Para muitos, meditação e retiro espiritual é coisa nova e desconhecida. Entretanto, meditação e retiro prolongado, são a coisa mais antiga da humanidade. Todos os homens que levavam a sério a sua vida faziam meditação e retiro espiritual de forma muito mais prolongada do que nós. Todos os grandes iniciados de todos os tempos e países faziam retiros de 30 á 40 dias. Moisés no alto do Sinai, Elias e Jesus no deserto. Todos eles em silêncio absoluto para poder ouvir a voz de Deus. Francisco de Assis passa dois meses, em absoluto silêncio até ter a visão do Cristo.
Mahatma Gandhi, o grande libertador da Índia, passava todas as segundas-feiras em total silêncio em plena atividade do século XX. Segundas-feiras ele não fazia e nem recebi visitas. Fazia o seu retiro semanal de um dia inteiro.
Todos os grandes gênios da espiritualidade estavam habituados à prática do silêncio prolongado. Está provado que somente num prolongado silêncio é que o homem pode ouvir a voz de Deus. Enquanto o homem fala, Deus se cala. Quando o homem se cala, Deus lhe fala.
Calar não é apenas uma cosia física, calar é uma coisa mental e emocional. Quando guardamos silêncio material, mental e emocional, quando não falamos, não pensamos e não desejamos nada, então, estamos num silêncio total.
É fácil guardar silêncio físico; é difícil guardar silêncio mental e é dificílimo guardar silêncio emocional. Não querer nada, não pensar nada é mil vezes mais difícil do que não dizer nada.
Neste retiro nós temos que guardar silêncio total, silêncio integral.
Sei que não é fácil para muitos que não estão habituados, porque nós pensamos mesmo sem saber. Nosso cérebro é uma praça pública atravessada por muitos tipos de aventureiros e vagabundos mentais e é muito difícil fazer da mente um santuário. É difícil, pois os pensamentos são rebeldes. Pouco a pouco, vamos conseguindo disciplinar os pensamentos. A maior vitória que o homem pode ter nesta vida está em poder controlar os seus pensamentos, sentimentos e emoções. Dizer sim para alguns e não para os outros.
Os nossos pensamentos são os nossos queridos e idolatrados tiranos. Com as emoções as coisas ficam ainda mais difíceis. Quando alguém consegue ser senhor dos seus pensamentos e emoções, então inicia uma vida totalmente diferente.
Há quase dois mil anos, um grande mestre disse: “Uma única coisa é necessária”. As outras coisas não são qualitativas, são quantitativas. É preciso escolher a única parte boa que nunca nos será tirada. Em breve, todas as outras cosas nos serão tiradas, daqui a poucos anos ou decênios, tudo nos será tirada… Menos uma coisa: aquilo que fazemos durante a meditação, pois isto é eterno. Isto se eterniza e se imortaliza em nossa obra. Nós levaremos conosco para todas as nossas vidas futuras o tesouro acumulado durante a meditação, durante o autoconhecimento.
Estamos aqui mais uma vez, para acumular este tesouro que nunca nos será tirado. Ficará eternamente conosco, o que nós fizermos em nosso interior, agora. O que nós temos, fazemos ou dizemos irá embora. Somente o que nós somos é que se eterniza.
Durante o Retiro Espiritual, nós não tratamos de “cochilos devocionais”. Isto nós não fazemos, isto não nos interessa. Nós estamos aqui não para fazer exercícios espirituais, estamos aqui para uma única finalidade: tomar uma nova perspectiva em face de toda a nossa vida. Uma nova perspectiva permanente – orientarmo-nos corretamente para o resto da vida. Por que essa nova perspectiva? Por que a nossa perspectiva habitual é radicalmente ilusória. Nós nos identificamos habitualmente com o nosso ego, seja o nosso ego físico, mental ou emocional. Sempre estamos no horizontalismo do nosso ego. E quase o mundo todo, passa a vida inteira nesta identificação ilusória com o seu ego. A sua carteira de identidade é o ego. Não conhece nenhuma outra forma de identidade. Precisamos abolir esta carteira de identidade do nosso ego e fazer outra com o nosso Eu. Quem sou Eu? Ainda não sabemos que é esse grande desconhecido, esse grande “X” da nossa natureza humana.
