MN4: Catástrofe ou Oportunidade

Em 10 de junho recebi um e-mail de um amigo perguntando se eu sabia algo sobre uma catástrofe anunciada para as próximas horas, pela mídia e pela NASA: um cometa com 11.360Km de diâmetro, de codinome “destroyer”, estava pra entrar na atmosfera do planeta. O e-mail dava a entender que era uma notícia divulgada pelo The New York Times e tinha um contexto claramente apocalíptico. Após pesquisa exaustiva na Internet (tinha acabado de escrever e divulgar o texto sobre as profecias), não encontrei nada sobre o dito cometa em nenhum jornal eletrônico e em nenhum mecanismo de busca. Mas encontrei outra coisa!!



O artigo mais similar achei no site da NASA (http://impact.arc.nasa.gov/index.html) e hoje pode ser visto na seção “ASTEROID AND COMET IMPACT HAZARDS”: http://128.102.32.13/impact/news_archive.cfm?year=now). Esse artigo, “The Saga of Asteroid 2004 MN4” (http://128.102.32.13/impact/news_detail.cfm?ID=154), fala do asteróide 2004 MN4 descoberto em 19/06/2004 na Universidade do Arizona, passando muito próximo à Terra, que foi observado durante quatro entardeceres (19, 20, 23 e 24 de junho). Depois disso, nuvens de tempestade, e depois a luz da Lua, prejudicaram a observação e somente foi avistado novamente seis meses depois, na Austrália em 18 de dezembro. Em 20 de dezembro, as probabilidades calculadas de impacto imediato sobre a Terra foram de uma em 2500.

O MN4 é um objeto da classe Atens, sub-espécies de corpos celestes que orbitam entre o Sol e a Terra, e por isso são dificilmente observados à luz do Sol, mas preferencialmente ao amanhecer ou entardecer. Esse asteróide, com diâmetro aproximado de 400m, é maior do que o que causou a cratera no Arizona e maior do que o que explodiu na Sibéria em 1.908, incendiando milhares de metros quadrados de florestas. Embora não devesse causar nenhum dano em escala global, a sua massa e energia teriam o efeito de 10 a 15 mil Megatons de dinamite (mais do que todas as armas nucleares do mundo), o suficiente para aplanar o Texas ou um par de países europeus, e causar mudanças gravitacionais na Terra.

Em 23 de dezembro, o Sistema de Detecção de Objetos próximos da Terra da Universidade de Pisa (NEODyS) calculou que o objeto se aproximaria até uma distância de 780.000Km da Terra, mas sem descartar a possibilidade de impacto, dado o pouco conhecimento que se tinha de seu trajeto orbitário. Assim, a possibilidade de impacto passou para uma em 170, o que significava um valor de 2 para a Escala de Torino: a mais alta já calculada até hoje para objetos próximos à Terra. Esses dados, embora significassem que uma colisão fosse altamente improvável, foram publicados na Internet, mas devido à proximidade das festividades de Natal muito poucas pessoas, além dos astrônomos, tomaram conhecimento do fato.

No dia seguinte, véspera de Natal, novos cálculos aumentaram as possibilidades de impacto para uma em 60, levando a um valor de 4 na Escala de Torino. Esse índice significa que as autoridades devem ser notificadas quanto a uma provável colisão em menos de uma década. As probabilidades de impacto aumentaram para uma em 45. Coincidência ou não, em 26 de dezembro ocorre o abalo sísmico no Oceano Índico que causou o tsunami, e todas as atenções da mídia se voltaram para essa tragédia, embora os astrônomos continuassem atentos ao objeto espacial. Nesse dia as chances de impacto com a Terra chegaram a uma em 38 e puseram astrônomos e cientistas em polvorosa.

Eles conseguiram calcular que a mais próxima distância que o asteróide chegaria da Terra seria 60.000Km e que essa distância seria atingida na sexta-feira 13 de abril de 2.029, e que isso pode se repetir novamente entre 2.034 e 2.038, ou mais tarde. Ao meio dia de 27 de dezembro foi descartada definitivamente a possibilidade imediata de impacto do MN4, que passaria a uma distância de cerca de um décimo da distância Terra-Lua.

A NASA tem como meta identificar 90% dos cerca de 1.100 objetos próximos à Terra (NEO's) que tivessem pelo menos 1 km de distância até 2.008. Essa busca custa $4 milhões de dólares por ano e até março/05, 762 deles já tinham sido catalogados. Em primeiro de março de 2005, o Comitê de Ciência do Congresso americano autorizou a liberação de uma verba de 40 milhões de dólares em dois anos (2006-2007), para que esse catálogo incluísse todos os objetos a partir de 100 metros de largura, que devem ser cerca de 300.000. Desses, 3.625 objetos já foram catalogados.

Embora calculada a aproximação máxima para 2.029, uma margem de erro de 600 metros no cálculo de sua órbita pode fazer essa data diminuir para o ano de 2.014. Alguns cientistas estão defendendo que uma missão seja realizada para “implantar” um transmissor no asteróide para que sua órbita seja acompanhada constantemente. Alternativas como desviar a sua rota ou destruí-lo com dispositivos nucleares estão sendo cogitados, embora, no caso, o remédio possa ser pior do que a doença causando a queda de inúmeros fragmentos do asteróide ou precipitando uma colisão prematura do mesmo com a Terra.

Embora não seja comentado, talvez o disparo de 4 de julho último contra um NEO (Near Earth Object) tenha sido o começo dos testes para a eventualidade que por certo virá. Comemorada como um sucesso, a missão Deep Impact deflagrou uma atenção redobrada para com esses corpos celestes (http://impact.arc.nasa.gov/index.html).

 

Para mais informações veja:

 

O International Workshop on Impacts & Society :

 http://128.102.32.13/impact/news_detail.cfm?ID=155

Matéria do site da NASA sobre o asteróide, de 31/01/05:

 http://128.102.32.13/impact/news_detail.cfm?ID=154

Transcrição de matéria do “Washington Post”, de 09/04/2005:

 http://128.102.32.13/impact/news_detail.cfm?ID=157

Comitê de Ciência do Congresso Americano em 17/05/2005:

 http://128.102.32.13/impact/news_detail.cfm?ID=158

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