A Obra das Estrelas

A fé inabalável em uma verdade maior, a obediência à condução interior, o sacro-ofício,  a coragem e o amor à humanidade são características dentre outras que destacam-se na vida de grandes seres que, tocados por um impulso que sobrepuja suas condições humanas, colaboram com a energia única para erguer a consciência terrestre.

Às vezes fico a perguntar-me: o que os diferencia tanto de nós? Seria o grau de intimidade com essa energia única? E o que nos aproxima tanto? É essa mesma energia única, essa centelha que habita a todos, além da grande misericórdia? Tão distantes e tão unidos… Quando seremos uno? Quando nos tornaremos tão íntimos? Até quando terão que nos aguardar? E tú, Espírito de Imitação, quando nos trará o Cristo? Referências não nos falta. Veladores, não nos falta. Instrutores, não nos falta. Curadores, não nos falta. O que nos falta? Enquanto na lentidão da matéria sufocamos nossa luz, lembremo-nos ao menos, como gratidão, àqueles que nos aguardam nos portais do fogo.

Sri Aurobindo através do poema Savitri, apresenta-nos um significado profundo da evolução universal no panorama terrestre. Desvela-nos a experiência da Terra na obra divina através de sua manifestação pelo descenso e retorno da energia. Como um dos impulsos desta obra temos os embates da alma em busca da superação da morte através do amor supremo. 

Faz-nos lembrar outro grande ser – São João da Cruz – na obra  Subida do Monte Carmelo – que também através de versos, relata-nos o trajeto da união alma espírito.

Grandes impulsos ecoam até hoje através da presença desses e outros seres na Terra e suas obras remontam o propósito de cada alma neste universo manifestado, impulsionando-nos a darmos os passos nessa grande e encantadora viagem pelo nosso próprio universo interior e pelo qual nos conduzirá à Morada Universal do Único.

Para essa grande viagem, lembra-nos Trigueirinho, do caminho de nossas Mônadas nas Escolas Internas, desenvolvendo e sintetizando as Linhagens Hierárquicas, que nos unirá ao caminho do Regente e nos diz:

“Neste sistema solar e neste ciclo, são doze os caminhos do regente: o caminho de Sirius, o caminho de Andrômedra, o caminho da vida logoica, o caminho do serviço planetário, o caminho da unificação direta, o caminho do inalterável, o caminho da vida inanimada, o caminho da fusão dos reinos, o caminho dos regentes de Raio, o caminho da confederação cósmica, o caminho do segredo polar e o caminho do silêncio…”

Futuro, passado e presente fundem-se através desses grandes instrutores que através do sacrifício e da compaixão lembram-nos que, no eterno presente, o Caminho Único para o retorno à Fonte é, e sempre será, o propósito de toda e qualquer existência. Grande é a ajuda do Pai que com a luz das estrelas imprimiu nas páginas de nossos livros as chaves do seu amor:

 

de  A Subida do Monte Carmelo

 

Em uma noite escura,

De amor em vivas ânsias inflamada,

Oh! Ditosa ventura!

Saí sem ser notada,

Já minha casa estando sossegada.

 

Na escuridão, segura,

Pela secreta escada disfarçada,

Oh! Ditosa ventura!

Na escuridão, velada,

Já minha casa estando sossegada.

 

Em noite tão ditosa,

E num segredo em que ninguém me via,

Nem eu olhava coisa,

Sem outra luz nem guia

Além da que no coração me ardia.

 

Essa luz me guiava

Com mais clareza que a do meio-dia,

Aonde me esperava

Quem eu bem conhecia,

Em sítio onde ninguém aparecia.

 

Oh! Noite que me guiaste,

Oh! Noite mais amável que a alvorada;

Oh! Noite que juntaste

Amado com amada,

Amada já no Amado transformada!

 

Em meu peito florido

Que inteiro só para ele se guardava,

Quedou-se adormecido…

E eu, terna, o regalava,

E dos cedros o leque o refrescava.

 

Da ameia a brisa amena,

Quando eu os seus cabelos afagava,

Com sua mão serena

Em meu colo soprava,

E meus sentidos todos transportava.

 

 

Esquecida, quedei-me,

O rosto reclinado sobre o amado,

Cessou tudo e deixei-me,

Largando meu cuidado

Por entre as açucenas olvidado.

 

de Savitri

 

Se no Vazio sem significado a criação surgiu,

Se de uma força inconsciente a Matéria nasceu,

Se a Vida pode se erguer na árvore inconsciente,

E o encanto verde penetrar nas folhas esmeraldinas,

E seu sorriso de beleza desabrochar na flor,

E a sensação pode despertar no tecido, no nervo e na célula,

E o Pensamento apossar-se da matéria cinzenta do cérebro,

E a alma espiar de seu esconderijo através da carne,

Como não poderá a luz ignota se lançar sobre o homem,

E poderes desconhecidos emergirem do sono da Natureza?

Mesmo agora insinuações de uma Verdade luminosa como estrelas,

Erguem-se no esplendor da mente lunar da ignorância;

Mesmo agora o toque imortal do Amante sentimos,

Se a porta da câmara apenas estiver entreaberta,

O que então pode impedir Deus de furtar-se para dentro,

Ou quem pode proibir seu beijo na Alma adormecida?

 

 

de As Chaves de Ouro

 

O contato surge do nada, e no nada se esvai. Bálsamo supremo, eleva-nos às alturas da revelação interior. Cura nossas dores humanas, traz-nos a certeza da impermanência; mostra-nos o verdadeiro valor de cada situação e, encontro após encontro, leva-nos à descobertas da essência secreta de todas as coisas. Não podemos controlá-lo, tampouco prolongá-lo. Obedece às sublimes leis do Cosmos e, como humilde servo, traz-nos as mensagens do Grande Vazio.

Oh! amados instrutores, estrelas distantes! Perdoem-nos a ignorância, que mesmo diante a tanta luz deixa-se ainda iludir-se nos emaranhados das trevas. Diante do silêncio, envereda-se nos pensamentos, desejos e palavras inúteis. Diante da alegria eterna, contenta-se com felicidades passageiras. Oh! Viajantes Cósmicos, guiai ainda mais nossos regentes, para que com seu raio de poder, faça-se um basta nos devaneios da matéria e enfim, possamos resgatar a luz dessas células inóspitas e mostrar ao mundo que o Céu é o começo da Terra.

 

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