Embora qualquer pessoa que pare para pensar sobre o assunto perceba que talvez seja a única certeza que se tem em nossa vida, a morte permanece, para a maioria da humanidade, associado a dor, medo e sofrimento. Será que a morte representa tudo isso mesmo?? De que temos medo? Do desconhecido? Mas se a morte for de um ente querido, por que sofremos?
Na realidade sofremos a nossa perda, sofremos a ausência de nosso “objeto de apego”, ou a perspectiva de sua ausência. É o nosso ego que clama e sofre a dor da perda de um ente querido. Longe de ser uma demonstração de amor, é um sofrimento egoísta pela perda de um objeto de prazer. E continuamos sofrendo, num processo de luto, principalmente pela falta do toque e do ser tocado.
Ignoramos que nada toca em nada, pois o toque é apenas uma repulsão eletromagnética entre a camada de elétrons mais externa das duas pessoas, que gera outro sinal energético que, chegando ao cérebro, nos dá a ilusão de um toque. Mesmo assim não dá para esquecer que o sofrimento do luto é real, que o ego está sofrendo a perda de um objeto de prazer.
As repercussões do luto envolvem aspectos físicos (falta de apetite, insônia, palpitações, etc.), emocionais (culpa, depressão, tristeza, etc.), intelectuais (desconcentração, desorientação, etc.), sociais (isolamento, falta de interação com os outros, etc.) e espirituais (perda de fé, raiva de Deus, questionamento de valores, etc.) do ser humano. De luto não conseguimos cumprir as nossas metas, mas precisamos vivê-lo completamente até o esgotar de sua energia, sob pena de encobri-la sob uma máscara de suposta normalidade que nos desgastará a vida.
Como já disse o poeta, não podemos evitar que os pássaros da tristeza voem sobre a nossa cabeça, mas podemos e devemos evitar que aí eles façam o seu ninho. E assim, como tudo em nosso Universo, podemos mudar o nosso olhar e ver os fatos de outra perspectiva. Como posso ajudar o nosso ente querido que faleceu? Como posso ajudar às outras pessoas que estão também sofrendo o luto, que pendências foram deixadas e como ajudar no ajuste do novo ambiente sócio-familiar sem a presença do falecido?
E assim a grande maioria da humanidade perpetua um rito depressivo de saudades de um passado que não mais existe, chorando a falta de um antigo estímulo prazeroso aos sentidos físicos. Esqueceu-se a verdadeira função do rito: refletir sobre a vida e a morte, sobre a nossa finitude e sobre a transitoriedade de todas as coisas manifestadas.
“E o futuro é uma astronave, que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade,nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida e depois convida a rir ou chorar. Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela ninguém sabe, nem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela, de uma aquarela que um dia enfim descolorirá…”