Artigo publicado no jornal Diário de São Paulo
Autor: Dr. Ermelino João Pugliese
Data: 6 de Novembro de 1960
Cadastre-se para ter acesso amplo à área interna
A Verdade foi dada uma vez por todas, no início da Raça Ariana e ficou até nossos dias sob a guarda da outrora Sudha Dharma Mandalam (a Grande Fraternidade Branca), hoje com outros nomes tais como: GOVERNO OCULTO DO MUNDO, Pramantha Dharma, etc. De acordo com os ciclos históricos e culturais da humanidade, “aspectos” desta Verdade são comunicados aos povos através de certos movimentos iniciáticos. Esta tradição eterna que na velha Ariavartha é denominada de Sanatana Dharma, Gupta-vidyâ ou ainda Brahma-vidyâ, de ciclo em ciclo se manifesta de acordo com a necessidade da época. Traz ela um conhecimento próprio para cada raça ou povo, através de uma forma toda particular, mais favorável, mais acessível para o cumprimento de sua missão e restabelecimento dos princípios e leis divinas de modo a proporcionar a evolução espiritual e material da humanidade. A este conhecimento, a tradição de todos os povos faz referência, quando em sua manifestação, com o nome de ESPÍRITO DA VERDADE, que significa que é sempre a DIVINDADE que se manifesta todas as vezes; tanto é que todos prometem a Sua volta.
Haja visto Krishna, quando diz a seu discípulo Arjuna:
“Todas as vezes, ó filho de Bhârata, que Dharma (a Lei Justa) declina (como agora) e Adharma (o contrário) se levanta, Eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus (um julgamento cíclico, portanto, e não final). Para o estabelecimento da Lei eu nasço em cada Yuga (idade ou ciclo).”
Dos conhecimentos das “verdades” referentes às diversas épocas e diversos povos, recompomos a Doutrina Primordial. Não podemos conhecer a Doutrina sem buscá-la nas verdades cíclicas de cada época deixadas pelos povos, quando em seus períodos áureos era guiados pelos Membros do chamado Governo Oculto do Mundo.
Assim, quando queremos nos referir ao conhecimento puro, à psicologia profunda, recorremos à Índia; à cosmogonia, à metafísica, à magia, recorremos às tradições tibetanas e chinesas; através das revelações de Zoroastro tomamos conhecimento do conceito do bem e do mal, do positivo e negativo, dos deuses e demônios, enfim, o conhecimento da Polaridade. Do Egito nos vêm as verdades que tratam da vida além tumba, daí o Livro dos Mortos ou da Santa Morada; da Grécia, o sentido da harmonia, do belo e os Mistérios Eleusianos de Roma antiga, as leis que permitem viver em comunidade. Do Norte, entre os povos que herdaram as tradições hiperbóreas, o sentido da existência cósmica; entre os povos precolombianos, o sentido do tempo, dos ciclos, das sucessões a que todas as coisas estão sujeitas; do Cristianismo, a idéia ou a segurança da continuidade da existência após a morte, ponto obscuro nos ensinamentos dos que antecederam a Jesus: “No reino de meu Pai há muitas moradas…” (e não um céu apenas para todos…), isto é, “cada um colhe na vida póstuma segundo as suas obras enquanto vivo” – (não é isso a Reencarnação e Karma?), daí a maravilhosa lição do Sermão da Montanha; do Budismo, as quatro grandes verdades – razão da dor, porque o homem sofre, como se libertar dela, etc.
No Lamísmo, a chamada religião amarela ou de Lha-Ma (do Espírito e Matéria), a característica é o TULKUISMO – um aspecto da Verdade Universal que nos fala da “continuidade de consciência”, da manifestação do espírito criador. Dentro desta doutrina do Tulkuismo, vamos entender a sucessão de toda a série dos chamados Budas-Vivos, dos Dalai e Trachi Lamas e entender ainda que, em linhas gerais, as bases que chegaram até nós, da organização do chamado Governo Oculto do Mundo, uma vez que com o Lamaísmo esteve ele durante alguns séculos. Hoje o fenômeno é bem diferente… uma vez que o último Buda-Vivo entrega o “bastão” ao seu verdadeiro Dono… no Ocidente.
