O homem é composto de elementos como o sopro vital, ações, pensamentos e os sentidos – obtendo todos sua existência do Eu. Eles surgiram do /eu e no Eu finalmente desaparecerão – como as águas de um rio desaparecem no mar.
OM…
Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.
Com nossos olhos, contemplamos vossa integridade.
Tranqüilos no corpo, possamos nós, que vos veneramos, encontrar descanso.
OM… Paz – paz – paz.
- Sukesha, Satyakama, Gargya, Kousalya, Bhargava e Kabandhi, devotos e buscadores da verdade do supremo Brahman, aproximaram-se com fé e humildade do sábio Pippalada.
- Disse o sábio: praticai a austeridade, a continência e a fé por um ano; fazei então as perguntas que desejardes. Se eu puder, responderei.
- Após um ano, Kabandhi aproximou-se do mestre e perguntou:
- “Senhor, como foi que as criaturas começaram a existir?”
- “O Senhor dos seres”, replicou o sábio, “meditou e produziu Prana, a energia primordial, e Rayi, a doadora da forma, desejando que eles, macho e fêmea, produzissem de inúmeras maneiras criaturas para ele.”
- “Prana, a energia primordial, é o Sol; e Rayi, a substância que dá a forma, é a Lua.”
- “Seja conhecido que todo este Universo, aquilo que é grosseiro e aquilo que é sutil, é uma coisa só com Rayi. Conseqüentemente, Rayi é onipresente.”
- “Do mesmo modo, o Universo é uma coisa só com Prana. O Sol que se levanta impregna o \leste, e enche com energia todos os seres que ali habitam; e do mesmo modo, quando seus raios caem no Sul, no Oeste, no Norte, no zênite, no nadir e nas regiões intermediárias, Ele dá a vida a todos os seres que ali habitam.”
- “O Prana é a alma do Universo, e assume todas as formas; ele é a luz que anima e ilumina tudo como está escrito:
- “O sábio conhece aquele que assume todas as formas, que é radiante, que tudo sabe, que é a única luz que dá luz a tudo. Ele se levanta como o Sol de mil raios, e permanece em lugares infinitos.”
- “Prana e Rayi, unindo-se, dividem o ano. Dois são os caminhos do Sol – dois são os caminhos que os homens percorrem depois da morte. Estes são os caminhos do Sul e do Norte.”
- “Aqueles que desejam descendentes e se dedicam a dar esmolas e realizar rituais, e consideram essas as mais elevadas realizações, alcançam o mundo da Lua e renascem diversas vezes sobre a Terra. Eles percorrem o caminho do Sul, que é o caminho dos pais, e é na verdade Rayi, a criadora das formas.”
- “Porém, aqueles que são dedicados à veneração do Eu, através da austeridade, da contingência, da fé e do conhecimento, percorrem o caminho do Norte e atingem o mundo do Sol. O Sol, a luz é, na verdade, a fonte de toda a energia. Ele é imortal, está além do medo; é a meta suprema. Para aquele que vai para o Sol não existe mais nascimento ou morte. O Sol acaba com o nascimento e a morte.”
- “Prana e Rayi, unindo-se, formam o mês. A quinzena escura é Rayi, a clara é Prana. Os sábios executam seus rituais devocionais à luz, com conhecimento; os tolos, na escuridão, na ignorância.”
- “O alimento é Prana e Rayi. Do alimento é produzida a semente, e da semente, por sua vez, nascem todas as criaturas.”
- “Aqueles que veneram o mundo da criação produzem crianças; mas somente aqueles que são firmes na continência, na meditação e na verdade atingem o mundo de Brahman.”
- “O mundo puro de Brahman só pode ser atingido por aqueles que não são mentirosos, perversos ou falsos.”
- Bhargava, então, aproximou-se do mestre e perguntou:
- “Sagrado senhor, quantos poderes contém este corpo? Quais os que mais se manifestam nele? E qual é o maior?”
