A Vida

 

Resumindo:

 

Intervalo

Sinais e sintomas

Consciência

Primeiro Bardo

Ausência de Respiração

No Observador ou total inconsciência

Segundo Bardo

Parada cárdio-respiratória e saída de líquidos corporais

No Observador, percebendo o plano astral

Terceiro Bardo

Morte do corpo físico-energético

Na psique, percebendo ou sendo englobado pelos seus obstáculos à paz mental (klesas)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 No primeiro e segundo bardos, a libertação se dá pela busca consciente da experiência da luminosidade: ‘procurar a luz no fundo do túnel’. Já a libertação no terceiro bardo, muito mais difícil devido as projeções mentais que ocorrem, depende sobretudo de um ponto central, que é detalhado no Livro Tibetano dos Mortos: a prática da ‘Grande Libertação através do Ouvir’.

 

Durante o primeiro bardo

Essa prática consiste, basicamente, em se aproveitar da capacidade perceptiva da audição superfísica, que se amplia quando a consciência se retira do corpo físico-energético, para dar instruções específicas que façam a consciência que se separou do corpo denso se lembrar do que deve fazer. Ela é útil, no primeiro bardo, especialmente quando o meditador avançado está morrendo de uma forma distraída (doenças graves, dolorosas e incapacitantes).

Assim, um ente querido (um discípulo amado, ou o mestre, ou qualquer pessoa que ele ame e confie) deve recitar, próximo ao ouvido do corpo denso que está morrendo, versos que dirijam a concentração da Consciência aos passos que ela deve seguir, para que ela não se distraia com as projeções mentais da psique, agora se livrando do corpo denso. Na impossibilidade de se estar próximo ao corpo denso, deve-se sentar em sua cama ou seu assento predileto, chamá-lo em sua consciência e falar, imaginando que a pessoa que morreu está ouvindo diante de nós.

O primeiro passo é relembrá-lo que deve se concentrar na seqüência dos sinais de morte: a ‘Espontânea Libertação dos Sinais da Morte’ (a percepção da dissolução dos elementos: a terra na água, a água no fogo, etc.). Isso deve ser relembrado durante o morrer. O objetivo é estar atento para o momento certo de ejetar sua Consciência através do nadi central (sushumna nadi), por isso essa leitura deve começar nos momentos que antecedem a cessação da respiração (momentos antes do primeiro bardo):

 

“Ó criança de nobre família (ou Senhor, se for o guru), (diz-se o seu nome), agora o tempo chegou a fim de buscar uma senda. Tão logo a sua respiração cesse, o que é chamado luminosidade básica do primeiro bardo, que o seu guru já lhe mostrou, irá aparecer para você. É a experiência do aberto e vazio espaço, luminoso vazio, a mente pura, nua, sem um centro ou circunferência. Reconheça-o, e repouse nesse estado…”%

 

Isso deve ser repetido inúmeras vezes no seu ouvido até que ele cesse de respirar. Em seguida se diz:

 

“Ó criança de nobre família, (seu nome), não deixe que os seus pensamentos vagueiem. Aquilo que é chamado de morte chegou agora e você deve adotar essa atitude: ‘cheguei ao momento da morte, por meio dessa morte escolherei somente a atitude de um estado iluminado da mente, amizade e compaixão, para alcançar uma perfeita iluminação, pelo amor a todos os seres sensíveis, tão iluminados quanto o espaço. Com essa atitude, nesse tempo específico de amor a todos os seres sensíveis, reconheço a luminosidade da morte e atingirei aquele estado de suprema realização, agirei por amor a todos os seres. Se eu não conseguir isso, irei reconhecer o estado desse bardo tal como ele é, e … irei agir pelo bem de todos os seres, influenciando-os de alguma maneira’. Se não conseguir manter essa atitude, você deve praticar qualquer forma de meditação que tenha aprendido previamente”.%

 

No momento em que ele cessa de respirar:

 

“Ó criança de nobre família (ou Senhor, se for o guru), (nome), agora a luminosidade básica está brilhando diante de ti; reconheça-a e repouse na prática. Nesse momento o seu estado mental é, por natureza, puro e vazio. Mas não é um simples vazio, é sem obstruções, cintilante e vibrante. Esses dois, a mente que é vazia e sem substância e a mente que é vibrante e luminosa, são inseparáveis: é uma luminosidade inseparável e vazia, na forma de uma grande massa de luz que não tem nascimento ou morte. É necessário que você reconheça essa natureza pura da mente”.%

 

Isso deve ser repetido, clara e precisamente, três ou sete vezes, ou até que saiam líquidos pelos orifícios do corpo. O objetivo é relembrá-lo de tudo o que já sabe e reconhecer sua própria mente como Luz.

 

Durante o segundo bardo

Se ele for um meditador avançado e houver temor de que a consciência não tenha atingido a iluminação, deve-se chamá-lo pelo nome 3 vezes e repetir as instruções para que ele perceba a luminosidade do segundo bardo. Mas para os meditadores não-avançados, deve-se relembrar-lhes seu caminho espiritual e a descrição de sua divindade particular, que representa as suas próprias características mentais e a sua prática espiritual individual.

Essa divindade particular não é a imagem de um guru, ou uma divindade protetora (istadevata no hinduísmo), mas a própria natureza básica da psique, visualizada como uma forma divina a fim de se relacionar com ela e expressar a sua plena potencialidade. É conhecida com o nome de yidam, no budismo tibetano, e escolhida pelo guru. Se o morto não o tiver, o ‘Senhor da Grande Compaixão’ (Avalokitesvara) será adequado para qualquer um.

