As atividades agropecuárias no Brasil podem crescer significativamente, contribuindo para satisfazer a crescente demanda por alimentos no planeta, sem praticar novos desmatamentos. A informação está presente no estudo Conciliando Produção Agrícola com Conservação e Restauração de Florestas, apresentado pelo professor Britaldo Soares Filho, do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais.
De acordo com o levantamento apresentado, existem 128 milhões de hectares que poderiam ser utilizados para a expansão da atividade agropecuária. Deste total, 90 milhões estariam no Cerrado e na Mata Atlântica. “O principal debate gira em torno de flexibilizar ou viabilizar o Código Florestal. Acho que devemos viabilizar”, destacou, afirmando que a legislação ambiental brasileira é uma peça “à frente de seu tempo”.
Britaldo Soares Filho lembra que o Brasil conseguiu, nos últimos anos, se tornar o terceiro maior exportador de commodities agrícolas do planeta, obtendo simultaneamente significativas reduções nas taxas de desmatamento na Amazônia. Diante desse quadro, concluiu que seria viável a agricultura brasileira seguir dando substanciais contribuições para alimentar a crescente população mundial, sem colocar em risco os recursos naturais e a biodiversidade.
O professor da UFMG elencou algumas políticas que contribuiriam para a recuperação de áreas degradadas, bem como para elevar a produtividade do agronegócio brasileiro, mas que demandariam mecanismos de financiamento mais consistentes que os atuais. Entre elas estariam projetos de sequestro de carbono, sistemas internacionais de redução de CO2, enriquecimento de espécies madeireiras em áreas de reserva legal, mercado de compensação de terras florestadas e intensificação da agropecuária.
“Nossa pecuária apresenta uma média em torno de 1,1 cabeça de gado por hectare, que poderia tranquilamente ser elevada para 1,5. Tanto que os Estados Unidos, com um rebanho de 80 milhões de cabeças, produzem mais carne que o Brasil, que tem 180 milhões de cabeças de gado”, exemplificou Britaldo Soares Filho.
De acordo com Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente de Conservação do WWF-Brasil, além do mercado de carbono, existem outras alternativas que contribuiriam para viabilizar o cumprimento do Código Florestal. Como exemplo, ele citou projetos que remuneram proprietários por recursos hídricos e apoio a indústrias verdes, como foi feito na Coreia do Sul.
Scaramuzza também lembrou que é necessário adotar soluções com embasamento científico, muitas delas já disponíveis no país a partir de estudos coordenados por instituições da mais alta credibilidade. “Temos uma condição muito interessante de apoiar o processo político de tomada de decisões sobre o Código Florestal, mas infelizmente isso não está acontecendo nesse debate. O aparato de Ciência & Tecnologia não tem sido utilizado para propor as mudanças.”, avaliou o superintendente de Conservação do WWF-Brasil.