- “Os poderes”, replicou o sábio, “são o éter, o ar, o fogo, a água e a terra – que são os cinco elementos que compõem o corpo; e, além desses, a fala, a mente, o olho, o ouvido e o restante dos órgãos sensoriais. Uma vez esses poderes fizeram a orgulhosa declaração: 'Nós mantemos o corpo unido e o sustentamos.' Prana, a energia primordial, suprema sobre todos eles, disse: 'Não vos enganeis. Sou eu sozinho que, ao me dividir cinco vezes, mantenho o corpo unido e o sustento.' Mas eles não acreditaram nisso.
- “Prana, para se justificar, fingiu que ia abandonar o corpo. Porém, quando se levantou e pareceu estar indo embora, todos os outros perceberam que, se ele fosse embora eles também teriam que partir; e quando Prana se sentou novamente, os outros acharam seus respectivos lugares. Como as abelhas saem quando sua rainha sai e voltam quando ela volta, assim foi com a fala, a mente, a visão, a audição e o restante. Convencidos do seu erro, os poderes louvaram Prana, dizendo:
- ” 'Como fogo, Prana queima; como Sol, ele brilha; como nuvem, ele chove; como Indra, governa os deuses; como vento, ele sopra; como a Lua, nutre a todos. Ele é aquilo que é invisível. Ele é a vida imortal.' “
- ” ' Como os raios do cubo de uma roda, tudo é firmado em Prana – o Rig, o Yajur, o Sama, todos os sacrifícios, os Kshatriyas e os Brahmins.' “
- ” 'Ó Prana, senhor da criação, vós vos moveis dentro do útero, e nasceis novamente. Para vós que, como o sopro vital, habitais o corpo, todas as criaturas trazem ofertas.' “
- ” 'Vós, como fogo, levais oblações aos deuses; e através de vós os pais recebem suas oferendas. Dais a cada órgão dos sentidos sua função.' “
- ” 'Prana, vós sois o criador; sois o destruidor, pela vossa bravura; e sois o protetor. Vós vos moveis no céu como o Sol, e sois o senhor das luzes.' “
- ” 'Prana, quando derramais a chuva, vossas criaturas rejubilam, esperando encontrar alimento tanto quanto desejarem.' “
- ” 'Vós sois a própria pureza, sois o amo de tudo que existe, sois o fogo, o devorador das oferendas. Nós, os órgãos dos sentidos, oferecemos a vós o vosso alimento – a vós, o pai de todos.' “
- ” 'Vosso poder, que habita na palavra, no ouvido e no olho, e que permeia o coração – fazei com que ele seja propício, e não nos abandonais.' “
- ” 'Tudo o que existe no Universo depende de vós. Ó Prana. Protegei-nos como uma mãe protege seus filhos. Concedei-nos prosperidade e sabedoria.' “
- Quando chegou a vez de Kousalya, ele fez a seguinte pergunta:
- “Mestre, de que nasce o Prana; como ele entra no corpo e como ele vive ali depois de se dividir; como ele sai, como ele vivencia o que está no exterior e como mantém unidos o corpo, os sentidos e a mente?”
- O sábio replicou assim:
- “Kousalya, fazeis perguntas muito difíceis, porém, como sois um buscador sincero da verdade de Brahman, devo responder.
- “Prana nasce do Eu. Como um homem e sua sombra, o Eu e Prana são inseparáveis. Prana penetra no corpo por ocasião do nascimento, para que os desejos da mente, que vêm de vidas passadas, possam ser preenchidos.”
- “Do mesmo modo como um rei emprega oficiais para governar diferentes partes do seu reino, assim Prana associa a si mesmo quatro outros Pranas, cada um sendo uma parte dele mesmo, e sendo atribuído a cada um uma função diferente.”
- “O próprio Prana habita o olho, o ouvido, a boca e o nariz; Apana, o segundo Prana, governa os órgãos reprodutores; Samana, o terceiro Prana, habita o umbigo e governa a digestão, e a assimilação.”
- “O Eu habita o lótus do coração, de onde são irradiados cento e um nervos. De cada um desses, se originam cem outros, menores, e de cada um desses, mais uma vez, setenta e dois mil outros, que são ainda menores. Em todos esses se move Vyana, o quarto Prana.
- “Então, no momento da morte, através do nervo localizado no centro da espinha, Udana, que é o quinto Prana, leva o homem virtuoso para um nascimento mais elevado, o homem pecador para um nascimento inferior, e o homem que é ao mesmo tempo virtuoso e pecador, ao renascimento no mundo dos homens.”
