Em Janeiro deste ano esta bendita pergunta veio a minha mente em uma segunda-feira ao término de minha última aula na Shanta. Sem entender bem o porquê desta pergunta fiquei pensativo e, para a minha surpresa, a resposta veio minutos depois.
Com isso em mente, entrei no carro, liguei e sai com destino a minha casa. Após uns 05 minutos dirigindo deparei com um táxi fazendo uma conversão proibida em meio a uma avenida movimentada, completamente apagado e o motorista falando ao celular. Logo, quase colidi com o o táxi. Minha reação naquele momento foi tirar o carro da lateral do taxista, atravessado na pista, e buzinar forte. Tirando o susto, continuei andando, agora um pouco mais devagar.
Dois mil metros à frente parei o carro em um semáforo e, sem esperar fui surpreendido, com um soco no meu cotovelo que estava sobre a porta, por um homem, agora em pé, ao lado do meu carro aos berros. Enquanto eu tentava argumentar para saber quem era aquele senhor levei um “belo” soco na boca sentado no banco do carro. Juro que fiquei sem reação, na verdade eu não acreditava (rsrsrsrsrs). Aí, aos gritos, aquele senhor disse que era o taxista.
Mas me surpreendi com os próximos instantes: uma calma tão grande se fez presente, que a única coisa que eu dizia, desviando novamente de seus socos, era para ele voltar para o seu carro pois estava completamente fora de si.
Aquela situação durou cerca de 1 minuto, mas mantive uma calma que não esperava. Ao abrir o semáforo os motoristas começaram a buzinar e ele voltou para o seu carro que estava parado a uns 07 carros atrás do meu. Voltei a dirigir mantendo a mesma serenidade como se não houvesse ocorrido nada, minha respiração sob controle, um sentimento tão grande de compaixão por aquele homem que estava visivelmente transtornado.
Alguns segundos e uma voz silenciosa se manifestou: “Está aí sua resposta, é para isso que você pratica Yoga”. Confesso que a resposta poderia vir sem aquele soco na boca, mas já que veio vamos tirar a lição.
Esta frase caiu com uma bomba na minha cabeça, talvez mais forte que o soco que havia levado. Provavelmente no passado eu estaria brigando com o taxista até agora, mas pude sentir na prática como estes anos de Yoga me auxiliaram.
Toda esta situação enfim me fez refletir sobre a nossa prática. Muitas vezes estamos tão preocupados em fazer posturas mirabolantes, colocar o pé atrás da cabeça, entrar em uma caixa e não damos a devida importância aos outros angas do Yoga. Naquele momento de nada adiantaria fazer, com todos os alinhamentos possíveis, o Trikonasana, Mayurasana, muito menos o Shirshasana, pois a única coisa que que iria conseguir era apanhar de ponta cabeça.
Mas foram os benefícios destas e outras posturas, mais o alinhamento necessário em cada asana para manter a mente e todas as partes do corpo envolvidas conscientes, a concentração durante as posturas de equilíbrio, a tentativa de manter a respiração sob controle durante um asana que exige um grau maior de dificuldade, a conexão com a respiração na busca de um pranayama que verdadeiramente altere nosso estado de consciência e expanda o nível de prana do nosso corpo e, enfim, a prática da meditação que, automaticamente, fizeram meu corpo e minha mente reagirem daquela maneira, tanto durante, quanto depois.
Não vejo problema algum em pessoas praticarem Yoga visando apenas um dos benefícios da prática, porém apenas gostaria de pedir que parássemos para pensar um minuto sobre isso:
“Sub-utilizar a pratica do Yoga é como estar sentado no banco de uma Ferrari e andar somente em primeira marcha.”
Que possamos refletir.
Namastê e muita paz.