Se morreu mesmo, não morre mais; morre-se uma vez só

São complicadas as interpretações da Bíblia. Uns abusam da literalidade, outros, das metáforas. E são lamentáveis os cortes de seus textos ou acréscimos que se lhes fazem. E um outro meio que os teólogos e tradutores da Bíblia usam para modificar o significado dos textos, a fim de adaptá-los às suas respectivas teologias, é a truncagem dos escritos bíblicos.

Bart D. Ehrman, o maior biblista do mundo atual, da Universidade de Princeton, em seu livro “O que Jesus Disse? O que Jesus não Disse?”( Ediouro), afirma que há mais de 400 mil alterações na Bíblia (já vimos isso). E uns ainda têm a ousadia de afirmar ignorante ou hipocritamente que a Bíblia é a palavra de Deus e o fazem com tanta ênfase, como se até uma vírgula dela fosse inspirada pelo Espírito Santo, que para eles é outro Deus.

E pergunto, por que a doutrina desse Deus varia tanto de conteúdo, se Deus é imutável? E que não venham com as desculpas evasivas, as quais nem mais as crianças estão aceitando. Com os teólogos do passado, porque ainda eram pouco evoluídos, temos que ser condescendentes. Mas temos que ficar, como se diz, com um pé atrás, com os teólogos de hoje que continuam sustentando os erros dos seus colegas do passado.

Os dirigentes religiosos, que detestam a doutrina bíblica judaica e cristã reencarnacionista, têm ojeriza para essa doutrina, porque manter as idéias erradas medievais do inferno mitológico é-lhes mais vantajoso. E eles têm um certo sucesso nessa sua tática, porque um grande número de seus fiéis não pensa, deixando que seus líderes pensem por eles. E isso acontece, principalmente, nos meios evangélicos.

Antes de entrarmos no assunto principal desta matéria, queremos lembrar que se discute se é de são Paulo ou não a autoria da Carta aos Hebreus. O certo é que o seu autor é defensor da teologia do sangue. E eis a sua passagem que nos interessa, isto é, Hebreus 9, 27, citado dia e noite pelos adversários da reencarnação: “Assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo…” Observe-se que o texto está incompleto. Na Bíblia, depois da palavra juízo, há uma vírgula mostrando que ele continua no versículo 28 seguinte. O que o autor de Hebreus quer ensinar é que, como o homem morre uma vez só, também o sacrifício de apenas uma só morte de Jesus foi eficaz de uma vez só por todas. O texto de Hebreus 9, 27 não pode ser separado do versículo 28 seguinte. O correto é, pois, Hebreus 9,27 e 28: “Assim como aos homens está ordenado morrerem uma vez só e, depois disto, o juízo, assim também Cristo, tendo-se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”. Isso nada tem a ver com a reencarnação. E, se há o juízo final, é porque o de depois da morte não é definitivo. Mas uma fala de Jesus não confere com a teologia do sangue redentora de Hebreus: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lucas 24,26).

E o certo é que o homem que morreu mesmo, não pode morrer de novo. Mas o seu espírito imortal jamais morre com ele, apenas sai do homem e ressuscita no mundo espiritual (Eclesiastes 12,7), donde, oportunamente, parte para nova reencarnação ou nova ressurreição na carne, para vivificar outro homem mortal de barro que vai nascer e, um dia, morrer de uma vez só por todas, pois se morre bem morrido!

 


Falando em meias verdades, há quatro coisas que chamam atenção sobre o livro de Ehrman (pág. 100): (1) O livro trata apenas do Novo Testamento, não da Bíblia inteira. (2) O número de 400 mil variantes (e não “alterações”) não é Ehrman, mas de estudiosos que ele não diz quem são. O número pode ser maior ou menor. (4) Na pág. 187, fica claro que muitas dessas variantes são acidentais, fruto de descuido de copistas. Existem mudanças propositais (estas, sim, ele chama de “alterações”), que são passíveis de identificação e correção. Aliás, isso o livro demonstra o tempo inteiro. É impressionante como num pequeno parágrafo há tantas “variantes” do que Ehrman disse. Que os leitores não fiquem achando que o Novo Testamento é um vale-tudo: é possível uma recuperação do original, ainda que não 100%.

Armando Mendes
Juiz de Fora – MG – 31/12/2008 – 10:24:48


A/c José Reis Chavez; Seria muito inteligente este seu artigo, não fosse as meias verdades nele contido. Concordo plenamente na questão da hemenêutica ou até as traduções, onde esta “teologia” moderna, no intuito de ludibriar pessoas, tem substituido as verdades, com meias verdades (Mat 24;24), más vejo em seu artigo, que o amado também tropeça em sua “sabedoria”, usando texto, que sem contexto, torna-se pretexto, e com isto fazendo apologia de algo que nenhum tradutor ousou revogar, A REENCARNAÇÃO (Leia Luca 16;19). **Hb 9;27 é claro, morendo o homem, sela seu destino, haverá juízo final, más não mudará a primeira sentença(Apoc 20;13-14). Concluindo: ao que me parece, vejo que o amado é leitor da bíblia, más por favor, busque direção deste que em seu artigo, se referiu, até num tom de arrogancia(Espírito Santo), Ele lhe direcionará a verdade. Sobre as interpretações, fico com Apocalipse 22;18-19. Um forte abraço e feliz 2.009

Benedito Cardoso
Monte Aprazível-SP – 29/12/2008 – 12:05:19

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