A palavra TULKU significa literalmente “uma forma criada por um processo mágico”, quase sempre de origem Agarthina, isto é, seres pertencentes ao Governo Oculto do Mundo, de misteriosos seres que, de quando em vez, surgem na face da terra transformando-a e que entre os tibetanos e mongóis são chamados de “Gentes de Shamballah”, que tanto vale pelos de Agartha, Asgardi, Ermedi, etc… (aos quais Helena Petrovna Blavatsky chamava de Mahatmã ou homens representativos).
De acordo com os letrados e místicos tibetanos, devemos considerar os Tulkus como emanações, projeções ou veículos, digamos assim, fabricados por um mago, por um ser da mais elevada espiritualidade às suas ordens ou serviço, uma espécie de estátua viva, da mais alta qualidade espiritual e física. São os Tulkus seres ligados ao escultor ou Senhor – (de cérebro para cérebro ou de inteligência para inteligência).
Segundo esta mesma doutrina, um BUDA ou um CRISTO é um tronco donde saem sete BODHISATWAS. Um Bodhisatwa é um tronco de onde surgem sete MANUS; e um Manu é outro centro donde podem surgir uma infinidade de outros tulkus de infinitas emanações.
Se um Buda-Vivo é um tulku, ou melhor, a mayávica sombra viva projetada por um Buda, o Lama é seu discípulo encarnado, donde a razão de ser das duas palavras Lha e Ma, donde Espírito que se torna matéria ou verbo que se fez carne.
A teoria exposta era praticada pela mais alta autoridade do Lamaísmo oficial e é idêntica à que se encontra nas obras budistas do chamado “Grande Caminho”. Dez espécies de criações mágicas se acham enumeradas como podendo ser produzidas pelos Bodhisatwas ou seres de grau imediatamente abaixo do Buda (um Buda dirige uma Raça-Mãe e um Bodhisatwa dirige sete Sub-Raças). O modo por que um Buda ou um Cristo pode produzir formas ou emanações aplica-se a qualquer ser humano, divino ou infernal. Não existe senão uma diferença de grau, de poder, que é unicamente o grau evolutivo da própria mente que procura agir ou criar.
A título de ilustração, não querendo sair do assunto, apontamos, por exemplo, o caso dos “protetores” dos centros espíritas, que podem ser uma projeção, uma criação formada pela crença daqueles que frequentam as sessões. Do mesmo modo os santos, as egrégoras obedecem em linhas gerais a este mecanismo. Pode haver maior criação negativa psico-mental do que aquela do “diabo”? Não confundir o diabo com o Anjo Rebelde, a quem a própria Divindade não admite que se lhe ofenda, que o próprio Papini não descreveu como merecia, a começar pelo título do livro “O diabo”, em vez de “O Divino Rebelde”. Um dos oráculos de Zoroastro diz: “As almas rebeldes são as que se salvam”… e rebeldia não quer dizer maldade… Fatos esses que nos obrigam também a apontar aquele documento do Mar Morto que cita as seguintes palavras atribuídas a Cristo: “O problema do bem e do mal não é dado ao homem compreender e tão somente a meu Pai”.
Os tulkus de personalidades místicas coexistem com o seu criador. É o caso de Deus e o Universo, donde os Sufis dizerem: “O universo, os seres e as coisas… são sombras, projeções do Senhor” e até acontecendo serem os dois venerados em separado. E a prova clara é que os tibetanos não acreditam que a personalidade divina esteja completamente encarnada no tulku. Assim, enquanto o Dalai-Lama, que é o tulku do Tchen-Resigs que habitava em Lhassa, Tchen-Resigs permanece em Nankai-Potala; Rimpotche, cujo tulku é o Trachi-Lama, habitava em Nub-Devatchen e o Trachi-Lama em Jigat-Tsé (Chigat-sé).
“Em nossos dias”, diz Alexandra David-Neel no seu livro “Místicos e Magos do Tibete” (isto antes do ano de 1924), “é voz corrente que quando o Trachi-Lama teve de fugir de Jigat-Tsé, deixou em seu lugar um fantasma, perfeitamente idêntico, o qual iludiu a quantos conviviam anteriormente com ele. Logo que o grande Lama alcançou o outro lado da fronteira, o fantasma desapareceu”.