- “O Sol é o Prana do Universo. Ele se levanta para auxiliar o Prana que está no olho do homem a ver. O poder da Terra mantém Apana no homem. O éter entre o Sol e a Terra é o Samana, e o ar que tudo permeia é Vyana. Udaba é o fogo e, portanto, aquele cujo calor corporal se apagou morre, e posteriormente seus sentidos são absorvidos pela mente, e ele torna a nascer.”
- “Qualquer que seja o pensamento que um homem tenha no momento da morte, é este que o une com Prana, que por sua vez, ao se unir com Udana e com o Eu, leva o homem a renascer no mundo dos méritos.”
- “A progênie daquele que conhece Prana como eu vos revelei, nunca é interrompida e ele próprio se torna imortal.”
- “Diz um ditado antigo: aquele que conhece Prana – onde ele tem sua origem, como entra no corpo, como vive ali depois de se dividir cinco vezes, quais são seus trabalhos interiores – atinge a imortalidade, sim, até a imortalidade.“
- Gargya então perguntou:
- “Mestre, quando o corpo de um homem dorme, quem é que dorme interiormente, quem está acordado, e quem está sonhando? Quem então experimenta a felicidade, e com quem estão unidos os órgãos sensoriais?”
- “Do mesmo modo como os raios do Sol, Ó Gargya, quando ele se põe”, replicou o sábio, “se reúnem em seu disco de luz, para saírem novamente quando ele se levanta, assim os sentidos se reúnem na mente, o mais elevado deles. Desse modo, quando um homem não vê, não cheira, não saboreia, não toca, não fala, não agarra ou não tem prazer, dizemos que ele dorme.”
- “Então, somente os Pranas estão acordados no corpo, e a mente é levada para mais perto do Eu.”
- “Enquanto sonha, a mente revive suas impressões passadas. Seja o que for que tenha visto, vê novamente; seja o que for que tenha desfrutado nos vários países e nos diversos cantos da Terra, desfruta de novo. O que foi visto e não visto, ouvido e não ouvido, aproveitado e não aproveitado, tanto real como irreal, ela vê; sim, ela vê tudo.”
- “Quando a mente está dominada por sono profundo, ela não sonha mais. Ela descansa alegremente no corpo.”
- “Como os pássaros, meu amigo, voam para as árvores para descansar, todas essas coisas voam para o Eu: a terra e sua essência particular, a água e sua essência particular, o fogo e sua essência particular, o ar e sua essência particular, o éter e sua essência particular, o olho e o que ele vê, o ouvido e o que ouve, o nariz e o que cheira, a língua e o que ela saboreia, a pele e o que ela toca, a voz e o que ela fala, as mãos e o que elas seguram, os pés e aquilo sobre o que caminham, a mente e o que ela percebe, o intelecto e o que ele compreende, o ego e aquilo de que ele se apropria, o coração e o que ele ama, a luz e o que ela ilumina, a energia e o que ela mantém unido.”
- “Pois, na verdade, é o Eu que vê, ouve, cheira, saboreia, pensa, sabe, age. Ele é Brahman, cuja essência é o conhecimento. Ele é o Eu imutável, o Supremo.”
- “Aquele que conhece o imutável, o puro, o sem sombra, o incorpóreo, o sem cor, atinge Brahman, ó meu amigo. Tal pessoa se torna conhecedora de tudo, e habita em todos os seres. A respeito dela está escrito:
- “Aquele que conhece o Eu imutável, no qual vivem a mente, os sentidos, os Pranas, os elementos – tal pessoa verdadeiramente conhece todas as coisas, e percebe o Eu em tudo.”
- Satyakama, então, se aproximando do Mestre, disse:
- “Venerável senhor, se um homem meditar sobre a sílaba OM durante toda a vida, qual será a sua recompensa depois da morte?”
- O Mestre respondeu-lhe assim:
- “Satyakama, OM é Brahman – tanto o condicionado como o incondicionado, tanto o pessoal quanto o impessoal. Ao meditar sobre ele, o homem sábio pode atingir tanto um como o outro.”
