Além da Percepção

Capítulo 3 – A PERCEPÇÃO INOCENTE

V. Além da percepção

1. Tenho dito que as capacidades que possuis são apenas sombras da tua força real e que a percepção – que é inerentemente julgadora – só foi introduzida depois da separação. Ninguém tem estado seguro de nada desde então. Também fiz com que ficasse claro que a ressurreição foi o meio para o regresso ao conhecimento, realizado pela união da minha vontade com a do meu Pai. Podemos agora estabelecer uma distinção que esclarecerá algumas das nossas declarações subseqüentes.

2. Desde a separação, as palavras «criar» e «fazer» passaram a ser confusas. Quando fazes alguma coisa fazes a partir de um sentimento especifico de falta ou de necessidade. Qualquer coisa feita para um propósito específico não tem nenhuma generalizabilidade* verdadeira. Quando fazes alguma coisa para preencher uma falta percebida, estás a demonstrar tacitamente que acreditas na separação. O ego inventou muitos sistemas de pensamento engenhosos com este propósito. Nenhum deles é criativo. A inventividade é um esforço desperdiçado mesmo na sua forma mais engenhosa. A natureza altamente específica da invenção não é digna da criatividade abstrata das criações de Deus.

* – Generalizability é uma palavra inexistente em Inglês tal como generalizabilidade em Português.

3. «Conhecer», como já observamos não conduz ao «fazer». A confusão entre a tua criação real e o que tens feito de ti mesmo é tão profunda que passou a ser literalmente impossível para ti conhecer qualquer coisa. O conhecimento é sempre estável e é bastante evidente que tu não és. No entanto, és perfeitamente estável tal como Deus te criou. Neste sentido, quando o teu comportamento é instável, estás a distorcer a Idéia de Deus com respeito à tua criação. Tu podes fazer isto, se assim escolheres, mas dificilmente quererás fazê-lo se estiveres na tua mente certa.

4. A questão fundamental que te perguntas continuamente não pode, de maneira nenhuma, ser dirigida a ti mesmo de forma adequada. Continuas a perguntar o que és. Isto significa que a resposta, não só é uma resposta que conheces, mas também que depende de ti supri-la. Entretanto, não podes entender-te a ti mesmo corretamente. Não tens nenhuma imagem para ser percebida. A palavra «imagem» está sempre relacionada com a percepção e não é uma parte do conhecimento. Imagens são simbólicas e representam alguma coisa. A ideia de «mudar a tua imagem» reconhece o poder da percepção, mas também significa que não há nada estável para conhecer.

5. Conhecer não está aberto à interpretação. Podes tentar «interpretar» o significado, mas isso é sempre passível de erro, porque se refere à percepção do significado. Tais incongruências são o resultado das tentativas de te considerares a ti mesmo como separado e não separado, ao mesmo tempo. É impossível fazer uma confusão tão fundamental sem aumentar ainda mais a tua confusão geral. A tua mente pode ter passado a ser muito engenhosa, mas como sempre acontece quando método e conteúdo estão separados, a mente é usada para fazer uma tentativa fútil de escapar de um impasse inescapável. A engenhosidade é totalmente divorciada do conhecimento, porque o conhecimento não requer engenhosidade. O pensamento engenhoso não é a verdade que te libertará, mas tu estás livre da necessidade de te comprometeres com o pensamento engenhoso quando estás disposto a abandoná-lo.

6. A oração é um modo de pedir alguma coisa. É o veículo dos milagres. Mas a única oração significativa é a que perde o perdão, porque aqueles que foram perdoados têm tudo. Uma vez que o perdão tenha sido aceite, a oração, no sentido usual, passa a não ter qualquer significado. A oração pelo perdão não é mais do que um pedido para que possas ser capaz de reconhecer o que já possuis. Ao elegeres a percepção no lugar do conhecimento colocaste-te numa posição na qual só poderias parecer-te com o teu Pai percebendo milagrosamente. Perdeste o conhecimento de que tu, em ti mesmo, és um milagre de Deus. A criação é a tua Fonte e a tua única função real.

7. A declaração «Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança» necessita de reinterpretação. «Imagem» pode ser compreendida como «pensamento» e «semelhança» como «de qualidade semelhante». Deus, efetivamente, criou o espírito no Seu próprio Pensamento com uma qualidade semelhante à Sua própria. Não há mais nada. A percepção, por outro lado, é impossível sem uma percepção em «mais» e «menos». Em todos os níveis envolve seletividade. A percepção é um processo contínuo de aceitar e rejeitar, organizar e reorganizar, deslocar e mudar. A avaliação é uma parte essencial da percepção porque os julgamentos são necessários para a seleção.

8. O que acontece às percepções se não existirem julgamentos, nem nada além da perfeita igualdade? A percepção passa a ser impossível. A verdade só pode ser conhecida. Toda a verdade é igualmente verdadeira e conhecer qualquer uma das suas partes é conhecer toda a verdade. Só a percepção envolve a consciência parcial. O conhecimento transcende as leis que governam a percepção porque um conhecimento parcial é impossível. É totalmente uno e não tem partes separadas. Tu, que realmente és um com ele, não precisas senão conhecer-te a ti mesmo para que o teu conhecimento esteja completo. Conhecer o milagre de Deus é conhecê-Lo.

9. O perdão é a cura da percepção da separação. A percepção correta do teu irmão é necessária porque as mentes escolheram ver-se a si mesmas como separadas. O espírito conhece Deus de forma completa. Esse é o seu poder milagroso. O fato de que cada um tem esse poder de forma completa é uma condição inteiramente alheia ao pensamento do mundo. O mundo acredita que se alguém tem tudo, não sobra nada. Mas os milagres de Deus são tão totais como os Seus pensamentos, porque são os seus Pensamentos.

10. Enquanto durar a percepção há lugar à oração. Uma vez que a percepção se baseia na falta, aqueles que percebem não aceitaram totalmente a Expiação, nem se entregaram à verdade. A percepção baseia-se num estado separado, de modo que qualquer pessoa que perceba seja o que for, necessita de cura. A comunhão, não a oração, é o estado natural daqueles que conhecem. Deus e o Seu milagre são inseparáveis. Como são belos, de fato, os Pensamentos de Deus que vivem à Sua luz! O teu valor está além da percepção, porque está além da dúvida. Não te percebas a ti mesmo sob luzes diferentes. Conhece-te a ti mesmo na Luz Una onde o milagre que tu és está perfeitamente claro.

 

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