Antigos e Novos Terapeutas, a Arte de Cuidar

Síntese da palestra de Roberto Crema, proferida em 19 de setembro de 2008, pela Formação Holística de Base da UNIPAZ-CE

Cláudio Azevedo 

Vou compartilhar com vocês a palestra de hoje a noite do Roberto Crema…

A vida se faz no relacionamento… Escutei essa frase mais uma vez agora a noite dos lábios de nosso poeta Roberto Crema! Ele nos lembrou, mais uma vez, que somos seres inteiros, que estão fragmentados. Lembrou que Shalom vem de Shalein que significa inteireza. Paz não é algo que se conquista, mas o resultado do estado de uma inteireza humana. A separação e a fragmentação nos afastam da PAZ.

Ele lembrou que estamos aqui para nos tornar humanos: inteiros. E a fonte de toda tragédia é pensarmos que somos de verdade? Quando despertamos, em qualquer grau de intensidade, percebemos que não nos ajustamos ao que vemos estampado em nossa sociedade dita ‘normal’. Que maravilha é estarmos desajustados. A normose é o medo de Ser. Temos medo de Ser, e nos preenchemos estando. O tempo só existe enquanto precisarmos dele para evoluirmos e nos desenvolver: nos des-envolver daquilo a que estamos envolvidos. Pensamos que somos de verdade…

Temos medo de nossa loucura, mas louco é aquele que perdeu tudo, exceto o coração. Amar é cuidar. Nossa vocação é amar e cuidar… terapeuta é aquele que cuida da saúde e do que há de nobre no outro. Roberto me lembrou que a porta que se abre é aquela porta em que batemos. O mal é o esquecimento de Si, de nossa humanidade, e julgamos porque não batemos na porta certa.

Temos o condicionamento de ver somente o doente no outro e assim, estamos constantemente batendo na porta errada. Ser livre não é fazer o que queremos, smos livres em relação ao que fazemos com aquilo que nos acontece. Temos o bem e o mal dentro de nós, o simbólico e o diabólico, coração e razão, dois lobos que se enfrentam. Quem vence? Aquele lobo que alimentamos.

Ser livre é ver o outro na inteireza que ele é. Cuidar do outro não é julgar nem catalogar.  Roberto nos lembra que temos que cuidar da nobreza no outro e não tratar a ‘doença’. O cuidar passa por três pontos:

1.    Escutar: o infra-humano em nós (o mineral de nossos ossos, o vegetal de nossa flora, o animal de nossas emoções. Um exercício… observar nossos pensamentos, nossos ressentimentos. Ressentimento é um veneno que tomamos, esperando que o outro morra…

2.    Interpretar: escutar não significa ouvir. Os animais ouvem… o humano interpreta… Interpretar é extrair o sentido, extrair os sentidos, os significados. Extrair os sentidos é observar sem nossos sentidos, sem os cinco sentidos. A pior dor é aquela para qual não vemos nenhum significado. Somos livres na medida de nossa capacidade de interpretar e ressiginificar. O ‘para quê’ é mais importante do que o ‘porquê’… Temos que assumir a autoria de nossa própria existência. Se sou capaz de interpretar, nada me derrota, pois aceito o inaceitável…

3.    Abençoar: abençoar é jamais rotular o outro, pois não nunca somos nada, sempre estamos sendo alguma coisa. Abençoar é ‘bem te ver’, trocar energia, trocar amor. Estamos condenados a amar. Abençoar é nos inclinarmos para o outro, perante o outro, para poder nos encontrar com ele. Abençoar é agradecer… tudo aquilo que não uso (esquecido em algum canto de meu lar), tudo aquilo que não agradeço (a comida que ingiro, ou o ar que respiro) são coisas que estou roubando. Roberto nos lembra que somos ladrões. Abençoar é acolher o outro a partir do melhor dele..

4.    Sorrir: O julgamento é o fracasso da bênção, o sorrir é a sua apoteose. Sorrir, sorrir… é pelo olhar que mudamos a nossa psique… que bom poder ver um sorriso…

A fonte de toda tragédia humana é pensar que somos de verdade…

Obrigado Roberto Crema!

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