A Metafísica, ou Ontologia, é uma área da Filosofia na qual se reflete sobre a existência dos seres do universo. A reflexão filosófica é puramente racional, amparada na ciência da Lógica. A primeira pergunta metafísica é: “Por que existem os seres ao invés do nada?” Ou melhor, “por que existe o universo ao invés do nada?”
Essas questões nos remetem diretamente para as mais profundas indagações humanas encontradas em todos os tempos: qual é o significado de estarmos vivos aqui no planeta Terra. Endereço: Via Láctea. País: Universo. O que significa existirmos juntos a outros seres completa e radicalmente diferentes de nós: estrelas, minhocas, orquídeas, pedras, mamões, computadores, luz, ar, cachorros, e por aí vai.
O filósofo pensa a partir dessas diferenças, que em Filosofia chamam-se “diferenças ontológicas”. Esse é o campo de estudo da Metafísica.
Outras questões que comparecem espontaneamente no pensamento humano são igualmente metafísicas: “O que acontecerá após minha morte?”; “Será que há existência da alma após a morte?”; “O que significa a existência dos seres vivos na amplidão do cosmos?”; “O que estou fazendo aqui?”; “Quem sou eu?”
A Filosofia é um detetive de idéias: mais do que respostas prontas ele formula questões. E estas questões, em Filosofia, não têm uma única resposta provada ou considerada como única verdadeira. A Filosofia é um modo de pensar anti-dogmático, ou melhor, ela é contra verdades estabelecidas e inquestionáveis ou indiscutíveis. Por isso, os filósofos encontram muita dificuldade para respondê-las e ter certeza absoluta de que as respostas achadas são as verdadeiras.
Essa dificuldade não é pela incompetência filosófica, mas pela natureza do objeto de estudo: “Quando o conhecimento se dilata, o infinito recua”. Vale dizer, racionalmente não alcançamos a certeza absoluta, por mais que consigamos obter conhecimento, o universo é sempre mais vasto e mais enigmático ainda do que a razão supõe. O filósofo pensa a partir de sua razão e nada mais. Sem autoridades reveladas, sem livros sagrados ou inspirações divinas. Lembro-me neste momento de meu ex-cliente e amigo Raul Seixas dizendo: “Eu queria ser uma metamorfose ambulante – Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Na realidade, os filósofos como que bóiam num mar de dúvidas e questões racionais e são predominantemente humildes diante da existência do universo inescrutável. Mas, existem doutrinas não filosóficas que propõem respostas absolutas para essas questões metafísicas. São as doutrinas teológicas.
A Teologia questiona e responde, com certeza absoluta, sobre a existência de Deus, seus atributos e a sua relação com os homens e os outros seres do cosmos. Essas respostas diferem de acordo com a doutrina de cada religião. A primeira pergunta teológica é: “Deus existe?”; “Como é Deus?”; “Deus criou o Universo?”; “Se o Universo não foi criado, qual é a participação de Deus no Cosmos?”; “É possível saber a vontade de Deus?” As respostas diferem de teologia para teologia ou de religião para religião
Podemos perceber, então, que as abordagens diferem num ponto importante: qualquer Filosofia parte do raciocínio humano sobre alguma coisa e qualquer Teologia parte de alguma concepção de Deus.
É estranho pensar sobre algum Deus? Mas, Deus não é um só? Se nos debruçarmos sobre as culturas humanas do planeta, descobriremos que existem várias concepções de Deus e do Demônio nas diversas teologias e religiões:
Teísmo: crença na existência segura de algum tipo de Deus definido. Esse Ser é o sumo Bem.
Ateísmo: crença de que nenhum tipo de Deus existe com certeza.
Agnosticismo: considera Deus incapaz de ser conhecido com certeza pela razão ou intuição humanas. A pessoa agnóstica abstém-se de falar sobre Deus como se fosse um ser facilmente reconhecido e suas vontades também. Apresenta uma postura de silêncio sobre esse tema.
Teísmo Fundamentalista: crença de que o Deus de sua religião é o único certo, bom e verdadeiro. Os outros são errados, maus e falsos. É uma posição de intolerância religiosa. Qualquer fundamentalismo pode levar às guerras chamadas 'santas'. Os fundamentalistas geralmente possuem um livro sagrado, tido como a 'revelação' de Deus aos homens, mediada por algum ser humano considerado muito virtuoso.
