Em qualquer fenômeno que se possa imaginar, temos sempre em jogo duas forças ou tendências: as forças de criação (ou unidade) e as forças de destruição (ou diversidade). Em física esta tendência à expansão ou diversidade recebe o nome de entropia e em biologia esta tendência à unidade recebe o nome de autopoiese ou auto-organização.
Entre a unidade e a diversidade reina o Eu, o livre-arbítrio, o querer ou a vontade. É ele o fator determinador, o fiel da balança. Quando o Eu faz uma opção desaparece o livre-arbítrio e em seu lugar surge o determinismo. É como disse o Divino mestre: Vos sois o sal da terra. Nós é que damos o tempero da vida. Disse também um sábio que dentro de cada ser habitam dois animais:um feroz e um manso. O que vencerá é o que for mais alimentado
No hinduísmo as forças de criação estão associadas a Brahma, o princípio regulador a Vishnu e as de destruição a Shiva. As forças de unidade podem se apresentar sob a forma de expansão, aumento de relações, “união”, vida, saúde, crescimento, alegria, otimismo, prazer, socialização, dentre muitas outras.
As forças de diversidade podem se apresentar sob a forma de contração, desagregação, desunião, doença, morte, extinção, tristeza, isolamento social, pessimismo, dor, dentre muitas outras. Matematicamente, as duas tendências são simbolizadas respectivamente nos valores infinito (ou 1, que lhe é equivalente) e zero. Quando um processo está sendo “atraído pelo zero” isto significa que ele está perdendo relações com as outras partes do sistema, se extinguindo, decaindo ou se tornando um aglomerado de individualidades isoladas, se tornando linear. Em suma: está se tornando entrópico.
Quando um processo está sendo “atraído pelo um” isto significa que ele está se expandindo, aumentando suas relações com as outras partes do sistema, saindo da linearidade e, numa dimensão espiritual, caminhando rumo à união com o poder criador.
Entre as duas tendências é que poderão surgir os fractais. Vou explicar melhor. Numa escala de tempo de milhares e milhares de anos, podemos dizer que muitas criaturas estão num processo de evolução rumo ao infinito, porém numa escala de tempo baixa (mas não muito baixa), o comportamento parece estável: a pessoa está bem num período, não está boa no outro, volta a ficar boa, depois piora, etc. Isso vale para intervalos de um dia, uma semana, um mês, e até de muitos anos. A proporção entre períodos bons e ruins parece ser sempre a mesma, independente de quais períodos sejam.
Assim como há seqüências ruins e boas nas linhas de transmissão telefônica, há períodos bons e ruins na vida de cada criatura. Há o tempo de errar e o tempo de acertar. Até aí não há novidade. Muita gente sabe disso sem nem conhecer a teoria dos fractais. O que é novidade é que a teoria dos fractais afirma que a proporção entre períodos bons e ruins é regular.Talvez isso pareça inacreditável quando visto no aspecto da vida humana, mas acho que isso acontece porque ninguém nunca parou para contabilizar sua vida. Por isso, exemplos mais concretos parecem mais convincentes.
O próprio Mandelbrot, criador da idéia de fractais estudou variações do preço do algodão nos Estados Unidos do ano de 1900 até início dos anos setenta e verificou, com exatidão, a simetria entre as pequenas e grandes escalas.Ou seja, o preço do algodão se comportava de forma muito semelhante quando se comparavam períodos de dias, meses ou anos. Havia um padrão de regularidade. Uma proporção constante entre quedas e altas no preço (quem descobrir uma relação dessas na bolsa de valores vai ficar milionário).
Mas a coisa não ficou só no preço do algodão. Outros estudiosos descobriram o mesmo comportamento em populações de peixes, insetos ou qualquer espécie, inclusive seres humanos (sociologia, história, biologia), epidemias (medicina), comportamento do tempo (meteorologia), fenômenos de turbulências nos fluidos (física), mistura de tintas (química), soluções de equações (matemática), dentre muitos outros casos.
Podemos, então, dizer que as coisas apenas se repetem em escalas diferentes.Assim como é em cima é em baixo, já dizia Hermes Trismegisto. Por em cima e em baixo, podemos entender aqui, sem perda de generalidade, grandes e pequenas escalas de tempo e/ou espaço.
Disse antes que entre as duas tendências (unidade e diversidade) é que podem surgir fractais. Vou agora esclarecer este ponto. Qualquer sistema pode estar em uma das duas situações: estabilidade ou instabilidade. No processo evolutivo de um ser humano, para o comportamento de alguns segundos ou minutos (ou até mesmo períodos maiores) não há previsibilidade. As coisas “parecem” aleatórias. Depois, temos estabilidade, em seguida instabilidade, e outra vez estabilidade e assim por diante. Assim, num contexto multi-escalas, há um padrão de alternâncias que possuem auto-semelhança. O que faz uma situação mudar de uma para outra são as condições momentâneas. Em matemática e física elas são chamadas de condições iniciais.
