Embora C. G. Jung, o criador da Psicologia Analítica, tenha sido o primeiro a considerar a dimensão espiritual do ser humano no processo psicoterapêutico, o movimento que criou a Psicologia Transpessoal surgiu no final dos anos 60, com um pequeno grupo de pesquisadores, dentre eles Anthony Sutich, Abraham Maslow, James Fadiman e Stanislav Grof.
Reconhecendo a importância das dimensões espirituais da psique humana e insatisfeitos com a orientação verbal e intelectualizada das psicoterapias tradicionais, eles se concentraram no estudo da consciência, pesquisando os fenômenos e as experiências “não ordinárias” de consciência. Foi aí, então, que Stanislav Grof criou a palavra “transpessoal” para caracterizar os fenômenos e experiências que vão além do ego e transcendem os limites do tempo e do espaço.
Como a perspectiva transpessoal transcende os limites da Psiquiatria, da Psicologia e da Psicoterapia, é natural que à medida que descobertas revolucionárias de outras disciplinas, como por exemplo a física quântica relativa, a teoria holográfica, a teoria dos sistemas e da comunicação, as pesquisas sobre o cérebro, dentre outras, confirmavam os princípios da Psicologia Transpessoal, novas técnicas psicoterápicas surgissem com base nessa maneira mais ampla de conceber o psiquismo. Assim, nasceram as Psicoterapias Transpessoais, cujo enfoque é a experiência direta, também chamada “revivência” ou “vivência interior”, a interação não-verbal e o engajamento do corpo no processo total.
Nessa visão global do ser humano e dadas as características específicas das técnicas utilizadas, todo o processo psicoterapêutico vivido pelo cliente, é chamado de Expansão da Consciência. Por isso, a formação do psicoterapeuta transpessoal exige que ele viva o seu próprio processo de auto-conhecimento e transformação interior, uma vez que não se trata pura e simplesmente de uma formação teórica/técnica, que possa ser administrada via internet, como já está acontecendo.
Portanto, a palavra “transpessoal” significa muito mais que “transparente” ou “além da aparência”; significa ir além, muito além da consciência pessoal do corpo e do próprio ego – o “eu menor”, identificado como mental racional que explica e interpreta o psiquismo humano, da mesma maneira que explica e interpreta o mundo material e suas leis.
Dentre as técnicas transpessoais, as mais conhecidas são: Regressão, Re-nascimento e “Respiração Holotrópica”, que consideramos complementares como ajuda psicoterapêutica no processo de abertura e expansão da consciência.
Duas vertentes – dois enfoques
Existem atualmente, dentro da Psicologia Transpessoal, duas correntes que definem o enfoque de atuação do terapeuta ou do psicoterapeuta. Uma delas inclui as técnicas oriundas do xamanismo e a regressão a “vidas passadas”, fundamenta-se numa filosofia reencarnacionista, vinculando-se a práticas religiosas, místicas, adivinhatórias e afins. A outra, geralmente defendida por psicólogos, é desvinculada das tendências acima.
Os psicoterapeutas desse segundo enfoque da Psicologia Transpessoal, mesmo considerando sagrada a primazia da experiência individual sobre toda doutrina, religião ou teoria, fundamentam-se nas teorias do inconsciente individual e coletivo. Além de considerarem o simbolismo dos sonhos e a interação verbal importantes no processo psicoterapêutico, utilizam técnicas de regressão pelo seu conteúdo simbólico, sem classificá-lo segundo sua intensidade ou seu lugar no tempo linear. Isto, porque consideram que, por uma questão ética, as crenças individuais não devem interferir no trabalho do psicólogo.
Em que pesem os resultados atribuídos ao trabalho de uns e de outros, é importante saber que a Psicologia Transpessoal, pela sua juventude e porque suas técnicas ainda carecem de confirmação científica, não tem, por enquanto, o aval da Psicologia Tradicional.
Classificada muitas vezes como “terapia alternativa” por causa do enfoque reencarnacionista e xamânico de uma de suas tendências, a Psicologia Transpessoal significa um passo à frente para a Psicologia. Isto, porque a Expansão da Consciência não exclui nenhuma conquista anterior, ela integra e amplia o conhecimento e a consciência humana para além dos limites conhecidos.