Dalai Lama e as Mulheres Bonitas

Gabriela Jacomella
22 luglio 2007
 

Sonho com elas, mas sei resistir… criaturas maravilhosas…

Uma sucessora feminina? Não seria mal!

Dalai Lama

 

MILANO Já o havia declarado em 1999, ao microfone de um repórter americano: «Se morrer enquanto estou no exílio, o próximo Dalai Lama aparecerá fora do Tibet. Poderá ser indiano, europeu, africano; até uma mulher». E o reafirmou, diante do gravador de um jornalista alemão, enviado pela Spiegel para cobrir o primeiro Congresso Internacional Sobre o Papel das Mulheres Budistas na Samgha (a comunidade dos crentes), realizado pelo ateneu de Hamburgo: «Não há motivo cogente (Cogente é a regra que é absoluta e cuja aplicação não pode depender da vontade das partes interessadas. Tem que ser obedecida fielmente; as partes não podem excluí-la, nem modificá-la. N.T.) pela qual a próxima guiança política e espiritual dos tibetanos não possa ser do sexo feminino». E «não seria um mal — acrescenta, com piscar de olho — se fosse bela: poderia chamar a atenção à nossa causa». Mas, acima de qualquer coisa, é hora que as monjas budistas tenham finalmente os mesmos direitos dos monges masculinos. Para o 14° Dalai Lama não é novidade a manifestação dei estima em relação à «outra metade do céu» (mas esta expressão criada por Mao, dificilmente entraria em seua discursos): para Tenzin Gyatso, as mulheres são o «sexo mais doce», a feminilidade um «sinônimo de bondade e compaixão». E a beleza, um dom que não deixa totalmente indiferente em mesmo o guia espiritual da escola reformada Gelukpa, uma das quatro da tradição tibetana: «às vezes nos meus sonhos, afloram mulheres que chegam perto de mim, criaturas maravilhosas, como pinturas – admitiu certa vez, com leve sorriso. Mas os sentidos não são um grande problema, sei reagir automaticamente, recorrendo à sabedoria e à experiência. No próprio sonho, logo lembro de quem e o que: um monge, capaz de resistir». As mulheres que o apóiam concordam e aprovam: atrizes de Holliwood, e rainhas o seguem, passo a passo, nos anos do exílio (o governo do Tibete buscou refúgio na Índia em março de 1959, dez anos após a ocupação chinesa). Entre elas, Sharon Stone e Goldie Hawn, além da «predestinada» Uma Thurman (o pai, Robert, é o primeiro americano a se tornar monge budista, em 1962, e hoje é docente de estudos budistas indo-tibetanos na Columbia di New York) e a Noor da Jordânia.

Mas o significado mais profundo, e em certo sentido revolucionário, das declarações do Dalai Lama em Hamburgo, diante de uma platéia de 150 expertos vindos da Tailândia, Coréia, Índia e Estados Unidos, além de centenas di religiosas vindas de todo o mundo, é algo que toca no íntimo do caminho espiritual budista. Sua Santidade escolheu – ao sustentar a necessidade de permitir «a ordenação completa» também para as monjas -, á a absoluta paridade das mulheres no Samgha.

Pois é verdade que, na Índia de 2.500 anos atrás, o Buddha Sakyamuni havia estabelecido que a prática budista devia ser accessível a todos, e que todos, homens e mulheres, tem as mesmas possibilidades de alcançar a iluminação, assim como também é verdade que os textos antigos são cheios de figuras extraordinárias de monjas místicas e devotas. Mas, durante os séculos, a«linhagem» (passagem de ensinamentos de mestre a discípulo) que prevaleceu foi a masculina.

Quando da diáspora do ’59, no Tibet existiam 618 monastérios femininos e 18.828 monjas (das quais 6.931 da escola Gelukpa). «Pela tradição seguida em Lhasa — explica Carla Gianotti, entre as maiores experts do budismo indo-tibetano, trabalha em questões relativas ao budismo e o feminino —, para ordenar uma bhiksuni (monja plenamente ordenada) são necessários 12 membros da Samgha feminina e 10 do Samgha masculino; parece que este elaborado procedimento nunca tenha se afirmado no Tibete, e alguns duvidam que um dia tenha sido introduzida».

Foi assim que aconteceu com uma monja inglesa, Tenzin Palmo (sua biografia, «A gruta na neve», foi publicada por Baldini&Castoldi), ao sair de 12 anos de meditação numa caverna tibetana, nos anos 60 voltou para a Europa questionando o motivo deste desequilíbrio e decidiu levar a questão ao Dalai Lama que, tocado, lhe deu a tarefa de partir para o Sudeste asiático com um grupo de monjas para pesquisar a linhagem perdida. E o congresso de Hamburgo foi o momento final do trabalho.

As declarações de Sua Santidade — comenta Carla Gianotti — são de excepcional importância, por significar a introdução de uma linhagem de bhiksuni que parece não ter sido introduzido no Tibet e que continuaria uma tradição indiana interrompida por cerca de mil anos. Mas ainda é cedo, talvez para celebrar: Tenzin Gyatso não é onipotente, e teve de admitir que segundo o regulamente a única possibilidade que lhe á concedida é a de «jogar no prato da balança a própria autoridade», sem tomar uma decisão unilateral. Para isso é necessária a autorizarão das ordens monásticas. Quase todas masculinas. Para as mulheres da Samgha, a vitória ainda é parcial.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *