Não se colhe na seara alheia, mas apenas na nossa própria

As autoridades religiosas são imperfeitas e egoístas como qualquer um de nós. Daí que elas sempre foram inclinadas a tirar da Bíblia conclusões favoráveis aos seus interesses, principalmente quando se trata de parábolas que permitem mesmo interpretações diferentes.

Eis como elas vêem esta parábola: “Muitos são chamados e poucos escolhidos” (Mateus 20,16). Os muitos chamados são os seminaristas. E os poucos escolhidos são os pastores de almas. Eu fui seminarista e, no passado, senti-me um pouco frustrado por não ter sido escolhido!

Muitos significam um número grande, mas não todos. Ora, isso interpretado literalmente vai de encontro do ensino da própria Bíblia, pois ela diz que Deus não faz acepção de pessoas (Deuteronômio 10,17; e Atos 10,34). Na verdade, são muitos de cada geração [reencarnação na Bíblia (Jó 8,9)], pois todos serão, um dia, inspirados ou chamados por espíritos santos para o despertar espiritual. Mas isso acontecerá em épocas diferentes. Para isso somos espíritos imortais em evolução pelas eternidades afora. “As coisas que Deus faz são todas boas no momento oportuno” (Eclesiastes 3,11). Quem, pois, não for chamado numa reencarnação, será em outra. Os poucos escolhidos já são bem evoluídos.

Mas como a nossa evolução depende do nosso livre-arbítrio, somos nós mesmos que nos vamos escolhendo e, obviamente, sob o olhar divino. E interessa mais a Deus do que a nós mesmos sermos escolhidos, pois Ele nos ama mais do que nós próprios nos amamos.

Outra parábola bíblica de interpretação muito discutida é esta: “Que o Senhor mande trabalhadores para a sua seara” (Mateus 9,37). Segundo os líderes religiosos, eles próprios é que são os operários da seara (messe) de Deus e de Jesus.

E seara passou até a ter também o sentido figurado de agremiação e, certamente, desses líderes religiosos! Mas o significado mais comum e bíblico de seara é de uma plantação madura, já na hora de ser colhida. E a seara é grande, porque ela é da lavoura divina, na qual todos semeiam, com cada um colhendo o que plantou. É a lei de causa e efeito ou cármica em funcionamento para os operários dessa grande seara divina, de acordo com o que eles semearam.

Mas os operários que semeiam e colhem o bem nessa grande seara divina são poucos, porque, de fato, é comum não serem numerosos os bons, ou seja, aqueles que já podem passar pela porta estreita. A minoria de operários bons pertence à seara de Deus propriamente dita. Entre eles, pode haver pastores de almas, mas não exclusivamente eles. E os muitos operários não escolhidos são da área do diabo dentro da seara divina, se é que nos podemos expressar assim, pois é como o joio que deve crescer junto com o trigo.

A parte má da seara é, pois, também divina, no sentido de que tudo é de Deus, que é o Senhor da luz e das trevas (Isaias 45,7). E como nos ensina Helena Petrovna Blavatsky, em sua “Doutrina Secreta”, quanto maiores forem as trevas, mais a luz brilha!

Chegando ao final dessa nossa reflexão, vem-nos à memória este dito popular: “Não se mete a foice na seara alheia!” Realmente, nós não colhemos na seara de outro, mas apenas na nossa própria seara, ou seja, naquela semeada e zelosamente cultivada por nós!

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