Deus não existe, e é a causa primária de todas as coisas

São Jerônimo, encarregado pelo bispo Damaso, de Roma, para providenciar a organização da Vulgata (tradução latina da Bíblia), não aceitou os escritos gnósticos, que chamou de apócrifos (desconhecidos, ocultos). E a Igreja os destruiu. Mas uma boa parte deles foi encontrada em 1945, em Nag Hamadi, no Egito. Esses achados e outros descobertos em Quumram intitulados “Manuscritos do Mar Morto” têm contribuído sobremaneira para com um melhor entendimento da Bíblia. Os hereges gnósticos eram reencarnacionistas e criam que nós chegaremos a Deus pelo nosso conhecimento. E Jesus pensava também assim, pois Ele disse que nós conheceremos a verdade e que ela nos libertará, o que se dará só no futuro, pois os verbos estão no futuro. De fato o nosso conhecimento e libertação acontecerão à proporção que nós evoluímos espiritual e moralmente. Quanto mais formos humildes e reconhecermos nossa pequenez atual para entendermos Deus, menos asneiras proferimos sobre Ele.

O cristianismo está às voltas e em polvorosa com os seus erros antigos, tais como o da transformação de Jesus em outro Deus e o da caracterização de Deus como pessoa, que é finita. E o pior é que ainda Lhe atribuíram três pessoas, de cuja ordem estabelecida por santo Agostinho, são Tomás de Aquino discorda. Esse grande filósofo medieval, embora se contradiga em algumas questões sobre Deus, trouxe-nos muita luz sobre o Criador. Decomponhamos o verbo latino “ex-sistere” (infinitivo) para que entendamos a visão tomista sobre Deus. “Ex” (de) e “sistere” (ser). Assim, “ex-sistere” é ser ou estar fora de, colocado fora de. Um exemplo disso é a estátua de madeira, que o artífice, ao construí-la, coloca-a fora da madeira, a qual, pois, é causada pela madeira e o trabalho do artífice.Também Jesus Cristo existe (“ex-siste”), pois é gerado, procedente ou colocado para fora de Deus. Já Deus mesmo jamais poderia vir de outro ser, pois é infinito e anterior a tudo que existe. Mas são Tomás não foi feliz, quando seguindo um dogma da Igreja, cometeu a impropriedade de afirmar que Deus é também pessoa, o que é uma aberração, pois, como vimos, pessoa é finita e existe, enquanto que Deus é infinito e não existe (“ex-site”), mas é (“siste”).

Aliás, se Deus, um dia, tivesse passado a ser também pessoa, Ele deixaria de ser imutável! E a coisa ainda ficou mais complicada, pois são Tomás aceitou três pessoas para Deus! São Tomás acabou abjurando suas idéias, pois, no final de sua vida, afirmou que tudo que escrevera era palha! Mas malgrado seus erros, devidos provavelmente ao medo da Inquisição, ele nos premiou com muitas verdades, de que vimos exemplos acima. Em “O Livro dos Espíritos”, de Kardec, Deus é a causa primária de todas as coisas, o que confere com o único Ser incontingente de Tomás. E, para o jesuíta Huberto Rohden, em “Orientando para a Auto-realização” (Ed. Martin Claret), “Deus é o ser universal”. Deus comanda o macrocosmo, e nós comandamos os microcosmos que somos. Por ser Deus, de fato, a causa primária de todas as coisas, o único ser incontingente tomista e o ser Universal, Ele abrange também pessoa, sim. Ele não é, porém, uma identidade pessoal individual, que divide e se individualiza, mas é um ser que une tudo que existe e do qual se origina tudo, pois, de fato, Ele é o único ser que “siste”, que é!

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