COPENHAGUE – Em seu primeiro compromisso público em Copenhague, onde chegou ontem para acompanhar a segunda semana de negociações da CoP-15, a senadora Marina Silva (PV-AC) deixou claro que sua rota e sua visão em relação ao meio ambiente são bastante diferentes das colocadas até agora pelo governo Lula, cuja sucessão ela deve disputar. ” Não adianta vir a Copenhague somente para fazer uma foto ” , disse, ao encerrar seu discurso no Klimaforum 09, evento que reúne ambientalistas de todo o mundo para debater de forma paralela às negociações oficiais as possíveis respostas ao desafio das mudanças climáticas. ” A sociedade quer líderes que sejam capazes de assumir compromissos concretos ” , afirmou.
” Isso vale para o presidente Lula? ” , quis saber um repórter logo em seguida. ” Vale para qualquer líder que venha para fazer apenas presença ” , afirmou a senadora. Mas, ao trazer uma proposta sobre metas de corte das emissões de carbono, o Brasil chega com uma contribuição efetiva para as discussões, contemporizou. Embora essa postura do governo brasileiro, emendou, seja recente e decorra, segundo avalia, de pressões da sociedade civil, dos cientistas e da mídia. Ao falar para um público formado majoritariamente por jovens, que a receberam com os aplausos mais calorosos que foram dados aos participantes do evento, onde também era esperada a queniana vencedora do Nobel da Paz Wangari Maathai, que não conseguiu chegar, a senadora lembrou seus ” 30 anos de luta na Floresta ” . E comemorou os primeiros frutos dessa trajetória – a queda de 60% no processo de redução do desmatamento na Amazônia , que será equivalente a 2 bilhões de toneladas de CO2 em quatro ou cinco anos, volume considerável frente ao compromisso de corte de emissões dos países em desenvolvimento. Para Marina Silva, cuja estreia em Copenhague foi quase simultânea à da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que iniciou com uma hora e meia de atraso a coletiva que daria às 16h30, a proposta brasileira ” é apenas um começo ” . Ela avalia que a meta do país para corte das emissões – que varia de 36,1% a 38,9%, baseada em cerca de 50% na queda de desmatamento na Floresta Amazônica e no Cerrado -, além de recente, toma como base uma curva projetada, ” um alvo móvel ” . E considera necessário um detalhamento dessas metas com, por exemplo, objetivos específicos para o setor energético. Também é preciso cuidado em outras frentes, disse, como as possíveis mudanças no Código Florestal que podem significar retrocessos em termos de proteção ao ambiente. O Brasil, afirmou Marina, ” precisa assumir uma postura mais ativa ” . Isso significa que, ao lado da China e da Índia, o país ” não pode mais se esconder atrás do princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas; diferenciadas não significa que não temos responsabilidade ” .
Marina considerou que o texto preliminar acertado pelos delegados da CoP-15 para um possível compromisso global de corte das emissões, apresentado sexta-feira, tem uma ” estrutura adequada ” , mas precisa ser desdobrado em alguns pontos, como a definição de metas de cortes, pico de emissões de cada país e financiamento das ações de mitigação e adaptação cuja proposta considerou ” muito tímida ” . Ela acredita que os países emergentes não precisam receber recursos para ações de adaptação, mas que, no caso da mitigação das emissões, é necessário um ” esforço para todos os segmentos ” . O mais importante em Copenhague, afirmou, ” é não olhar apenas para a soma de interesses de cada país ” . A senadora está convencida de que, se as negociações mantiverem esse viés, ” a equação não vai fechar ” .
Relacionado