Como costumo dizer, um dos maiores erros das religiões são os seus exageros. Por exemplo, o da Transubstanciação. Outro é o da divindade de Jesus, o qual devemos engrandecer ao máximo, pois Ele é o Filho de Deus, por excelência. Mas daí a levá-Lo à categoria de outro Deus é um absurdo. Como ensinou Ário, o heróico e talentoso teólogo do cristianismo primitivo: “Há um grande abismo entre Deus e Jesus Cristo”. Por isso, Jesus nunca disse que era Deus, mas apenas Filho de Deus. Aliás, o Nazareno nos classificou como sendo filhos de Deus, também, ao qual Jesus adorou e nos ensinou a adorá-Lo. E cá para nós, Deus não pode adorar outro Deus. Se fosse o caso, qual seria o Deus verdadeiro, o Pai ou Jesus? E, se este disse que o Pai é maior do que Ele, (João 14,28), é porque, realmente, Jesus não é mesmo Deus.
Apenas podemos afirmar que Jesus é deus relativo, como nós também o somos (João 10,34). Já Deus mesmo é absoluto, ou seja, aquele que santo Tomás de Aquino classificou como sendo o único ser incontingente existente, e que Kardec denominou, segundo a orientação de espíritos evoluídos da Codificação Espírita, de a causa primária de todas as coisas e a inteligência suprema.
Esse Ser incontingente não vem de outro ser, enquanto que todos os demais procedem de outros seres e são, pois, os contingentes. E Jesus Cristo, segundo o aposto Paulo, é o ser primogênito de Deus, isto é, o primeiro a ser criado. Num seminário bíblico-teológico-espírita que fiz em Lagoa da Prata (MG), uma pessoa me fez esta pergunta: Jesus Cristo é o primogênito do nosso planeta Terra, do nosso Sistema Solar ou do universo? Respondi-lhe que o apóstolo Paulo não esclareceu isso e que quem seria eu para o fazer? Mas afirmei que eu tendia a admitir que Jesus Cristo seria o primogênito de Deus, do nosso planeta Terra e não de todo o universo. E Jesus e nós podemos ser criadores, mas todos nós somos igualmente criados, isto é, criaturas emanadas de Deus ou de outros espíritos da sintonia de Deus (Hebreus 1,14), o Criador incriado.
A doutrina de que Jesus é Deus foi o primeiro dogma do cristianismo, no polêmico Concílio Ecumênico de Nicéia (325). Muitas dissensões e mesmo agressões físicas entre os bispos marcaram esse concílio, no qual talvez tenha havido mais irritação do que inspiração de Deus! E esse dogma só vingou porque tinha o apoio do poder civil de Constantino, que foi, inclusive, quem convocou o concílio. Mas o próprio Constantino, depois, ficou contra esse dogma (mais informações em meu livro “A Face Oculta das Religiões”, capítulo 4, EBM Ed.).
Até hoje, ainda existem cristãos a favor de que Jesus é outro Deus. Mas há os cristãos arianos, cada vez mais numerosos, que são contrários a esse grave erro dos teólogos cristãos!