 

“Ó criança de nobre família, medite no seu yidam, visualize-o como uma aparição sem substância própria, como a lua refletida na água; não o visualize como tendo uma forma sólida. Você pode meditar na imagem do ‘Senhor da Grande Compaixão’”%

 

Durante o terceiro bardo

Em geral, já se passou, até aqui, cerca de 24 horas do momento da morte. Mas se mesmo assim ele não reconhecer a luminosidade, violentas e confusas projeções dos karmas aparecerão e ele entrará no terceiro bardo (bardo do dharmata). O sentimento predominante na psique é o medo, a estupefação e o desespero. Chamando a pessoa pelo nome, então se fala claramente:

 

“Ó criança de nobre família, ouça cuidadosamente e sem distração: há seis estados de bardo: o do nascimento, o dos sonhos, o do samadhi, o do momento antes da morte, o do dharmata e o do vir-a-ser. Ó criança de nobre família, você experimentou o bardo do momento antes da morte (que brilhou até ontem, mas você não o reconheceu) e irá experimentar agora o do dharmata e o do vir-a-ser. Agora tem que peregrinar por aqui e reconhecer, sem nenhuma distração, o que irei mostrar.%

Ó criança de nobre família, agora aquilo que é chamado de morte chegou. Não estás só ao deixar este mundo, isso acontece a todos, portanto não sinta desejo ou anseio pela existência que cessou. Mesmo que sinta desejo e anseio, você não poderá permanecer nela, só poderá peregrinar no samsara (ciclo reencarnatório). Não deseje nada, não anseie. Relembre as Três Jóias. Ó criança de nobre família, quaisquer que sejam as terríveis aparições do bardo do dharmata, não esqueça estas palavras, mas vá em frente, relembrando os seus significado. O ponto essencial é se identificar com eles”.%

 

Sempre que houver dúvidas sobre o êxito da Libertação, o ensinamento da ‘Grande Libertação através do Ouvir’ recomenda que se recite, três ou sete vezes, a ‘Prece de Inspiração para Chamar Socorro’ seguido da ‘Prece de Inspiração para Liberação dos Perigos do Bardo’, dos ‘Principais Versos do Bardo’ e da ‘Grande Libertação através do Ouvir’.

 

PRECE DE INSPIRAÇÃO PARA CHAMAR SOCORRO

 

Segurando um incenso perfumado na mão, dizer essas palavras com intensa concentração, e repeti-las três vezes com profunda devoção:

 

‘Ó Budas e Bodhisattvas morando nas dez direções, compassivos, que a tudo conhecem, com as cinco espécies de olhos, amorosos, protetores de todos os seres sensíveis, venham a este local pelo poder da compaixão e aceitem estas oferendas materiais e mentais. %

Ó Seres Compassivos que possuem a compreensiva sabedoria, a efetiva ação e o poder protetor além do alcance do pensamento. Ó Seres Compassivos, esta pessoa, (nome), está indo desse mundo para a outra margem, ela está deixando este mundo, ela está morrendo sem escolha, ela não tem amigos, ela está sofrendo enormemente, ela não tem refúgio, ela não tem protetor, ela não tem aliados, a luz da sua vida está se apagando, ela está indo para um outro mundo, ela está entrando nas densas trevas, ela está caindo em um profundo precipício, ela está entrando numa densa floresta, ela está sendo perseguida pelo poder do karma, ela está entrando no grande deserto, ela está sendo varrida pelo grande oceano, ela está sendo impelida pelo vento do karma, ela está indo para onde não há terra sólida, ela está embarcando numa grande batalha, ela está sendo capturada pelo grande espírito do mal, ela está aterrorizada pelos terríveis mensageiros do Senhor da Morte, ela está entrando em existência após existência devido ao seu karma, ela está desamparada, o tempo chegou e ela tem de ir só, sem um amigo.%

Ó Seres Compassivos, sejam um refúgio para ela, (nome), que não tem refúgio, protejam-na, defendam-na, ajudem-na na grande escuridão do bardo, afastem-na do grande furacão do karma, que ela seja protegida do grande medo do Senhor da Morte, libertem-na da longa e perigosa senda do bardo. Ó Seres Compassivos, que a sua compaixão não seja pequena, socorram-na, não deixem que ela vá para os três reinos inferiores, não esqueçam os seus juramentos anteriores, mas rapidamente enviem o poder da sua compaixão.%

Ó Budas e Bodhisattvas, não deixem que a sua compaixão e recursos adequados sejam desviados dela (nome), seja suaves, amparem-na com compaixão e não deixem qualquer ser sensível cair em poder de um mal karma. %

Possam as Três Jóias ser um refúgio para os que sofrem no bardo”.%

 

 

OBS: no próximo e-mail “A Vida (quarta parte)” digitarei as outras orações. A “Grande Libertação através do Ouvir” compreende palavras a serem recitadas nos 45 dias que se seguem ao dia da morte, sendo muito extenso para digitar aqui, mas um resumo está no volume 2 do Órion (capítulo IV)… As Três Jóias são: o Budha (ou o princípio da iluminação), o Dharma (ou o ensinamento que proclama a iluminação) e a Sangha (comunidade que pratica o Dharma).

 

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