Na tradição ocidental existem numerosos fenômenos dessa natureza cuja explicação se acha na complexíssima doutrina do tulkuismo. É o caso, por exemplo, de Apolônio de Tiana, de Antônio de Pádua e outros santos da Igreja se desdobrando e se materializando à distância, deixando em seu lugar um outro…, um fantasma de si mesmo.
Porém, criações mágicas de um Bodhisatwa são de maior amplitude, capazes de receber uma vida real, infundida pelo próprio criador. Kriya-Shakti é o processo de criar pelo poder da mente. Os antigos afirmam que qualquer idéia ao manifestar-se externamente, pela concentração da atenção e da força de vontade, podia dar resultados físicos.
As personalidades mencionadas anteriormente, são todos tulkus de seres da mais alta hierarquia do chamado Governo Oculto do Mundo, como foram do Cristianismo alguns Papas. Seres de um valor enorme foram, por exemplo, Leão XIII – que em 1890 “estando ele a rezar a santa missa, viu e ouviu o Cristo discutindo com Lúcifer, pois este exigia daquele, de 50 a 60 anos para destruir a sua Igreja. E o Cristo lhe respondeu: ‘Está bem. Em tal época nos encontraremos e tu terás que ajustar contas comigo…’ O diálogo entre Cristo e Lúcifer se encontra na ‘Voz de Santo Antônio’, Petrópolis, de 9 de setembro de 1952, transcrito da revista católica ‘Ave Maria’. Desde aquela época a Missa é terminada com as orações compostas pelo próprio Papa Leão XIII, que visam proteger a Igreja (aliás, aquela visão é da mais alta relevância pois oculta fatos de grande transcendência na história do cristianismo…).”
Pio X – (O mesmo que se negava a benzer espadas, comprovando o dito de Jesus a Pedro: “Pedro, embainha tua espada, pois quem com ferro fere, com ferro será ferido” – não comprova também as sábias leis de Karma e Reencarnação?) e, finalizando… o grande e saudoso Papa Pio XII – o Pastor Angelicus, o Grande Papa, que segundo as profecias e muitas predições emanadas de alguns Santos da Igreja e de pessoas que se cercaram de renome de santidade, seria contemporâneo do “GRANDE MONARCA”, Príncipe de paz, vencedor do anti-Cristo, que “…pelo trabalho do Grande Papa e do Grande Monarca, o ideal de união de todas as religiões cristãs será realizado. Um grande Concílio será reunido e estabelecerá os novos estatutos; alguns padres se revoltarão contra os novos estatutos, etc, etc,…”; mas o Santo Papa… já não existe. O mesmo que manifestou o desejo de que a Igreja voltasse ao cristianismo primitivo. Como se sabe, até o 4º Concílio era adotada a “Transmigração da Alma”…
Estas formas tulkuisticas provêm uma das outras e existem denominações especiais para todas elas. Para os ocidentais é de difícil compreensão o fenômeno, principalmente se não dosarmos com lógicas considerações. Cada homem é um médium (salvaguardando as grandes distâncias que existem entre os “espíritas” e os que ensinam tais coisas no Tibete); falando no sentido de “mediador”, de ponte, de pontífice, embora que para o verdadeiro teósofo, como para o ocidental de cultura, o iniciado é o contrário do médium. O primeiro domina conscientemente, como soberano, as forças produtoras; o outro (o médium) é um simples joguete inconsciente e vítima, na maioria das vezes até, de embustes de espíritos zombeteiros, como ensinam unanimemente os Kha-Gynd-Karma, isto é, os homens conhecedores das causas operadoras do Karma. Razão pela qual o Budismo ortodoxo proíbe desde logo, àquele que há de ser um tulku, todo o rito religioso corrente, para que a Iluminação, que deve ser obtida pelo estudo e esforço da mente, não venha a ser prejudicada. Interessante é ainda recordar que a seita dos Docetas, no cristianismo primitivo, considerava que o próprio Jesus crucificado não fora um personagem natural mas um “outro”, um fantasma criado por uma entidade espiritual tão real como o seu criador, para representar semelhante papel, a tal ponto de tomarem um pelo outro. Qual dos dois morreu na cruz? E dos dois túmulos, o que foi encontrado vazio, a quem pertencia? Ao verdadeiro ou ao tulku?
