O Sentido Marginal

~ PROFISSIONAIS DE FARO FINO ~

Se você já viu uma degustação de vinhos, talvez tenha se espantado com a quantidade de nuances atribuídas pelos especialistas àquilo que, ao nariz de um leigo; não passa de suco de uva alcoólico. Para um enólogo, uma taça de vinho pode conter aromas de madeira, frutas, chocolate, grama recém-cortada, flores, baunilha … Se a bebida não tem nada disso, devemos concluir que o especialista está delirando? Não: um vinho é uma mistura complexa de substâncias, muitas delas aromáticas – algumas semelhantes às que dão o cheiro próprio das flores, frutas e outras coisas apontadas por enólogos e sommeliers. Para identificá-Ias, são precisos um nariz apurado e uma capacidade incomum de verbalizar as sensações olfativas de forma padronizada. Como eles conseguem? Muito treino.

Vinho é o objeto mais popular de análise aromática, mas há gente que ganha a vida metendo o nariz em coisas surpreendentes. A Volkswagen, por exemplo, mantém uma equipe dedicada a analisar o cheiro de carros novos. Na realidade, a função do time chefiado pela química Maria de Lourdes Feitosa di Franco é minimizar os odores da cabine dos veículos que saem da linha de montagem. “Existe um mito de que a gente passa um produto com 'cheiro de carro novo' para seduuzir os compradores. Esse cheiro só é valorizado no Brasil, onde é símbolo de status. Na Europa, as pessoas relacionam odores fortes com substâncias potencialmente tóxicas”, diz Lourdes. O tal cheiro, segundo ela, provém de componentes voláteis de materiais como plásticos e tecidos.

Na gigante química Unilever existe a inusitada figura do “sommelier de creme dental”. A farmacêutica Valquíria Seixas da Silva coordena degustações para a avaliação de produtos da linha Close-Up. Como ocorre com vinhos, os degustadores reconhecem na pasta de dente elementos florais, herbais e de madeiras – com a diferença de que, aqui, trata-se de substâncias químicas dosadas meticulosamente. Para treinar os sentidos dessa turma há, além de cremes dentais de menta ou eucalipto, amostras bizarras aromatizadas com rosas ou pimenta-do-reino – testadas (e reprovadas) pela reportagem da SUPER.

 

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