A Importância da Importância

A IMPORTÂNCIA DA IMPORTÂNCIA

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O que parece um jogo banal de palavras pode encerrar um significado imenso: nada é mais importante, talvez do que saber distinguir o que é importante.

Não se trata de um calembur, mas de uma extraordinária realidade que se confirma a cada momento. A maioria das pessoas encontra dificuldades em precisar as questões fundamentais, e na dúvida acaba optando pelo fútil e pelo acessório. Alguns daqueles problemas hoje considerados importantes são, de fato, mera conseqüência de outros – esses sim, básicos – que, resolvidos, acabariam por sanar, como resultado, todos os outros.

A crise de energia, a distribuição da riqueza, a desumanização do homem pela tecnologia e pela competição, a produção de alimentos no mundo, a difícil convivência entre os homens nos grandes centros urbanos, são esses os problemas mais importantes com que o homem se defronta?

Essas dificuldades não surgiram sozinhas, mas do resultado de um desenvolvimento complexo, uma espessa malha de causas e feitos que começou no homem, passa por ele e a ele continuará ligada até um ponto impreciso no futuro. O ser humano, por razões que merecem ser examinadas, tornou incrivelmente complicada a vida comunal. Seus receios, seus desejos, sua necessidade frenética de segurança, teceram a malha fantástica que algum dia terá de ser desenrolada para que o homem reencontre o que de certo modo, é seu por direito: a tranqüilidade, o amor, o trabalho feliz, a justiça.

A trama não surgiu sozinha, foi criada por todos e ninguém está alheio a essa responsabilidade. O mundo não se encontra em crise há apenas alguns anos. É verdade que a situação agora está aguda como nunca, mas o problema é antigo. A História do Homem, pelo menos nos últimos 30 séculos, tem sido uma sucessão de incompreensões, brutalidades e egoísmos de todos os matizes e gêneros. As guerras cruéis, os tratados hipócritas, os crimes hediondos cometidos em nome da felicidade humana e da justiça social desmascaram os melhores propósitos de líderes e estadistas, que se colocam como todos nós, separados do fulcro da violência e da injustiça, como se não tivessem em seu espírito aquela mesma matéria prima que produz a morte e os ferimentos, a indiferença diante da dor e a ambição de chegar ao poder e de se manter ali.

A crise do petróleo, a distribuição da riqueza, a robotização do homem pela tecnologia, a irresponsabilidade na produção e na distribuição de alimentos no mundo, tudo começa, afinal, na maneira como pensamos o mundo, isto é, no modo como nos situamos na vida. Somos um núcleo solidamente instalado, cada um de nós, e em nosso redor o universo gravita. Tudo converge e parte desse centro, comandado pelo que julgamos ser consciência. Pela sua peculiar estrutura, o eu vive em torno de si mesmo, concentrado nos seus pequenos interesses, que às vezes confunde com os interesses do mundo. Esse núcleo tem vagas idéias a respeito de si próprio e, nas células onde vive, arquiva uma bagagem variável de dados e experiências que usa em função dos seus impulsos, invariavelmente egocêntricos. O eu é um punhado de condicionamentos, um computador sofisticado que se alimenta a si mesmo conduzido pelo impulso de preservação e pelo desejo de sobrepor-se a tudo mais. Esse centro – que não é a mente no seu todo – criou o mundo que conhecemos, esse mundo que está, cada dia de modo mais perceptível, em plena crise.

Em todos os problemas que os homens elegeram como prioritários, mas que são decorrentes de outros, fundamentais, há o dualismo típico da mente conturbada. Na conflagração do petróleo está, de um lado, o consumismo neurótico do Ocidente, e, de outro, o escândalo de uma chantagem mundial feita com pretextos nobres e um background religioso pouco convincente.

No caso da distribuição das riquezas existe também a alternativa maniqueísta opondo a insensibilidade dos que muito possuem à exploração política dos que fazem da justiça social uma escada para sua verdadeira meta, o Poder. As dificuldades com a tecnologia que coisifica o homem são produto evidente da imaturidade desse mesmo homem, que só pensa nos resultados e não leva em consideração os meios. Nos exemplos todos é possível encontrar questões realmente importantes, e elas estão centradas na mente humana, não nas dificuldades que essa mente produziu no mundo exterior com seu egoísmo e sua vulgaridade.

Nada é mais importante, então, do que saber distinguir o que é importante.

As tentativas de resolução que partem apenas da modificação dos efeitos são inúteis. Nada muda quando somente os resultados são modificados. As crises políticas, econômicas, militares, religiosas, industriais e administrativas são meros efeitos. Decretos, decisões, revoluções, medidas drásticas são igualmente inócuos enquanto cuidarem dessas situações “mortas”, praticamente já acabadas que são os resultados. Seria o mesmo que eliminar a febre sem procurar a causa, ou afastar a fumaça sem apagar o fogo. O noticiário impresso e falado que dá conta do que se passa no mundo todos os dias, e que pode ser um aprendizado diário inestimável, se for visto apenas como a crônica dos grandes problemas que afligem o homem, pode parecer vazio e cansativo.

Por trás das imensas questões que fazem tremer o planeta, hoje mais do que nunca, está o espírito, a mente do homem, também hoje mais do que nunca doente, prisioneira da própria ignorância.

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