extraído do livro “A Sabedoria do Eu Superior“
Paul Brunton
Nosso conhecimento se limita ao que dizem nossos sentidos. Nunca alcançamos a verdade absoluta das coisas, mas somente a maneira pela qual elas afetam nossos sentidos.
O mentalismo demonstra que nossa experiência do mundo é unicamente constituída pelas idéias que dele fazemos. Essas idéias não têm existência permanente; apagam-se e são substituídas por outras que lhes são similares (embora não idênticas) e nos dão, assim, o sentimento de continuidade. O mundo que conhecemos não é, pois, imutável; está perpetuamente em renovação. Tudo, no domínio material como no domínio mental, está submetido à lei do movimento. Um movimento implica uma variação, o abandono de uma situação antiga, coisa ou pensamento e na adoção de uma nova, isto é, uma transformação. Daí resulta que o universo se parece menos a um edifício que a uma corrente. A realidade do mundo é a sua transformação incessante. A estabilidade e a solidez que nos apresentam nossos sentidos não são senão aparências. Tal é o veredito da razão. A forma tomada pela experiência humana está, pois, vincada de ilusões.
A vibração do mundo nunca pára; a energia atômica, em qualquer de suas formas, não conhece o menor instante de repouso. Nada espera. Os sábios, já há certo tempo, não dizem que a natureza se compõe apenas de coisas, mas é uma série de acontecimentos, de transformações, isto é, a natureza é um processo. Neste domínio, não podemos confiar no simples testemunho de nossos olhos, ouvidos e mãos. Somente os ignorantes acreditam singelamente que o mundo é estável e imóvel não somente na aparência. Para eles, tocar com o dedo constitui o critério último da realidade! Esta concepção é, naturalmente, essencial para a vida prática e possui, nela mesma, suas verdades limitadas. Mas, quando nos elevamos ao ponto de vista filosófico, constatamos que não resiste ao exame.
A ciência escrutou a matéria sólida e constatou que ela é, praticamente, cava. O vazio da substância material é fantasticamente imenso quando o comparamos às dimensões dos elétrons que se movem perpetuamente no interior. O que vale dizer que o solo que pisamos é quase inteiramente espaço vazio. Ao nosso sentido do tato ele é, entretanto, firme, compacto, imóvel e impenetrável. É uma ilusão devida, evidentemente, às limitações extremamente estreitas deste sentido.
A ciência nova declara que os átomos não constituem, de modo algum, a última palavra, nem a matéria a substância última, como afirmava a ciência antiga. Os átomos foram penetrados; descobriu-se que eram “ondas”. Mas ondas de quê – perguntamos. Certamente, não de matéria, mas de energia, responde ela. Um conjunto de processos dinâmicos substitui o bloco antigo de matéria inerte.
Mas, além das descobertas efetuadas no domínio da radioatividade, uma revolução tinha sido já lançada pela teoria da Relatividade e desenvolvida pela mecânica dos “quanta”. A substância do mundo não é estável; è uma série de acontecimentos dinâmicos. O universo é um “vir a ser”, não uma coisa e muito menos uma coisa material. Resumindo, vivemos em um mundo em que a realidade primeira e final não é uma coisa imóvel, mas uma força perpetuamente ativa que, fato espantoso, mas verdadeiro, toma para nós a aparência de uma coisa.