Palavras de um Artista da Paz

Homenagem veiculada no Jornal Diário do Nordeste
 
Encontrar a paz consigo mesmo é a arte essencial, da qual resultam as demais como a de saber viver o conflito e de viver em harmonia. Essas foram algumas das palavras do psicólogo francês, Pierre Weil, em sua última entrevista ao Caderno Viva, realizada por telefone em maio passado, e que precedeu sua vinda à Fortaleza, em junho, para iniciar nova turma do curso de Formação Holística de Base, pela Unipaz/Ce, no seminário ´A Arte de Viver em Paz´.

Falecido aos 84 anos de parada cardiorespiratória no último dia 10, Weil era radicado no Brasil há 30. Grande pacificista, foi fundador e reitor da Universidade Holística de Brasília, uma das pioneiras no mundo a propagar a transdisciplinaridade e comportar uma formação voltada para o ser integral.


Além de psicólogo, foi mentor da UNIPAZ, conferencista e escritor, com inúmeros livros publicados, dentre eles, ´A Revolução Silenciosa´, ´Rumo à Nova Transdisciplinaridade´ e ´Lágrimas da Compaixão´ .

Para Paulo Borges, membro do conselho gestor da Unipaz local, Weil deixou um legado importante a todos, com novas reflexões, novos valores e novas percepções do mundo. O início de sua vida, na França, foi em meio à Segunda Guerra. Suas cinzas foram espalhadas na cachoeira do Campus da Unipaz, de Brasília, dia 13.

ENTREVISTA

PIERRE WEIL*

Por que viver em paz é uma arte? É difícil se pacificar?

É porque depende muito do próprio temperamento de cada um. Há pessoas mais agitadas e susceptíveis. As diferenças individuais pesam quando surgem as tensões sociais e, então, os conflitos aparecem. É bom começar a aprender esta arte.

O diálogo contribui no bom entendimento, em geral, entre as pessoas?

Sim. Mas é importante sobretudo a consciência de si mesmo. Quando não há autoconsciência, a pessoa não percebe a agitação toda em que vive. Suas tensões provêm de conflitos internos. São partes dela mesma que se exteriorizam e, normalmente, acabam projetadas nos outros, sem que se dê conta.

Já que viver em paz é uma arte, o que ensina em seus seminários da Unipaz?

Ensinamos algumas técnicas. Uma das mais poderosa para se manter a paz interior é o relaxamento. Com o corpo e a mente relaxados, dificilmente alguém vai querer manter uma contenda. A própria meditação começa com o relaxamento e não acontece sem ele.

E as práticas físicas – suar a camisa – são importantes?

Sim, muito. Fazer caminhadas ou ginástica é muito valioso. O corpo em atividade é tensionado e, depois, naturalmente consegue relaxar. Com o relaxamento se enxerga melhor o resto e dentro de si mesmo.

O que mais também é importante na arte da paz?

Aprender a ouvir a ter empatia. Compreender o outro é um aprendizado longo, que sempre começa aprendendo a perceber a si próprio e a se escutar. Nós damos outros dois seminários, sobre a arte de viver o conflito e a arte de viver em harmonia.

Por que aprender a arte de viver em paz para depois viver o conflito?

Porque trata-se de uma arte aprender a transformar os conflitos de nossas vidas. Viver em paz não é viver sem conflitos. Aqui aprendemos a arte de transformar os conflitos em uma oportunidade de crescimento. É buscar entender o que se passa naquela situação. Sobretudo, ver que pode ser uma oportunidade de se começar a compreender o outro e de desenvolver a empatia.

Quais as dimensões abordadas na arte da paz?

Encontrar a paz consigo mesmo (no corpo, nas emoções e na mente). A paz com os outros (na economia, na sociedade e na cultura) e a paz com a natureza (nos planos da matéria, da vida e da informação). São as três dimensões da Ecologia:a ecologia interna do ser, a social, e a ambiental e planetária. O ser pacífico entra em contato com o meio ambiente, observa a natureza e toma cuidado em não destruir. É defensor da natureza e de seu equilíbrio.

*Reitor da Unipaz (falecido)

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