Transpersonal Psychology

A psicologia transpessoal surgiu nos anos sessenta em resposta ao fato de que os principais modelos precedentes, as três primeiras forças da psicologia ocidental, fossem limitados em seu reconhecimento dos níveis superiores de desenvolvimento psicológico. Crescente número de profissionais de saúde mental sentia que tanto o comportamentalismo como a psicanálise tinham como limitação o serem derivados em larga medida de estudos psicopatológicos, a tentativa de generalizarem sistemas mais complexos a partir de sistemas simples, a adoção de uma abordagem reducionista da natureza humana e o fato de ignorarem determinadas áreas e dados relevantes para um estudo completo da natureza humana – tais como os valores, a vontade, a consciência e a busca de auto-realização e da autotranscendência. Sentia-se ainda que essa negligência era por vezes acompanhada de interpretações reducionistas e patologizantes inadequadas.

 

Na realidade, a perspectiva psicanalítica impossibilitou de fato a consideração ou detecção de qualquer comportamento orientado para a saúde ou por ela motivado, a não ser quando representasse uma defesa ou, na melhor das hipóteses, um compromisso com forças destrutivas básicas. Logo, motivações e comportamentos voltados para a auto-realização e a autotranscendência, e até a possibilidade de se atingirem esses objetivos, não podiam ter reconhecida a sua validade, muito embora as psicologias não-ocidentais contivessem detalhadas descrições deles. As obras completas de Freud contêm mais de quatrocentas referências à neurose e nenhuma à saúde. Por essas razões, alegava-se que os modelos comportamentalista e psicanalítico, embora tivessem dado grandes contribuições, também produziram certas limitações para a psicologia e para os nossos conceitos de natureza humana.

No início dos anos 60, surgiu a psicologia humanista para atender a essas preocupações. Ela tomou como seu principal foco as áreas do especificamente humano, em particular os aspectos associados antes com a saúde do que com a patologia. Por exemplo, os psicólogos humanistas iniciaram estudos sobre a auto-realização e acerca de indivíduos que pareciam ter amadurecido mais nessas dimensões. Sua atenção à pessoa inteira tentava evitar concepções comportamentalistas que reduzissem a experiência humana a termos mecânicos, desprezando a essência da humanidade e da experiência. Os modelos humanistas reconheceram o impulso de auto-realização, tendo explorado maneiras pelas quais isso pudesse ser promovido em indivíduos, em grupos e em organizações. Daí surgiu o chamado movimento do potencial humano, com o seu interesse em realizar os potenciais recém-descobertos de desenvolvimento e de bem-estar. Muitas idéias humanistas foram incorporadas à parcela em evolução de uma significativa contracultura, alcançando uma ponderável aceitação popular.

À medida que se tornaram disponíveis dados acerca dos limites mais amplos do bem-estar, foi se tornando ainda mais evidente a ausência de diretrizes relevantes na psicologia ocidental tradicional. Na verdade, o próprio modelo humanista começou a mostrar falhas e até o conceito de auto-realização mostrou-se incapaz de abarcar os limites mais amplos, recém-reconhecidos da experiência.

Desse modo o modelo humanista também revelou suas limitações em termos do abranger o âmbito em contínua expansão da experiência e do potencial humano reconhecido. Deve-se observar que essa admissão de limitações nos modelos representa uma fase necessária e desejável da sua evolução, fase que envolve o contínuo reconhecimento dos limites e vícios dos modelos atuais e a sua substituição por modelos mais abrangentes. O modelo de ontem torna-se um componente do de hoje; o que era contexto passa a conteúdo e o que era todo o conjunto vem a ser um elemento ou subconjunto do conjunto mais amplo. Além disso, o novo modelo não abarca tudo, podendo-se esperar que seja um quadro mais preciso e amplo da realidade que tenta descrever. Por infelicidade, com o tempo costumamos acreditar em nossos próprios modelos em vez de nos lembrarmos de que eles não passam de mapas aproximados; apegamo-nos aos nossos modelos e resistimos à sua substituição, retardando assim o processo evolutivo.

O modelo transpessoal incorpora áreas que vão além das concepções comuns do comportamentalismo, da psicanálise e da psicologia humanista. Mas, não é toda “a verdade”, e sim um quadro mais amplo do que os anteriores, devendo evoluir como todos os modelos anteriores.

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