Ao poder temporal (guerreiro) ou ao espiritual (sacerdote), de cuja opinião compartilham certos budistas a respeito de Buda? Segundo estes, Buda jamais abandonou seu Paraíso Tuchita, limitando-se a criar um “fantasma”, um tulku de si próprio; foi o que apareceu na Índia sob a figura de Gautama – o Buda histórico. Razões tinha Helena Petrovna Blavatsky, ao afirmar: “Mais vale viver pela Humanidade do que por ela morrer”. Ou ainda, como diz o Sura 3º do Alcorão: “Ó tu, Senhor, que fazes entrar a Vida na Morte e a Morte na Vida; Ó tu, Senhor, que fazes entrar o Dia na Noite e a Noite no Dia; a ti, mais preciosa é a tinta do sábio que o sangue do mártir.”
Em resumo, o Tulku é a projeção, a emanação ou a sombra transitória neste mundo, de entidades, de categorias imediatamente superior; tudo em a natureza é tulku de algo deífico, que se acha sempre por cima: o homem do Jina, o animal do homem, a planta do animal e o mineral da planta, etc.
O mecanismo da sucessão teocrática dos dirigentes espirituais do Lamaismo era o único no mundo; não era hereditário e nem eletivo. Dizemos, era, porque o ciclo de duração daquela notável religião, espiritualmente terminou com o 31º Buda-Vivo e com o 13º Dalai-Lama. O Dalai-Lama nasce todas as vezes num corpo novo e é sempre o mesmo (tulkuismo – “continuidade de consciência”). Fala-se que até o presente momento não houve 13 Dalai e sim 13 “aparições” de um só Ser, de uma entidade espiritual denominada Bodhisatwa Avalokistewara (em tibetano CHEN-REZI…), a compaixão, a benevolência personificada.
A GRANDE SABEDORIA DO TULKUÍSMO
O processo de encontrar o próximo Dalai é dos mais estranhos, único e verdadeiro no mundo. Por ocasião da morte de cada Dalai, forma-se um concílio dos Lamas mais especiais e começam a consultar o Oráculo do Estado, que tem um valor supremo. Logo após o Oráculo, segue-se o processo de encontrar o Dalai. O enunciado traz no corpo certos sinais especiais (32 sinais ao todo – são os 32 portais da sabedoria, dizemos nós) além de outras características mencionadas pelo próprio Dalai antes de morrer. Uma vez encontrada a “criança”, deverá reconhecer, entre inúmeros objetos, os pertences da vida anterior, como os seus auxiliares ainda vivem, etc. Deverá deixar claro a “continuidade de consciência”. Na mesma razão deste fenômeno é a série histórica dos chamados “Reis Divinos” do antigo Egito, do Peru, etc.
Na opinião do povo tibetano e mongol, todos os tulkus, mesmo os de elevada hierarquia, são considerados como uma projeção do que está acima ou ainda, de seu antecessor. Kut-Humi teve ocasião de dizer: “Eu tenho outro acima de mim”. É preciso não confundir com sósia, como tinham Hitler, Mussolini e Stalin. Em nossa Obra poderíamos citar inúmeros exemplos de tulkuismo mas, infelizmente, não é ainda momento para chegar ao conhecimento do mundo profano. Certa ocasião, o nosso dirigente, ao ver Helena Petrovna Blavatsky atacada injustamente achando que devia defendê-la porque outras instituições não quisessem fazê-lo, como acontece até hoje, resolveu fazer um artigo muito interessante, onde apresenta 3 fotografias de H. P. B., perguntando na legenda que fez: “O leitor que aponte: qual delas é a verdadeira?”.
O sucessor de uma linha de Tulkus é chamado de Ku-Kang-Ma. Não é condição essencial pertencer a ordem religiosa. Inúmeros são os que pertencem a ordens artísticas, científicas e políticas… ligados a “movimentos” de grande transcendência no plano social, a serviço dos excelsos Membros do Governo Oculto do Mundo, na razão das sete linhas do mesmo Pramantha…
Lembramos mais uma vez que não se trata de sósia, embora tenham fisionomias idênticas. O Tulku é consciente de seu papel, por ser Iniciado, o que não acontece com o sósia que é contratado para fazer o papel pelo verdadeiro.