É não só ético, mas até um dever do cidadão envolver-se com as coisas de César (Mateus 22,21). Por exemplo, pagar impostos e participar da política. Contudo, não podemos nos valer das coisas de Deus, para tirarmos vantagens nas coisas de César, e vice-versa, não se deve fazer uso das coisas de César, à moda do cristianismo do passado e de alguns países islâmicos para, com a força do poder civil, validarmos uma doutrina religiosa. Verdade à base de baioneta é falsa. Confundem-se muito freqüentemente essas coisas de César com as da conhecida afirmação de Jesus de que não se pode servir a dois senhores, a Deus e a mamon ou a riqueza (Marcos 1,31). Mamon pode ser interpretado também, metaforicamente, como sendo um diabo (adversário, divisor, pecado) que criamos e que não pode ser entendido como demônio (espírito humano atrasado).
Ambas as coisas de César e de mamon são profanas, é verdade, mas são diferentes. Enquanto que dar a César o que é de César é certo, servir a mamon é errado. Quem serve a Deus, é desapegado e, às vezes, defende o direito do outro em detrimento do seu próprio. De fato, há pessoas que preferem tomar prejuízo a dar prejuízo a alguém. Essas pessoas não servem a mamon, mas a Deus. “Quem quiser ser meu discípulo, que renuncie a si mesmo”, disse Jesus (Marcos 8,34). Assim, aquele que já é bastante evoluído é um servidor do seu semelhante. O nosso modelo de perfeição, o Nazareno, ensinou que não veio para ser servido, mas para servir (Marcos 10,45). Também a Igreja tem uma pastoral que diz que servimos a Deus, servindo ao irmão. E Kardec proclamou: “Espíritas, amai-vos e instruí-vos”. E quem ama, serve. Nós, infelizmente, servimos aos dois senhores, Deus e mamon. E o pior disso é que servimos geralmente mais a mamon do que a Deus! Daí o contrapeso do ensino de Jesus, segundo o qual devemos procurar, primeiro, as coisas do reino dos céus, que as outras vêm por acréscimo (Mateus 6,33). Mas se é verdade que, na nossa atual evolução espiritual, servirmos mais a mamon – “o justo peca sete vezes e se levanta” (Provérbios 24,16), que, pelo menos, tornemos essas coisas negativas mais sutis. Buscar riquezas até que não é um mal em si.
O errado é sermos escravos delas, o que faz mal a nós mesmos. Para que as coisas de César sejam corretas, é necessário que nelas nós ponhamos como que uma espécie de tempero ético, ou seja, amor, justiça, harmonia e entendimento, buscando sempre o interesse dos cidadãos. Tudo o que divide, separa e desarmoniza é do diabo (adversário, pecado). E o que une e harmoniza é de Deus. Assim é, pois, que vejo com simpatia a dobradinha da harmonia política para as próximas eleições municipais de Belo Horizonte, feita pelos eminentes políticos Aécio e Pimentel, em prol da candidatura de Lacerda. É relevante esse dar as mãos entre dois líderes de tamanha envergadura da nossa política nacional, o que se constitui, sem dúvida, em mais um fator de prestígio político de peso para Minas. Com essa atitude, os dois eminentes líderes políticos superaram as comuns divergências partidárias, visando em primeiro lugar os interesses dos belo-horizontinos, o que equivale a colocar coisas de Deus nas coisas de César. E é muito interessante que esteja partindo de Minas essa exemplar nova modalidade de como se deve fazer política! PS: Parabéns ao Super Notícia, irmão caçula de O TEMPO, por estar em primeiro lugar em venda, no Brasil.