A teoria dos fractais mostra que “alguns processos” são extremamente sensíveis às condições iniciais, ou seja, uma pequena diferença pode fazer muita diferença (descobri por acaso que essa é a definição que o antropólogo Gregory Bateson deu de mente)
Eu disse “alguns processos”. Que processos são esses? São exatamente aqueles intermediários entre as tendências à unidade e diversidade. Para ser mais exato, são os processos instáveis.
Como se desestabiliza um processo? É alimentando de forma intensa e repetitiva (retro-alimentação positiva) um processo que antes estava estável. Numa população de peixes pode ser, por exemplo, colocando mais e mais peixes. A princípio, a população poderá crescer aparentemente sem limite (expansão). Chega um ponto, no entanto, em que o crescimento em demasia da população de peixes pode provocar o início da extinção (contração) pela falta de alimento. O processo poderá caminhar para uma expansão, uma extinção, uma estabilidade ou para a total imprevisibilidade. Essa total imprevisibilidade, é o comportamento chamado CAOS. Olhando novamente para a figura acima, a região do Caos é a região em forma de aura entre as áreas preta e vermelha.
Uma coisa que merece se comentar é que, no caso do ser humano, o caos pode surgir tanto de variações internas quanto externas. Por exemplo: uma pessoa com altos níveis de ansiedade, tensão nervosa, depressão (ou outros tipos de desequilíbrio) pode gerar comportamentos caóticos. Para mim, um esquizofrênico ou uma pessoa em desequilíbrio emocional, muitas vezes mostra comportamentos caóticos.
Final
A vida seria impossível sem a atuação de um princípio regulador. O número três é o número básico da vida e da ordem. Se um processo é regulado pelo número dois ele alterna perpetuamente entre 1 (expansão) e zero (destruição). Graças ao três é que surge ordem e aprendizagem. O terceiro elemento é que regula esse jogo de tendências e gera aprendizagem. Na física isso também é ilustrado nas organizações atômicas. Se só existissem prótons e elétrons como se justificaria porque os prótons não se repelem nos núcleos (já que positivo repele positivo).
É o terceiro princípio, o princípio regulador que dita o ritmo de tudo. Ele é o fiel da balança. Ele é o princípio organizador de tudo.Ele é o espírito. É ele o argumento que falta para dar clareza a todas as ciências. É ele o elemento mais ignorado e mais importante de qualquer teoria.É ele que fundamenta a história, a antropologia, a sociologia, a biologia, a química, a física, a neurofisiologia, a computação e qualquer ramo do conhecimento. Enquanto as ciências do homem mantiverem o espírito exilado de suas teorias nunca vão obter clareza completa sobre suas investigações.
Para concluir, quero dizer, que querer eliminar a imprevisibilidade e a aleatoriedade é ir contra uma lei natural. Se quisermos o melhor da vida, devemos encarar as oscilações de bons e maus momentos da vida com naturalidade, como uma onda no mar, que tem cristas e vales. Para caminharmos de modo mais eficaz rumo ao infinito devemos (como fez Mandelbrot com as linhas telefônicas) adotar uma estratégia de redundância, que seria mais ou menos assim: se aquilo que você queria obter não foi obtido, repita tudo de novo comparando a meta com o resultado para localizar o erro e corrigi-lo. Em automação isso se chama retro-alimentação negativa, mas no fundo isso se chama aprendizagem.Isso, para mim é que a essência dos processos de REprogramação e REencarnação.
Esse texto é um extrato de algo bem maior que escrevi em 21/05/2000 bem antes de acontecerem Tsumanis e furacões devastadores. Ao relê-lo para lhe enviar verifiquei como ele está atual. O que está acontecendo com o clima da Terra ilustra muito bem o que escrevi. Observe as partes que sublinhei em vermelho.
Citação 1 – O que faz uma situação mudar de uma para outra são as condições momentâneas
Pra mim isso é uma realidade. A emissão de poluentes pelos países industrializados (principalmente os Estados Unidos, que se recusam a assinar o tratado de Kyoto) cria condições que favorecem um atrator que gera catástrofes. Não estou dizendo que a poluição está causando as catástrofes. Não é isso. O fenômeno teria um certa probabilidade de acontecer mesma sem a poluição, mas a poluição cria uma instabilidade que favorece a catástrofe. Ainda ontem assisti um documentário onde um meteorologista inglês dizia que não há base científica para se dizer que haverão catástrofes mais freqüentes, mas uma coisa certa é que, caso elas ocorram elas serão cada vez mais intensas. Só para você ter uma idéia se a temperatura dos oceanos continuar subindo como está, o nível do mar vai subir e rios que vão desaguar no mar não conseguirão fazê-lo e o refluxo vai inundar cidades inteiras como Santarém. Isso sem falar no fato da cidade estar num nível abaixo do mar já é um grande risco (Recife e Rio de Janeiro, por exemplo).
Citação 2 – Como se desestabiliza um processo? É alimentando de forma intensa e repetitiva (retro-alimentação positiva) um processo que antes estava estável.
Isso para mim é outra realidade. O homem está perturbando o equilíbrio da natureza de forma sistemática. Isso é uma burrice de proporções inimagináveis!