Resumo de palestra realizada em 27/02/05
a um grupo de estudos em Física Quântica
Difícil questão filosófica, neurocientífica, psicológica e espiritual, o homem, desde que a adquiriu, busca entender o que a consciência é. Nessa investigação, o homem construiu três formas principais de abordagem do tema: uma ético-religiosa, uma neurocientífica e uma psico-espiritual. Na primeira, a consciência é vista como discernimento (“ele não tem consciência do que está fazendo”), na segunda como percepção (“ele não tem consciência do que está acontecendo”) e na terceira como consciência de si mesmo (autoconsciência ou noção da própria existência – saber que “eu sou eu”).
O discernimento é visto, nas tradições de sabedoria, como a capacidade ímpar de discriminar o certo do errado, o bem do mal, o real do ilusório, um amigo de um inimigo, etc.. Nesse sentido, discernimento está intimamente ligado com a escolha e com a ação. Nosso sistema imunológico teria mais consciência do que a maioria da humanidade adulta, por saber, por mecanismos bem conhecidos, distinguir um agressor de um não agressor? E uma semente, que sabe, em condições ambientes ideais, exatamente o que fazer para se tornar uma árvore, terá, então, consciência? Se sim, a consciência estaria escondida nas moléculas de DNA, ou seja, nas subpartículas que o compõem, e assim uma pedra, um papel e até uma estrela seriam seres conscientes. Mas se dissermos que isso não é consciência, mas programação, ou instinto, então a consciência estaria ligada à capacidade de livre-arbitrar e negar-se a fazer o que tem que ser feito?
Nas ciências médicas, consciência é a capacidade de perceber a existência de estímulos “externos”, através de estruturas especializadas, e interagir com eles: criaram os conceitos de vigília e coma. Uma molécula de água, que hoje sabemos que reage a estímulos externos com mudanças estruturais em si mesma, está consciente e perceptiva? E um termostato que processa e reage a informações externas seria consciente? “Algo” em nós percebe e, momentos depois, pode deixar de perceber sem necessariamente ter cessado de existir o objeto da percepção. Nesse sentido, a percepção seria apenas a interface entre o externo e “Algo” interno que nos “habita”, e a percepção necessitaria de um organismo físico funcionante para acontecer, um organismo capaz de captar o externo e gravar em uma espécie de memória. Será, então, que um conjunto gravador-fita tem esse “Algo” interno que recebe a percepção do externo?
Para outros, consciência está relacionada não apenas com a capacidade de perceber o externo, mas também com a capacidade de perceber a própria existência, perceber os próprios pensamentos, emoções e ações. Todo estímulo externo pode gerar uma sensação, uma reação física automática e uma percepção, eventos que podem ocorrer independentemente, mas nessa seqüência, ou simplesmente não ocorrer. E assim somos inconscientes da grande maioria das coisas que nos acontece, principalmente de nossos processos internos, físicos e psicológicos, e do “externo” (as diversas freqüências vibratórias que nos chegam: infravermelho, sons, radioatividade, eletromagnetismo, subpartículas livres, etc.).
A existência de um mínimo daquela consciência do eu seria testada pelo auto-reconhecimento diante do próprio reflexo, percebido numa superfície espelhada. Mas apenas gorilas, orangotangos, chimpanzés e homens adultos se reconhecem num espelho: bebês, que têm emoções e esboçam reações não teriam, então, consciência? Parece que essa autoconsciência precisa da captação de informações sob si mesmo, registros na memória e o processamento posterior de todas essas experiências. Então um computador, que armazenasse informações sobre si mesmo e que fosse capaz do processamento e integração de todas as suas experiências seria autoconsciente?
Na verdade não podemos provar racionalmente nem a existência nem a inexistência daquele “Algo” interno, que percebe as coisas, em objetos como pedras ou estrelas, da mesma forma que não sabemos delimitar o limite entre o vivo e o não-vivo. O que faz um conjunto de bilhões de subpartículas gerar vida e consciência, ou elas já estão presentes, de alguma forma no quantum, no ambiente generativo da energia do vazio quântico? Ou a consciência acontece no encontro do imaterial com o material, que faz acontecer o movimento e a mudança, e se amplia quando se consegue ou se aprende a perceber formas cada vez mais sutis de matéria. Mudança, movimento, vida e consciência são inseparáveis e é justamente a percepção da mudança que faz surgir o tempo passado e futuro como ilusões geradas pela percepção seqüencial dos estímulos captados.
O que seria do mistério se o deixasse de ser? Somos um mistério que investiga o mistério que somos e o mistério que nos rodeia. Só haverá vida e consciência enquanto houver mudanças e novos mistérios. Na ausência de mudanças e de mistérios só há morte e inconsciência. Da mesma forma que a felicidade da viagem não está na partida nem na chegada, mas na viagem em si, a bem-aventurança não está na descoberta do mistério nem na sua resolução, mas na vivência do mistério em si mesmo.