial à mentalidade certa no sentido limitado no qual ela pode ser agora alcançada.

10. A caridade é um modo de olhar para o outro como se ele já estivesse muito além de suas realizações factuais no tempo. Como o seu próprio pensamento é faltoso, ele não pode ver a Expiação para si mesmo, ou não teria nenhuma necessidade de caridade. A caridade que lhe é conferida é tanto uma admissão de que ele necessita de ajuda quanto um reconhecimento de que vai aceita-la. Essas duas percepções claramente implicam em uma dependência em relação ao tempo, fazendo com que seja evidente que a caridade ainda está dentro das limitações desse mundo. Eu disse anteriormente que só a revelação transcende o tempo. O milagre, como uma expressão de caridade, só pode encurtá-lo. Tem que ser compreendido, porém, que sempre que ofereces um milagre a um outro estás encurtando o seu sofrimento e o teu. Isso corrige retroativamente assim como progressivamente.

A. Princípios especiais dos trabalhadores de milagres

11. (1) O milagre abole a necessidade de preocupações de ordem mais inferior. Como é um intervalo de tempo fora do padrão, as considerações ordinárias de tempo e espaço não se aplicam. Quando apresentares um milagre, eu arranjarei tanto o tempo quanto o espaço para que se ajustem a ele.

12. (2) Uma distinção clara entre o que é criado e o que é feito é essencial. Todas as formas de cura baseiam-se nesta correção fundamental na percepção dos níveis.

13. (3) Nunca confundas a mentalidade certa com mentalidade errada. Responder a qualquer forma de erro com qualquer coisa exceto um desejo de curar é uma expressão dessa confusão.

14. (4) O milagre é sempre uma negação desse erro e uma afirmação da verdade. Só a mentalidade certa pode corrigir de um modo que tenha qualquer efeito real. Em termos pragmáticos, o que não tem efeito real não tem existência real. Seu efeito, então, é o vazio. Sendo sem conteúdo substancial, presta-se para a projeção.

15. (5) O poder do milagre para ajustar níveis induz à percepção certa para a cura. Até que isso tenha ocorrido, a cura não pode ser compreendida. O perdão é um gesto vazio a não ser que acarrete correção. Sem isso, é essencialmente julgador em vez de curativo.

16. (6) O perdão da mentalidade milagrosa é apenas correção. Não tem absolutamente nenhum elemento de julgamento. A declaração “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” de modo algum avalia o que fazem. E um apelo para Deus curar as suas mentes. Não há referência ao resultado do erro. Isso não importa.

17. (7) A injunção “Sêde uma só mente” é o enunciado para o estado de prontidão para a revelação. Meu pedido “Fazei isso em memória de mim” é o apelo para a cooperação dos trabalhadores de milagres. As duas declarações não pertencem à mesma ordem de realidade. Só a última envolve uma consciência do tempo, já que lembrar é recordar o passado no presente. O  tempo está sob a minha direção, mas a intemporalidade pertence a Deus. No tempo existimos para o outro e com o outro. Na intemporalidade, coexistimos com Deus.

18. (8) Tu podes fazer muito em favor da tua própria cura e da dos outros se, em uma situação que necessite de ajuda, pensares deste modo:

Eu estou aqui só para ser verdadeiramente útil.

Eu estou aqui para representar Aquele Que me enviou.

Eu não tenho que me preocupar com o que dizer ou o que fazer, porque Aquele Que me enviou me dirigirá.

Eu estou contente em estar aonde quer que Ele deseje, sabendo que Ele vai comigo.

Eu serei curado na medida em que eu permitir que Ele me ensine a curar.

 

 

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