Teísmo Criacionista: crença em um único Deus poderoso, que quis criar o universo num momento privilegiado. Antes de Deus ter a suprema vontade de criar o Cosmos, nada existia. Neste caso, Deus é transcendental, visualizado como sobrenatural, ou seja, é destacado além da natureza. Deus é, para os criacionistas, uma entidade definida, separado completamente das criaturas que criou. Ele não faz parte da natureza, mas interfere no rumo dos eventos da natureza, conforme Seus desígnios. Deus disponibiliza a ordem dos seres conforme quer, pois tem uma intencionalidade onipotente, ou seja, é capaz de fazer qualquer coisa que quiser.
Deísmo: pessoa que crê num Deus, mas não na Revelação da Bíblia.
Monoteísmo: crença em um só Deus. Neste caso, a pessoa pode ser fundamentalista ou tolerante.
Politeísmo: crença em vários deuses ao mesmo tempo. Para a pessoa politeísta não existe só um tipo de Deus, mas vários.
Panteísmo: considera que Deus é a própria natureza. Deus é imanente a tudo, vale dizer, Deus está contido e é a manifestação de tudo o que existe. Deus não é um ser definido, mas pertence a qualquer manifestação natural.
Religião: é qualquer prática social associada a uma crença doutrinária em Deus. Portanto, religião não é teologia, que é um estudo racional sobre Deus. O teólogo pode ser religioso ou não e vice-versa.
As religiões costumam ter algumas das características abaixo:
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a) Dogmas: são pontos iniciais de uma crença que não são colocados em discussão. São conteúdos tomados como verdadeiros sem possibilidade de questionamento. Precisam ser aceitos e não há mais nada que fazer. Exemplo: conteúdo das revelações. Parte-se do princípio de que são verdadeiros e ponto final. A partir dos dogmas as religiões estruturam suas doutrinas.
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b) Rituais: são ações ou práticas repetidas em intervalos constantes para algum tipo de encontro com o divino. Exemplo: ir à missa; fazer uma oferenda etc.
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c) Misticismo: é uma vivência, um sentimento pessoal de contato com Deus ou com algum ser sagrado.
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d) Provas: quando falamos em 'provas' da existência de Deus, são 'provas' fundamentadas na 'palavra' de alguma pessoa considerada especial pela sociedade em que ela vive. Ou, são 'provas' baseadas na 'autoridade' de algum livro considerado sagrado. Não são provas científicas ou de laboratório.
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e) Verdades: as verdades de uma religião são crenças convencionadas como 'verdadeiras' e, por isso, compartilhadas numa comunidade. O compartilhamento de uma crença faz com que ela se torne uma verdade e faça mediações nos relacionamentos humanos, criem valores do certo, originem projetos de vida em suas sociedades. A 'verdade religiosa' não é uma 'verdade científica' provada em laboratório.
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f) Mitos: são estórias inventadas pelo imaginário humano para explicar algum fenômeno desconhecido e que serve para aplacar o terror do homem diante deste desconhecido. Os mitos são 'verdades' pessoais e não científicas.
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g) Pensamentos mágicos: são crenças de que a força interna do pensamento humano é capaz, por si só, de alterar o rumo dos acontecimentos externos à pessoa.
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h) Crença na reencarnação: essa concepção hinduísta de espírito, ou alma, propagou-se para muitas religiões. Nesse caso, a alma é imortal e evolui através de re-encarnações. Ou seja, a mesma alma encarna (torna-se carne) novamente, de tempos em tempos, em corpos diferentes, vivificando bebês humanos sem alma e re-iniciando uma vida terrena corporal muito diferente da anterior. E nesse ciclo, a alma pode aperfeiçoar-se. Quando a alma atingir a perfeição, encerra-se qualquer reencarnação.
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i) Crença na metempsicose: é a possibilidade de reencarnação de almas humanas em corpos de animais não humanos. Ou seja, é a concepção de que os corpos de outros animais podem ser abrigos para almas humanas no ciclo contínuo de nascer-morrer-reencarnar.