Quando viajamos de avião, a polícia nos pede a nossa carteira de identidade, sem a qual não podemos viajar. O que é aquilo que a autoridade nos exige e que chama de identidade? Não é uma identidade, é claro! Aquilo é uma alteridade. Por que eu não sou aquilo que está lá. Eu não sou isto que está lá no papel. Isto é o meu corpo, mas eu não sou o meu corpo. Isto eles chama de identidade que serve para fins sociais. Nós, porém aqui não queremos saber dessa nossa pseudo-identidade do nosso ego. Queremos saber da verdadeira identidade do nosso Eu. Não queremos saber quem sou eu, nós queremos saber que sou eu.
Queremos saber que sou eu. Está é uma pergunta altamente metafísica: Que sou eu? Esse Eu central, essa alma, esse Atman que eu sou, não que eu tenho… O meu corpo é algo que eu tenho e a minha alma é aquilo que eu sou.
Todo o nosso empenho durante o retiro deve ser: Que sou eu? A falta de consciência do nosso Eu é o nosso grande nós, porque o agir segue o ser. Se eu não tenho visão clara do meu ser como é que eu posso agir corretamente? Se o agir segue o ser, se o agir é uma conseqüência do ser, em primeiro lugar tenho que saber o que sou eu. Depois que eu tenho a exata consciência do meu ser, do meu Eu, então eu posso harmonizar o meu agir de acordo com o meu ser. Mas seu eu não sei nada do meu ser, como é que eu posso agir corretamente.
A consciência do ser se chama o primeiro e o maior de todos os mandamentos, ou seja, a mística. E o agir é o segundo mandamento semelhante ao primeiro, ou seja, a ética. Eu não posso ter uma ética correta do meu agir se eu não tenho mística verdadeira do meu ser. Isto é de absoluta lógica e de inelutável matematicidade. Eu preciso ter uma visão clara do meu ser.
No retiro nós não tratamos ainda do agir, isto vem depois do retiro. A conseqüência do ser é o agir. Agora nós tratamos exclusivamente da consciência do ser. É preciso ter uma visão clara do ser, porque todo mundo se confunde com aquilo que não é, com a sua alteridade, com o seu Alter, o outro que é o seu ego, e não sabe nada do seu Idamo, da sua identidade metafísica, eterna e ontológica do seu ser. Nós não temos que fazer nada durante este retiro do que intensificar a visão do nosso ser. O resto vem tudo por si mesmo… Buscar pela única coisa boa que não poderá nos ser tirada… Nosso Cristo Cósmico, nossa qualidade Búdica, nosso Eu Interno, o Espírito de Deus que habita em nós.
Se neste retiro conseguirmos conscientizar a Presença do Espírito de Deus dentro de nós, e se essa conscientização atingir o máximo grau da clareza, então a consciência do nosso ser espontaneamente se transforma na vivência do nosso agir – a nossa mística se transforma em ética. E não há nenhuma dificuldade na ética quando a mística chega em sua plenitude, porque toda plenitude transborda irresistivelmente. Ela não transborda em quanto não é plenitude; mas quando o copo é absolutamente cheio, então, irresistivelmente ele tem que transbordar – queira ou não queira.
Quando a nossa consciência metafísica, mística da presença de Deus em nós chega ao clímax da sua plenitude, então a ética é um transbordamento irresistível. Então nós agimos de acordo com aquilo que somos e está resolvido o doloroso problema da fraternidade universal da humanidade. Todo mundo quer estabelecer a Fraternidade Universal da Humanidade, mas todos começam pelo fim e ninguém começa pelo principio. Nós não podemos estabelecer ética verdadeira a não ser como conseqüência da nossa mística. Se eu não tenho a consciência do meu Ser, eu não posso ter a vivência do meu reto agir. Isto é absolutamente impossível.De maneira que nós apelamos para a mais rígida lógica e matemática durante este retiro:
“Eu somente quero saber por experiência própria e imediata o que sou eu? Como eu vou agir depois não me interessa agora… isto me vai acontecer, o agir corretamente me vai acontecer se a minha consciência ser chegar a sua plenitude. Esta é a única finalidade de eu estar neste Retiro”.