- “Se ele meditar sobre OM com pouco conhecimento do seu significado, mas mesmo assim for iluminado, quando morrer renascerá imediatamente sobre a Terra e, durante essa nova vida, se dedicará à austeridade, à continência e à fé, e alcançará a grandeza espiritual.”
- “Se ele meditar sobre Om com maior conhecimento do seu significado, quando morrer ascenderá ao céu lunar e, após haver partilhado de seus prazeres, voltará novamente à Terra.”
- “Porém, se ele meditar sobre OM com total consciência de que OM é uma coisa só com Deus, ao morrer ele se unirá à luz que está no Sol, libertar-se-á de todo mal, do mesmo modo como a cobra se liberta do lamaçal, e ascenderá ao lugar onde Deus habita. Ali, ele perceberá Brahman, que permanece para sempre no coração de todos os seres – o Supremo Brahman!“
- “A respeito da sílaba sagrada OM, está escrito o que se segue:”
- “A sílaba OM, quando não é totalmente compreendida, não leva além da mortalidade. Quando é totalmente compreendida e a meditação é, por conseqüência, corretamente dirigida, o homem se liberta do medo, esteja ele acordado, sonhando ou dormindo o sono se sonhos, e alcança Brahman.”
- “Em virtude de um pequeno entendimento de OM, um homem retorna à Terra depois da morte. Em virtude de um maior entendimento, ele atinge a esfera celestial. Em virtude de um completo entendimento. ele aprende o que é conhecido apenas por aqueles que vêem. O sábio, com a ajuda de Om, alcança Brahman, O que não em medo, O que não decai, O imortal!”
- Por último, Suseka aproximou-se do sábio e disse:
- “Sagrado senhor, Hiranyanabha, príncipe de Kosala, fez-me certa vez esta pergunta: 'Suseka, conheces o Eu e suas dezesseis partes?' Eu repliquei: “Não conheço. Certamente, se as conhecesse, eu as teria ensinado a vós. Não mentirei, pois aquele que mente perece por completo.' O príncipe entrou silenciosamente em sua carruagem e foi embora. Assim, agora eu vos pergunto, onde está o Eu?”
- O sábio replicou:
- “Minha criança, dentro desse corpo habita o Eu, de quem jorraram as dezesseis partes do Universo; e desse modo elas surgiram:
- “Se ao criar, penetro na minha criação”, refletiu o Eu, “o que existe lá para me vincular a ela; o que existe lá para eu deixar quando for embora, e para permanecer dentro quando eu fico?” Ponderando dessa maneira, e em resposta ao seu pensamento, ele criou o Prana; e do Prana criou o desejo; e do desejo criou o éter, o ar, o fogo, a água, a terra, os sentidos, a mente e o alimento; e do alimento criou o vigor, a penitência, os Vedas, os rituais de sacrifício, e todos os mundos. Depois, então, no mundos, ele criou nomes. E o número de elementos que assim criou foi dezesseis”
- “Do mesmo modo como os rios que correm, cujo destino é o mar e que, quando o atingem, desaparecem nele, perdendo seus nomes e suas formas, falando os homens apenas do mar, assim essas dezesseis partes criadas pelo Eu, o Eterno Vidente, a partir do seu próprio ser, após retornarem a ele, de quem vieram, desaparecem nele, seu destino, perdendo seus nomes e formas, e as pessoas falam somente do Eu. Para o homem, então, as dezesseis partes não existem mais, e ele atinge a imortalidade.”
- Diz um ditado antigo:
- “As dezesseis partes são raios que se projetam do Eu, que é o cubo da roda. O Eu é a meta do conhecimento. Conhecei-o e ide além da morte.”
- O sábio concluiu, dizendo:
- “O que vos contei é tudo o que pode ser dito a respeito do Eu, o Supremo Brahman. Além disso, não há nada.”
- Os discípulos veneraram o sábio e disseram:
- “Vós sois de fato nosso pai. Vós nos haveis levado além do mar da ignorância.”
- “Nós nos inclinamos diante de todos aqueles que vêem!”
- “Reverência aos grandes que vêem!”
Om… Paz – Paz – Paz.