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j) Crenças na ressurreição: é o ato da alma ressurgir ou reaparecer viva corporalmente, no mesmo indivíduo, depois de morto. O 'dono' da alma ressuscita em seu próprio corpo uma vez só num momento privilegiado. É uma concepção bíblica judaico-cristã, segundo a qual os mortos ressuscitarão e voltarão à vida em seus mesmos corpos revivificados. Por exemplo, no dia do Juízo Final.
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k) Crenças no renascimento: ocorre sem precisar esperar o dia do Juízo Final. Pode acontecer em outras datas marcadas dependendo da religião. Renascer é voltar à vida. O renascimento pode incluir renascer no seu próprio corpo humano ou ser um renascimento simbólico, através de rituais de iniciação. Como por exemplo, o batismo cristão, em que a pessoa pode até mudar de nome.
Concepções do Mal:
O mal pode ter vários tipos de definições e possuir vários tratamentos, dependendo do núcleo cultural estudado. Por exemplo, na Ética, ter um tratamento filosófico, nas reflexões sobre as convenções sócio-culturais do certo ou errado.
Na Filosofia, o mal é encarado como erro, como ignorância, como incompetência. O conhecimento irá fazer o mal desaparecer, pois o mal não possui existência própria, independente do homem.
Mas, sobretudo, nas religiões, o mal pode apresentar diversas concepções diferentes.
•a) O mal como entidade: nesse caso o mal seria o mal ontológico. Ou seja, seria uma entidade maligna que tem existência, mas é independente do homem e de Deus. Mas, além de existir realmente, o mal é poderoso e intencionalmente perverso. Ou seja, é um ser que deseja interferir negativamente nos acontecimentos das vidas das pessoas e no ordenamento do Cosmos. O mal, nesse caso, é sobrenatural, transcendental, seu modo de existir está além da natureza. Exemplo, é a concepção hebraico-cristã do mal como demônio ou satã.
•b) O mal como interno à natureza: o mal seria a própria existência das coisas. Os seres seriam o signo da maldade intrínseca à matéria que os formam. A degeneração de todos os seres do universo seria a 'prova' do Mal como criador onipotente. Exemplo: o Satanismo.
•c) O mal como ausência do bem: nessa concepção o mal não é uma entidade, não possui existência por si mesmo. É a falta de bem em algum ser que o conduz ao mal. Nesse caso, o mal não é uma entidade própria, mas é a expressão da ausência do bem em determinado ser real ou espiritual. É uma concepção leve de mal. Toda a ação religiosa deve acrescentar o bem à pessoa, ou espírito, onde o bem falta. Exemplo, o mal no Kardecismo.
•d) O mal como força de modificação natural: nesse caso, o mal não é um ente específico nem é a natureza inteira. É interior à matéria. É um princípio de movimento. A modificação natural tanto pode transformar coisas boas em ruins ou vice-versa. A natureza não contém em si valores do certo ou do errado. Quando a natureza muda ela não está intencionalmente prejudicando alguém. A natureza, portanto, modifica-se neutramente e ao acaso, e, com isso, pode fazer mal a alguma pessoa. O mal seria casual, seria uma força de transformação não intencional da natureza e que 'sem querer' pode provocar alguma desgraça. Exemplo: Exu do Candomblé (mas não o Exu da Umbanda).
•e) O mal como ignorância: aqui o mal é visto como pertencente exclusivamente ao ser humano. É erro, falta de conhecimento verdadeiro, incompetência humana, ignorância. Não é imanente à matéria, nem transcendente. É uma propriedade humana que pode ser modificada através da cultura.
•f) O mal como influência: nesse enfoque, os seres humanos estariam sob influência de seres malignos espirituais que os conduziriam para ações prejudiciais a eles mesmos. A influência maligna seria de 'fora', do mundo sobrenatural para o homem e modificaria a própria consciência do sujeito. Nessa condição, o sujeito perderia seus critérios e seria capaz de fazer ações inconscientes ou não deliberadas por ele. Ou seja, o homem agiria nesse mundo a partir dos desejos de espíritos malignos. Exemplo: Umbanda.