Isto não é um exercício de devoção é um processo de intuição cósmica do nosso ser; não de análise, mas sim de intuição. A análise é uma coisa intelectual, a intuição é um acontecimento cósmico. Devemos nos preparar para que nos aconteça à intuição, a intuição da verdade sobre nós mesmos e ela vai nos acontecer infalivelmente se criarmos em nosso interior as condições necessárias para este acontecimento. Então, devemos nos esvaziar de todos os conteúdos da nossa egoidade humana, não devemos fazer, dizer, pensar ou querer nada – somente uma vacuidade interna. Onde existe uma vacuidade, acontece uma plenitude e isso é inexorável. Se criarmos uma vacuidade, Deus nos enche com Sua plenitude. Se não formos preenchidos por Deus é que não fizemos a necessária vacuidade. A vacuidade exerce uma verdadeira “sucção” sobre a plenitude, pois a natureza não permite vacuidade. Onde há um esvaziamento, acontece uma plenificação. Onde há uma vacuidade, acontece uma plenitude.
Estamos aqui neste Retiro para construir em nós uma absoluta vacuidade da ego-consciência, para que nos aconteça a plenitude da cosmo-consciência, da cristo-consciência, da téo-consciência, da consciência búdica. Aqui nós não tratamos de mistificações e nem de mistérios. Isto é de uma clareza matemática e meridiana. As leis cósmicas funcionam com absoluta precisão. Basta que cada um de nós estabeleça a sua vacuidade, que irá ser plenificado pela plenitude do Infinito. Isto resolve todos os problemas da vida: materiais, sociais e profissionais, resolve tudo. Isto é muito bem expresso na mensagem de um grande mestre: “Realizai em primeiro lugar o reino de Deus e sua harmonia e todo o resto vos será dada em acréscimo”.
Façamos isto neste Retiro: deixar o grão de trigo morrer para viver melhor. Deixar de ser ego-vivente para ser cosmo-vivido. “Se o grão de trigo não morrer, permanecerá estéril, mas se morrer, produzirá muitos frutos”. Se não passarmos por este misterioso egocídio, eclipsando, nulificando a nossa ego-consciência, não vai acontecer esta planta maravilhosa do nosso Eu-Superior. A planta só pode brotar depois que a semente morreu. A verdade é que a vida da planta é a mesma da semente, mas na semente havia uma vida potencial e na planta há a mesma vida em forma atualizada. No nosso ego existe uma vida latente que nunca vai brotar se este ego não se decompor, se nulificar e se nadificar. É uma exigência de todos os mestres espirituais da humanidade. Algo deve morrer para que algo possa nascer. A pequena consciência do ego deve ser superada para a grande consciência do Eu possa nascer, viver, crescer e prosperar.
Esse é o nosso caminho. Nosso caminho é absolutamente certo. Todos os mestres da humanidade nos disseram. Nós já não estamos mais interessados em procurar um novo caminho. A cada momento encontramos pessoas que dizem estar tentando através de pessoas, livros e mestres encontrar seu caminho. Para nós, isto já está liquidado. Nós sabemos com absoluta certeza que nosso caminho está certo. O que nos falta não é encontrar o caminho: o que nos falta é realizar plenamente a nossa viagem no caminho já certo.
Estamos aqui para realizar a nossa viagem, para conscientizar nitidamente o que é o nosso eu divino, conscientizar a realidade da nossa divindade individual, da nossa alma e do nosso espírito. E isso se faz por meio do silencio consciente. Não num silêncio inconsciente, pois se não, caímos no transe ou na auto-hipnóse. A nossa consciência espiritual deve chegar a 100% enquanto o nosso pensamento deve descer até a 0%. O Zênite da consciência espiritual e o Nadir do pensamento mental. Isto é o que resolve. Muitos pensam que não se pode ficar consciente sem pensar nada, eles confundem pensamento com consciência. Nós temos que aprender ao poucos que podemos ficar plenamente conscientes em espírito e verdade. O 0 do ego é o infinito do eu; o nadir do ego é o zênite do eu. Nesta grande arte da meditação, vamos reduzir ao nadir a completa nulidade da nossa ego-consciência para que a cosmo-consciência nos aconteça, nos invada e nos plenifique inteiramente.
Que neste Retiro Espiritual,
Você possa estar, de maneira forte,
Alegre e saudável,
Em paz e serenidade
Amando a todas as criaturas,
Fazendo o bem,
Distribuindo boa consciência
Relevando as faltas alheias,
Manifestando em todos os pensamentos,
Palavras e gestos,
A divindade que habita dentro de você…
Muita paz!